Sucesso de Chico Xavier nos cinemas e livrarias comprova força do espiritismo

E o cinema brasileiro ganhou seu fenômeno anual. Como o iG já havia adiantado, “Chico Xavier” de fato estourou nas bilheterias e deve acumular público de 1,8 milhão de pessoas – sem contar que bateu o recorde na estréia para um filme nacional, com 590 mil espectadores. O motivo de tanto sucesso? Asimpatia pelo médium é, sem dúvida, uma das razões, assim como a qualidade da direção de Daniel Filho, mas a forte presença do espiritismo entre os brasileiros também deve ajudar. E como.

Segundo o coordenador da Federação Espírita Brasileira (FEB), Antonio Cesar Perri de Carvalho, há cerca de 30 milhões de simpatizantes no País, em todas as classes sociais, de acordo com estudos por amostragem promovidos por institutos de pesquisa no Rio. “O espiritismo penetra desde as classes mais simples às mais altas, numa intensidade muito grande. Na classe A, é quase empatado com judeus e católicos praticantes”, afirma. Parte dessa estrutura foi utilizada para promover o longa-metragem, trabalho que a entidade fez em seu portal, revista, lista de emails e junto às unidades em 27 estados.

Para Carvalho, o sucesso do filme já era esperado. “O Chico é um vulto nacional, extremamente respeitado e admirado por vários setores da sociedade brasileira. Em 2000, foi considerado o mineiro do século, superando Juscelino Kubitschek, Pelé e, dois anos depois, uma das figuras mais importantes do País.”

O diretor do portal Filme B, Paulo Sérgio Almeida, pensa da mesma forma. “Me perguntava como um grande mito da nossa história ainda não havia merecido um trabalho de fôlego e ninguém melhor do que o Daniel – que tem faro de sucesso, experiência em TV, cinema – para fazer isso. Tinha grandes chances de virar um sucesso e virou.”

Tanto virou que está tendo reflexos em outras áreas. Depois da estréia, o livro “Chico Xavier”

AHistória do Filme de Daniel Filho”, que documenta casos curiosos dos bastidores, pulou da sétima para a primeira posição no ranking dos mais vendidos na categoria de não-ficção. Em segundo lugar, outro velho conhecido das listas de best-sellers – a biografia “As Vidas de Chico Xavier”, de 2003. Ambos foram escritos pelo jornalista Marcel Souto Maior e já abriram os olhos dos envolvidos para outro produto: o DVD.

Bruno Wainer, diretor da Downtown Filmes, distribuidora do longa em parceria com a Sony, adianta que já se começou a imaginar uma estratégia diferente para a entrada do filme no mercado doméstico. “Como muita gente teve vontade de ter o livro, deve acontecer a mesma coisa com o DVD. Não pode ser um lançamento convencional”, garante.

Também responsável pela distribuição de “Lula, o Filho do Brasil”, que decepcionou nas bilheterias, Wainer comemora o sucesso de “Chico Xavier”. “Esse equilíbrio faz com que a gente continue indo em frente”, afirma. Segundo ele, a cinebiografia do presidente, apesar do apelo popular, não conseguiu afastar a imagem genérica dos políticos, “muito desmoralizada perante o público”. Não é, claro, o caso do médium.

Embora não descarte a influência do espiritismo, Wainer aposta que o sucesso de “Chico Xavier” reside no trabalho de Daniel Filho. “Modestamente, o que garantiu uma ótima segunda semana, pelo que a gente está vendo, foi a própria qualidade do filme. O boca a boca é forte e recebemos notícias de centenas de sessões aplaudidas, de gente chorando. Isso é o mais importante, o filme agradar o público.”

ESPIRITISMO “VENDE”

O centenário de Chico Xavier ainda rendeu esta semana uma homenagem na Câmara dos Deputados e, a partir de sexta- feira, será tema, em Brasília, do 3º Congresso Espírita Brasileiro. Com suas 5 mil vagas esgotadas – as inscrições foram encerradas rapidamente devido à grande procura -, o evento abrirá espaço para apresentações das equipes tanto da cinebiografia do médium quanto de outra produção, “Nosso Lar”, baseada no maior best-seller psicografado de Chico, que já teve 1,7 milhão de exemplares vendidos.

Com estréia prevista para setembro, “Nosso Lar” é apenas mais um numa fila de filmes em produção que devem chegar em breve aos cinemas. Além disso, a rede Globo começou a exibir nesta semana a novela “Escrito nas Estrelas”, também com temática espírita. Coincidência? Para o coordenador da FEB, não. “No jargão popular: nosso produto vende”, disse ele, aos risos. “Se as TVs e companhias cinematográficas estão interessadas, é porque há demanda, interesse da população pelas ideias espíritas, que nós consideramos oportuno.”

O diretor da Downtown discorda. Para Bruno Wainer, essa série de produções similares pode ser atribuída a uma espécie de “inconsciente coletivo”. “De vez em quando no mundo se vê uma onda com o mesmo tema, mas o cinema não é uma atividade de curto prazo. ‘Chico Xavier’ estava em produção anos antes de ‘Bezerra de Menezes’ estourar. Esse planejamento não é tão frio e objetivo, até porque os produtores não se falam. É curioso.”

De qualquer forma, “Chico Xavier” caminha a passos largos para ser o campeão nacional de bilheteria em 2010. Na opinião de Paulo Sérgio, o filme deve passar a marca de 5 milhões de espectadores, abaixo do recorde de “Se Eu Fosse Você 2”, também de Daniel Filho, que acumulou 6,1 milhões. “É outra situação. ‘Se Eu Fosse’ é uma comédia e estreou nas férias.

Depois do fracasso de “Lula”, Wainer tem uma expectativa mais modesta: 3 milhões de ingressos vendidos. Ele também reconhece que a prova de fogo de “Chico Xavier” será a queda de braço com os blockbusters hollywoodianos. “Neste fim de semana ainda não temos concorrência forte, mas nos próximos isso muda de figura. Veremos se o ‘Chico’ vai ter estofo para segurar esse público.”

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