VÍTIMA DE RACISMO “Quem elas são, não muda quem eu sou’, diz socorrista do Samu que atendeu paciente depois de ser agredida pela família.

Caso ocorreu no último dia 12 de março durante atendimento a um idoso com sequelas de AVC. Socorrista Laura Cristina Cardoso disse que “a vítima foi devidamente atendida pelas minhas mãos negras enluvadas”.

Por Patrícia Marques**

A socorrista Laura Cristina Cardoso, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), afirmou que deu assistência ao paciente mesmo depois de ter sido vítima de injúria racial durante atendimento no último dia 12, na região central de São Paulo. A família não queria que um idoso om sequelas de AVC fosse atendido por ela, por ser negra.

“Então é respirar fundo, trincar os dentes e seguir em frente. Se você está perguntando por que essas pessoas receberam o melhor tratamento possível, eu respondo: quem elas são, não muda quem eu sou”, disse Laura.

Laura, que é enfermeira da Unidade de Suporte Intermediário, contou que atendia a um chamado para socorrer um idoso que passava mal quando familiares do paciente fizeram os comentários.

“A senhora ficou meio desesperada e gritou: “E agora, filho? Ela é negra.” Aí, o filho respondeu: “Tudo bem, mamãe. Ela está usando luvas”, contou a enfermeira.

Em nota, a A Prefeitura de São Paulo, por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), disse que “lamenta o ocorrido e repudia qualquer caso de discriminação, com cunhos racistas e preconceituosos”.

Laura, que é enfermeira da Unidade de Suporte Intermediário, contou que atendia a um chamado para socorrer um idoso que passava mal quando familiares do paciente fizeram os comentários.

Laura contou que a mulher do idoso se assustou quando ela entrou no quarto para fazer os primeiros atendimentos. A socorrista disse que ficou chocada com o que ouviu, mas preferiu não reagir. Ela disse que só pensou em salvar o idoso que precisava ir para um hospital. O homem tem 90 anos e estava com rebaixamento do nível de consciência.

Em uma postagem nas redes sociais, ela contou sobre o ocorrido e disse que “a vítima foi devidamente atendida pelas minhas mãos negras enluvadas”.

“Naquela hora, vendo aquele idoso passando mal, o que eu vou responder para uma pessoa dessa? Também não reagi por causa do meu juramento. O juramento da Enfermagem é proteger a vida desde a concepção até a morte. E eu faço isso. Protejo a vida. Mesmo a vida dos racistas. Qualquer outra atitude poderia colocar a vítima em risco”, disse Laura.

Antes de iniciar o atendimento ao idoso, a equipe também foi questionada por familiares sobre a presença de um médico entre os socorristas, segundo o relato de Laura.

A enfermeira contou ainda que essa não foi a primeira vez que ela foi agredida verbalmente. “Pedem para a gente entrar pelo elevador de serviço, não tocar nos pacientes. Isso é muito comum”, contou.

Laura não denunciou o crime. O advogado Fernando Brito disse que mãe e filho podem responder pelo crime de injúria racial. O crime é previsto no Código Penal, o qual estabelece punição de 1 a 3 anos de reclusão e multa para quem ofende a dignidade de outra pessoa utilizando elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, entre outros.

Segundo dados do Conselho Regional de Enfermagem e da Articulação Nacional da Enfermagem Negra, boa parte dos enfermeiros e técnicos em enfermagem que se declaram pretos ou pardos disse que já sofreu preconceito.

Dentre os que trabalham em São Paulo, 64% dos entrevistados relataram que já perceberam racismo dentro da unidade de saúde onde eles trabalham, e 55% por cento disseram que a discriminação veio dos pacientes que eles estavam atendendo.

A maioria, 84%, não vê nenhuma prática antirracista no ambiente de trabalho.

FONTE: TV Globo (São Paulo)

Share

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *