CAMPOS BELOS – Homenagem aos 96 anos de nascimento da pioneira Justina Ferreira Cardoso.

Nos 96 anos do nascimento da avó materna, a professora Larissa Cardoso Beltrão nos faz lembrar um tantinho da vida, do cotidiano e dos costumes de uma das maiores trabalhadoras pelo Distrito Pouso Alto.

Roberto Naborfazan

No domingo, 26 de setembro, a professora universitária Larissa Cardoso Beltrão trouxe para nós, Campo-Belenses, com eco para o mundo, um resumo da vida de sua avó materna, dona Justina Ferreira Cardoso.

Com a propriedade de quem tem o sangue da pioneira nas veias, e o verbo na alma de mestra, discorreu de forma simples, amorosa e emocionante sobre sua querida ascendente, fazendo-lhe singela homenagem pelos 96 anos do nascimento da matriarca.

Dona Justina Ferreira Cardoso e seu esposo, Josino Luiz Cardoso, são parte importante da história de Campos Belos -GO. No domingo, 27, ela completaria 96 anos de idade. FOTO: Arquivo de Família.

Campos Belos – GO, em especial o Distrito Pouso Alto, deve muito a dona Justina Ferreira Cardoso e ao seu esposo, Josino Luiz Cardoso.

Seu nome não poderia ter sido colocado em local mais adequado quando da homenagem feita pelo então prefeito Neudivaldo Xavier de Oliveira Sardinha.

O local, assim como fazia Dona Justina, dá socorro e amparo a quem precisa nos momentos de dor. No distrito Pouso Alto o Posto de Saúde tem o nome de Justina Ferreira Cardoso.

Para que a nova geração Campo-Belense saiba um pouco sobre alguém que foi um dos alicerces na construção do município, reproduzimos, na íntegra, a bela homenagem feita pela professora Larissa à avó.

OS 96 ANOS DO NASCIMENTO DE DONA JUSTINA FERREIRA CARDOSO.

Por Larissa Cardoso Beltrão

Hoje celebramos os 96 anos de vida dessa pessoa que nasceu para a eternidade: Justina Ferreira Cardoso. Hoje viajo no tempo, percorro as paredes de adobe da casa na qual sua mãe, minha bisavó, Mariana Pereira Magalhães pariu um ser tão majestoso.

Volto à sua infância e a vejo correndo com os cabelos soltos ao vento. Imagino que brincou muito menos do que gostaria, sei que a lida começava muito cedo. A imagino ao lado de seu pai, pessoa tão amada pela senhora. A vejo pegando água na botija e entregando para ele no fim de um dia exaustivo de trabalho.

Alguns anos depois a enxergo como a moça que num primeiro olhar despertou a paixão de avô Josino Luiz Cardoso, que garimpou dias e meses a fio para providenciar o dote. Ando mais um pouco e vejo-a mãe de 13 filhos, nove nascituros, quatro pequenos anjos.

Num processo de aceleração do tempo, chego aos anos 90, época na qual falo do que vivi. Vejo sua combinação branca, bastante alva, por baixo de um conjunto de tecido estampado, muitos deles costurados por minha tia Gláucia.

Posto de Saúde no distrito de Pouso alto tem o nome da grande benfeitora do local. Na imagem, Neudivaldo Sardinha e familiares de dona Justina, entre eles a saudosa Cuta, por ocasião da inauguração. FOTO: Arquivo O VETOR.

Vejo a senhora, já de cabelos brancos, pele lisa, cheirinho de alfazema, sentada no banco de cimento da cozinha enorme, aquecida por um fogão a lenha. A lembrança da senhora sentada surge como flashs, a vejo muito mais caminhando do quintal para a cozinha sempre conferindo sabor aos nossos passeios.

Sexta à noite, na chegada, era dia de beiiju de massa servido com carne seca. Como a senhora se sentiria ao saber que esse prato tão típico foi “gourmetizado”, sim, virou tapioca, e faz um sucesso.

Dona da receita do dim –dim de buriti mais gostoso da vida, nossos sábados eram marcados pelas milhares de vezes que abríamos a geladeira para apreciar esse sabor que nasce naturalmente aí nas veredas que constituem, inclusive, o caráter acolhedor e resiliente de nosso povo.

Para o almoço arroz e feijão eram suficientes, inquestionavelmente dona do melhor feijão do universo, só não sente o gosto do feijão da senhora quem não experimentou. Nossas visitas transcorriam do quintal para a cozinha e entre um quitute e outro as história dos revoltosos e também dos índios tapuios que vinham sempre buscar sal no jirau.

Domingo, o último dia de visita, era marcado pela visita do padre Moreira a quem pertencia o quarto da frente. Com raríssimas exceções era proibido transitar pelo quarto do padre. Mesmo que ele não viesse e os outros quartos estivessem abarrotados de pessoas e meninos (risos) o quarto do padre era uma extensão da igreja, lugar sagrado.

O sino soou três vezes, óculos no rosto, oferta (ou esmola) na mão, fita do apostolado no peito, é dia de missa. Tempo de encontrar-se com quem hoje te acolhe onde hoje descansa na paz daqueles que viveram para amar a Deus no serviço do próximo.

Hoje estendo à senhora a bênção que muitas vezes fez chegar até mim: abençoada seja de Deus vó Justina. Celebro com muita gratidão o dom de sua vida. Na simplicidade de uma mulher que se fez forte e na pequenez de quem nasceu gigante até mesmo a morte se apequena.

Que chegue até a senhora minha prece por sua vida que hoje, alguns anos depois, se multiplica e reverbera em minha vida e na dos que virão depois de mim. A senhora é a raiz frondosa e cada um de nós seus galhos.

FOTO DE CAPA: Arquivo Prefeitura de Campos Belos – GO

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