RAÍZES DO QUILOMBO – Reitoria da UEG analisa concessão de titulo de Doutora Honoris Causa para dona Procópia dos Santos Rosa.

Uma comissão, composta por três conselheiros da UEG, já deu início a análise para emitir parecer sobre o processo. Essa comissão tem o prazo de noventa dias para concluir a análise. A aprovação dessa comissão promove esperança e forte comoção tanto aos professores, conselheiros e alunos envolvidos, quanto nas pessoas em todas as comunidades quilombolas Kalungas de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás, onde dona Procópia tem o respeito e a admiração de todos.

Roberto Naborfazan**

Uma das maiores lideranças da comunidade Kalunga localizada no município de Monte Alegre de Goiás, na região nordeste do estado, dona Procópia dos Santos Rosa, 89 anos de idade, tem sua indicação a candidata à receber o título de Doutora Honoris Causa sendo analisada por uma comissão eleita dentro do Conselho Universitário da Universidade Estadual de Goiás – UEG.

A indicação  foi formalmente protocolizada junto ao Conselho Universitário da Universida na Sessão plenária número 133, realizada na terça-feira, 29 de março. Sensível ao pleito, o Reitor da UEG, professor Antônio Cruvinel, imediatamente a colocou na pauta de votações da citada sessão,  sendo então instituida uma comissão, composta por três conselheiros, que passa a fazer a análise para emitir parecer sobre o processo, sugerindo (ou não) a concessão da honraria. Essa comissão tem o prazo de noventa dias para concluir essa análise.

A ideia de apresentar essa indicação surgiu na comunidade trabalhadora da unidade UEG de Campos Belos, referendada, principalmente, pelos docentes Adelino Machado e Luiz Marles, que a apresentaram ao conselheiro Marconi Burum.

Este, por sua vez, se tornou um entusiasta do projeto, e, após analisar a resolução específica, apresentou a demanda ao conselheiro André Urcino, para que ele assinasse o pedido de indicação apresentado a Comissão de pareceristas da UEG, visto ser ele um servidor da reitoria da UEG, podendo então apresentar diretamente ao presidente do Conselho a autorização do pedido, agindo dentro do prazo determinado.

A aprovação dessa comissão, que ora faz a análise do processo relacionado ao processo de Dona Procópia, promove esperança e forte comoção tanto aos professores, conselheiros e alunos envolvidos, quanto em todas as comunidades quilombolas Kalunga de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás, onde dona Procópia tem o respeito e a admiração de todos.

A matriarca Iaiá, Dona Procópia dos Santos Rosa, foi indicada, em 2005, ao Prêmio Nobel da Paz, pela luta em prol dos territórios e dos direitos dos kalungas. Agora poderá receber o titulo de Doutora Honoris Causa pela Universidade Estadual de Goiás – UEG.

Que é dona Procópia dos Santos Rosa

Filha de dona Maria e seu Manel, descendente de escravos, nascida na comunidade Kalunga Riachão, localizada à margem direita do Rio Paranã, na Chapada dos Veadeiros, no nordeste de Goiás, um lugar rodeado de serras e de difícil acesso, onde os negros fugitivos acabaram encontrando ali um lugar especial, bom de se morar e esconder, formando, assim, a comunidade kalunga, Dona Procópia dos Santos Rosa se destaca por sua força na luta em defesa de sua gente e de suas tradições.

Tudo o que ela sabe aprendeu com seus antepassados, que souberam se esconder muito bem dos brancos, mas ela conseguiu se sobressair, mantendo suas tradições e crenças. Ela não estudou, por isso não sabe ler e nem escrever, mas, em 2005, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz, pela luta em prol dos territórios e dos direitos dos kalungas. ““Não sei ler. Não sei nada de escola. Falar o que eu sinto é o que eu sei. Esse é meu estudo.”comentou Dona Procópia na época.

Esse saber natural permitiu que ela se tornasse co-autora do livro – Iaiá Procópia: Memória e Resistência Kalunga, onde, mesmo não sabendo ler ou escrever, coloca suas narrativas com tamanha clareza que permite ao autor apenas passar para o papael suas escrevivências.

Kalunga significa lugar sagrado, de proteção. E é ali, em sua comunidade, que a matriarca Iaiá, como é chamada, dá aconselhamentos, puxa as rezas, fala sobre plantação e colheitas. De rezadeira a parteira, ela não sabe quantas crianças ajudou a colocar no mundo, mas garante que foram muitas. A experiência fez com os partos tivessem sucesso, graças a sabedoria, orações, chás e remédios caseiros.

A matriarca, que sempre contribuiu para manter as tradições orais, culturais e religiosas da memória kalunga, ensinava rezas e a dança da Sussa, nascida de tradições africanas, e que reflete toda a alegria desse povo. Com um ritmo marcado pelo som da viola, do pandeiro, da sanfona e da caixa (espécie de tambor), é uma tradição que envolve toda a comunidade através da música e da dança, caracterizada por giros em que as mulheres equilibram garrafas de cachaça sobre a cabeça

Na indicação ao prêmio Nobel da Paz, Dona Procópia fez parte de uma lista de 1 mil mulheres de todo o mundo, e, destas, apenas 52 eram brasileiras. A indicação dela foi anunciada de forma simultânea para 40 países.

Dona Procópia foi a única goiana convidada para o prêmio, ganhando destaque por conseguir impedir a construção de uma barragem, no Rio Paranã, que alagaria boa parte do território kalunga. Foi por causa daquela indicação em 2005 que ela conheceu São Paulo. Foi naquele mesmo ano que Dona Procópia conseguiu levar água e energia para o Riachão. A conquista veio quando ela estava com 72 anos de idade.

Dona Procópia saiu pela primeira vez da comunidade Riachão para conhecer a cidade de Monte Alegre aos 50 anos de idade, aos 60 anos foi pela primeira vez à Goiânia lutar por melhorias na comunidade, reivindicando escola e energia, ao lado de uma amiga que já morreu.

“É uma mulher de saberes e fazeres”, afirmou a neta, Lourdes Fernandes de Sousa, de 37 anos, conhecida como Bia Kalunga. Segundo a neta, a avó é uma guerreira que não se rendeu às dificuldades. “Ela lutou e brigou tanto por nosso povo. Ela trouxe água, energia e escola para a comunidade. E ainda enfrentou e mostrou para todos nós que é capaz de superar, sempre”, revelou a neta. A escola chegou antes, em 1990.

Mãe de dois filhos, dona Procópia tem 12 netos, uns 48 bisnetos, 10 tataranetos, e mora sozinha. O marido morreu em 2010, depois de 57 anos de casados. “Não dá pra contar os bisnetos, mas é mais ou menos isso”, disse Bia.

Mesmo com dificuldades para andar e problemas na audição, por causa da idade, ela sabe da sua importância. “Quero mandar uma mensagem para as mulheres do Brasil todo. Para terem coragem, lutar, saúde para terem tudo o que elas desejarem, mas confiarem em Deus acima de tudo”. Ressalta a matriarca Iaiá.

Suas lutas são, até hoje, referência para a comunidade do Riachão que tem 68 famílias, sendo que em cada uma há uma média de cinco, seis, sete e oito pessoas, sendo a principal dessas lutas manter os costumes e tradições de seu povo.

Foi pensando nisso que a neta Bia é a atual administradora-geral do Museu Vivo Dona Procópia, um local com uma história pessoal e de seu povo. “É um local guardião da nossa cultura, da nossa história e foi idealizado por ela”, contou.

Bia é licenciada em Educação do Campo pela Universidade de Brasília (UNB), especialista em Língua Portuguesa Aplicada, poeta, escritora e professora na escola da comunidade.  “Não sei descrever meu sentimento. Cresci aprendendo com minha avó. É uma mulher que só trouxe conhecimento e ajuda para seu povo. Ela orienta, aconselha e acolhe. Ela sempre lutou pela paz e dignidade”, frisou, ao falar o que aprendeu com Iaiá (dona Procópia). O legado da matriarca é grande. Segundo Bia, todo o conhecimento da avó foi a base da necessidade, tanto dela quanto da coletividade.

Em realção ao Museu, o conselheiro da UEG, Marconi Burum, aponta que “O saber tradicional (que é o que dona Procópia passa para as pessoas, inclusive aos visitantes do Brasil e do mundo que vão conhecer o Museu Iaiá Procópia) não concorre com o saber científico. São saberes complementares. E esse saber de Procópia que tem mobilizado as pessoas de vários lugares e instituições a respeitarem o povo quilombola.” finaliza.

*** Com informações do Centro de Comunicação Social do TJGO

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Um comentário em “RAÍZES DO QUILOMBO – Reitoria da UEG analisa concessão de titulo de Doutora Honoris Causa para dona Procópia dos Santos Rosa.

  • 2 de abril de 2022 em 17:15
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    Que nQQue notícia boa, maravilhosa, Dona Procópia é una linda pessoa e ser humano… parabénsiamaravilhosvilhosa…

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