Rádio Paraíso FM: Há 36 anos dando voz e vez a comunidade de Alto Paraíso de Goiás e região.
Com a grade de programação sempre buscando inovação, com espaço para a informação, cultura, esporte, lazer, músicas, e principalmente ouvindo as demandas da comunidade e cobrando soluções do poder público, a Rádio Paraíso FM tem audiência absoluta no município, passando para a população local a sensação de pertencimento.
Por Giovanna Fannaro**
Ùltima atualização desta reportagem: segunda-feira, as 8:35h
Alto Paraíso de Goiás, na deslumbrante Chapada dos Veadeiros, abriga mais do que paisagens paradisíacas: há 36 anos, a Rádio Paraíso FM se destaca como um marco de resistência, comunicação e pertencimento comunitário.
A lei que regulamentou as rádios comunitárias foi uma grande conquista para a comunicação brasileiras, antes dessa lei todas as rádios não comerciais e que operavam sobre a nomenclatura de comunitárias ou livres (balizadas principalmente em grupos sociais), eram consideradas ilegais e profundamente perseguidas no país. São inúmeros os relatos sobre prisões e arbitrariedades promovidos contra apenas quem queria promover uma comunicação com diferencial.
O embrião da Rádio Paraíso FM, em Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, nasceu em 1992, por meio da vontade e persistência do, na época, representante comercial, Nilton Aparecido Gonçalves da Silva, que mais tarde passou a ser conhecido como Nilton Kalunga (devido ao seu empreendimento comercial, a Imobiliária Kalunga Imóveis), que também sofreu perseguições e tentativas de apreensão de equipamentos por parte do órgão fiscalizador, a Anatel.
A regulamentação do Serviço de Radiodifusão Comunitária, a radiodifusão sonora, em frequência modulada, outorgada a fundações e associações comunitárias sem fins lucrativos no Brasil se deu em 19 de fevereiro de 1998, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mas, muito antes da década de 1990, o Brasil já contava com diversas rádios que atuavam como veículo de mobilização e debate, mesmo que na ilegalidade.
No início dos anos 1990, se intensificou, em todo o Brasil, uma ação conjunta realizada por radialistas profissionais e amadores visando pressionar o governo federal e o congresso nacional para que aprovasse a Lei de Radiodifusão comunitária.
Em Goiás, essa luta teve valorosas pessoas na linha de frente, como o professor Milton, da Universidade Federal de Goiás, e Valdeci Borges, ex- presidente da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias em Goiás – Abraço-GO, e membro da Executiva Nacional da entidade, que foram também responsáveis por inserir, em 1992, o ainda jovem Nilton Kalunga nessa batalha, ao verem a sua vontade de oficializar a Rádio Paraíso FM como o meio de comunicação da Chapada dos Veadeiros.
Entre 1992 e 1998, foram enormes os desafios enfrentados para manter a Rádio no ar. O link em cima de um veículo tipo Buggy teve que ser, por diversas vezes, escondido em meio ao cerrado, em fugas cinematográficas da Policia Federal, que dava apoio aos técnicos da Anatel.
Nesse período, a rádio funcionou em uma Kombi, com o cantor e instrumentista Júnior Tana fazendo a programação musical com discos de Vinil, e também esteve alojada no Camping do músico e produtor cultural Pacatto do Alto.
Com apoio do empresário Sebastião Cabral, Nilton conseguiu uma sede provisória para a Rádio, por volta de 1995.
Atualmente a Rádio Paraíso FM é filiada a Federação das Rádios de Goiás, que tem como presidente o senhor Valdir Barbosa Nascimento.
Há vários anos, em parceria com sucessivos gestores do município, o estúdio da Rádio está instalado no mesmo prédio do Centro de Atendimento ao Turista – CAT.
Nessa época, o jornalista Roberto Naborfazan passou a contribuir voluntariamente com a limitada, mas já bastante ouvida programação da Paraíso FM. Era tudo muito precário. Por meio de ligações telefônicas, via aparelho de fax (muitos jovens nem sabem o que é isso), o jornalista transmitia, de Goiânia, as principais notícias que aconteciam em Goiás, no Brasil e no mundo.
Quando a Lei 9.612 foi aprovada, era necessário ter uma fundação ou uma associação comunitária, sem fins lucrativos e legalizada para conseguir a outorga da Rádio.
Nilton Kalunga fez então parceria com o senhor Mauro e a senhora Telma, assumindo o Grupo de Apoio ao Meio Ambiente, uma entidade civil sem fins lucrativos, que tem em seu estatuto, entre outras finalidades, a execução de serviços de radiodifusão comunitária; apoio ao meio ambiente e promover a integração das forças culturais voltadas para as áreas humanas, treinamento inerente ao desenvolvimento de grupos e indivíduos, desenvolvendo e incentivando atividades artísticas-culturais.
Desde sua regulamentação, um conselho foi criado e eleito, sendo periodicamente feita a alternância, com presença de membros das principais entidades públicas e da sociedade organizada.
Vale destacar que, antes da obtenção da outorga, a emissora se chamava Chapada FM; no entanto, de acordo com Nilton Kalunga, em conversa com o Tarólogo Edilson (recentemento falecido), foi orientado a mudar o nome para Paraíso FM, se adequando as boas energias, de acordo com a numerologia.
“Na época, com o antigo nome, os nossos aparelhos viviam queimando, dando pane, paralisando a programação por vários dias, porque tudo era mais dificil. Depois da mudança do nome para Rádio Paraíso FM, por incrível que pareça, as panes diminuiram demais e a programação passou a ter menos interrupções. Enfim, houve uma melhora significativa nas demandas da rádio”. Relata Nilton Kalunga.
Com a grade de programação sempre buscando inovação, com espaço para a informação, cultura, esporte, lazer, músicas e, principalmente visando dar voz e vez a comunidade, a Rádio Paraíso FM tem audiência absoluta, passando para a população local a sensação de pertencimento, onde a maioria das pessoas se referem a ela como “a nossa rádio comunitária”.
“Depois de tantas lutas para concretizar esse sonho de ter funcionando legalmente, com toda a documentação em dia, esse importante veículo de comunicação, não são raras as vezes em que aparecem pessoas, que não conhecem um passo da caminhada cheia de desafios que tivemos que enfrentar, com críticas maldosas, com maledicências e bravatas, querendo nos descontruir. Não sabem o quanto já investimos do nosso bolso para melhorar os equipamentos e a acústica do estúdio. Contamos certa vez com o apoio do saudoso deputado estadual Iso Moreira, que nos doou o dinheiro para comprarmos as espumas tipo casca de ovo, para isolamento acústico. Peguei minha caminhonete e fui a Goiânia comprar, com combustivel e todos os gastos de hospedagem por minha conta. Voltamos com uma carga alta, correndo risco na estrada, mas fizemos o trabalho que deu outra acústica para a rádio. Investi do meu bolso em antena de transmissão, mesa de som, equipamentos, e doei tudo para a rádio. Tomei tudo isso como missão, para contribuir com a população de Alto Paraíso de Goiás. Depois de legalizada, a Paraíso FM sempre teve diretoria e conselhos eleitos democraticamente, como a recente eleição que aconteceu no mês de novembro deste ano. Quantas vezes deixei, e deixo, meus afazeres profissionais, como corretor de imovéis, para atander a necessidades da rádio. Para quem não sabe, sou sócio-proprietário da Imobiliária Kalunga imovéis, uma empresa com mais de trinta anos de existência, e a primeira do ramo na Chapada dos Veadeiros, e por isso tenho o apelido de Nilton Kalunga. Sou mesmo intransigente com a programação e com tudo que se relaciona a rádio, porque sei o trabalho que deu para que fosse estruturada como está hoje, e não quero que a direção caia nas mãos de políticos interessados apenas em a usar em proveito próprio, ou nas mãos de aproveitadores, que querem apenas alimentar seus egos e as demandas de pequenos grupos. A rádio Comunitária pertence ao povo de Alto Paraíso de Goiás, e eu defenderei sua lisura no trabalho em prol do povo até quando Deus me permitir”. Diz, em tom de desabafo, Nilton Aparecido Gonçalves da Silva, o Nilton Kalunga.
A Rádio Paraíso FM, durante essas décadas em atividade, entrevistou diversas personalidades importantes, entre elas governadores e lideranças políticas municipais, estaduais e nacionais, artistas de renome, atletas, e membros de todos os setores da sociedade organizada.
Ao longo dos anos, o Programa Cidade no Ar, comandado por Nilton Kalunga, das 10h ao meio dia, tem sido o carro chefe da programação. Além de abrir espaço para ouvintes, autoridades e visitantes, o programa tem participações especiais voluntárias como a de agentes policiais com informações sobre segurança pública, principalmente com o repórter policial Edson Balada, o jornalista Roberto Naborfazan, editor do Jornal O VETOR, ainda participa eventualmente, de qualquer ponto do Brasil. E ainda tem as vinhetas com notícias de áreas como a política e o esporte.
Neste programa, durante anos, um voluntário marcou época e merece destaque; Pedro Sigaud, que infelizmente faleceu há alguns anos. Pedro percorria a cidade ouvindo as demandas da comunidade e cobrando soluções do poder público.
Outro programa que faz parte da grade há décadas é o Manhã Líder, comandado por Clésia Mattos. Com foco nas donas de casa, nas campanhas solidárias e nos eventos esportivos comunitários, o programa tem 100% de audiência durante toda a semana.
Clésia Mattos foi primeira locutora a se efetivar na grade de programação. Ela afirma que passou a morar em Alto Paraíso de Goiás no início de 1994, já tendo certa experiência por ter trabalhado por dois anos na Tropical FM, do saudoso Zé Cândido, em Campos Belos – GO, onde adquiriu a paixão pelo rádio.
“No ano seguinte, descobri que havia em Alto Paraíso de Goiás uma rádio pirata, porque ainda não havia rádios comunitárias legalizadas em nossa região, e quem movimentava a rádio era o Nilton Kalunga. A partir dai passei a fazer parte da programação da rádio, que na época, funcionava no Grande Hotel (Hoje Chappada Hotel). Meu filho era bebê de colo, e eu trabalhava na rádio com ele, que chorava as vezes, o Nilton a vezes perdia a paciência, mas eu sempre soube entender e levar o Nilton. Acompanhei o processo da legalização da outorga por meio do GAMA, e presenciei o empenho do Nilton, sempre a frente da diretoria, buscando organizar e melhorar a programação. As vezes não concordave com algumas coisas que ele decidia, mas sempre respeitei as decisões tomadas por ele, e sempre busquei somar para tornar a rádio no que ela é hoje. São mais de três décadas contribuindo com a rádio comunititária, e fico feliz em fazer parte dessa história, que só vem evoluindo. Sou também muito feliz em poder, durante esse período, ter contribuido na vida de várias pessoas por meio de campanhas solidárias, como na construção de uma casa, em parceria com a prefeitura, na gestão do prefeito Martinho Mendes, para a dona Marina, avó que cuida sozinha dos netos após a morte da filha; a construção da casa para a Aleildes, que ainda menor de idade precisava ter um lar; na realização de bingos, como foi para auxiliar no tratamento do saudoso Célio. Enfim, tenho enorme satisfação em saber que, por meio da Rádio Paraíso FM, nós fizemos e ainda podemos fazer a diferença na vida de tantas pessoas”, Relata Clésia Mattos.
Em período mais recente, de forma inclusiva, o jovem Diego Teles passou também a integrar a equipe da Paraíso FM, trazendo os bastidores do poder público municipal, sempre com informações atualizadas.
Alberto Pariz, Fábio Costa, Luiz Gonzaga “Cacau”, Mateus Loures e Clark Venturini completam a equipe que tem como missão fortalecer a comunicação local promovendo a integração social, estimulando a difusão de ideias, cultura e tradições, apoiando as causas sociais, e fornecendo informações em tempo real, além de promover a conscientização da população sobre seus direitos e deveres, ao dar voz a quem não tem acesso aos chamados grandes meios de comunicação.
Pessoas pioneiras no município de Alto Paraíso de Goiás apontam, em seus depoimentos, a importância da Rádio Paraíso FM para a comunidade.
Entre essas pessoas está o casal de produtores da agricultura familiar e comerciantes, Cleonice Silva Oliveira, a Chorona, e seu esposo, Antônio Oliveira, o Chorão, que além de ouvintes assíduos, estão sempre presentes nas campanhas de arrecadação para ajudar algum necessitado.
Além da produção em seu sítio, o casal tem a concessão de uma banca na Feira do Agricultor Familiar, onde as quinta-feiras e domingos, servem o melhor pastel frito na hora, com caldo de cana, e diversos outros salgados.
“A rádio comunitária Paraíso FM é muito boa e tem uma equipe de radialistas nota 10. Gosto muito de ouvir a rádio, porque ela dá as notícias sobre o que está acontecendo em nosso município, e sempre ouço também as músicas. As vezes quando vamos pra roça e não dá pra levar o rádio, eu fico sentindo falta. Mas agora que estamos abrindo uma lanchonete na estrada que vai para as Cataratas dos Couros (Parque Estadual Águas do Paraíso), onde vamos servir os salgados e pasteis, e também um franguinho caipira; vamos poder ficar ligados o dia todo na rádio Paraíso FM”. Conta Cleonice Chorona.
Outro grande ouvinte da Paraíso FM e, há vários anos, parceiro no apoio cultural, é o empresário Gladstone Barbosa Barreto. Dono da Rede de Supermercado Ponto Certo, composta pelo Supermercado Ponto Certo; Pousada Araras e Construagro Ponto Certo. Ele mantém os rádios de seus empreendimentos o tempo todo ligados na Rádio Paraíso FM.
“A rádio Paraíso FM tem uma importância muito grande como meio de comunicação em nosso município. Além da equipe comandada pelo Nilton Kalunga manter nossa comunidade informada, ainda traz muito lazer com programas musicais e esportivos. Somos parceiros do Nilton K, Fábio Costa, Edson Balada, Clésia Mattos e de todo o pessoal que também destaca os nosso empreendimentos. Então, além de toda a bela história do trabalho comunitário, tenho muita gratidão pela parceria com a rádio Paraíso FM”. Frisa Gladstone Barreto.
Outra ouvinte que faz parte da história da Rádio Paraíso FM é a empresária Antônia da Costa Siqueira, a dona Antônia do Restaurante Goiano.
Dona Antônia serve em seu restaurante, um dos mais tradicionais de Alto Paraíso de Goiás, a verdadeira comida caseira, com o frango caipira como um dos pratos principais. Aos 78 anos de idade, dona Antônia, ao lado de sua equipe, enquanto prepara o almoço de todos os dias para sua grande clientela, mantém a programção da Paraíso FM animando o ambiente.
“Eu amo a rádio Paraíso. O Nilton Kalunga é uma pessoa maravilhosa; sou uma das primeiras a dar o apoio cultural para a programação da rádio. E continuo sendo parceira, porque a rádio é uma coisa muito boa que tem em nossa cidade. Por isto sempre dou muita força para o Nilton continuar trabalhando na rádio, porque a gente precisa dela para dar as noticias, falar a coisas que acontecem na cidade. Sou muito feliz por fazer parte da história desssa rádio”. Disse, emocionada, a veterana empresária.
Quem também fala sobre a importância da Rádio Paraíso FM para a comunidade Alto-Paraísense é Rosair Francisco Ribeiro, que, ao lado de seu esposo, Gildásio Matias de Oliveira, está sempre dando e recebendo carinho da equipe de radialistas.
Rosa, como é conhecida, junto com familiares, administra o supermercado Tudo Azul, no centro de Alto Paraíso de Goiás; mas passa grande parte do seu tempo em seu sitio na região do Pé de Serra, por isso, durante a programação diária, não é raro ouvir Clésia Mattos, Nilton kalunga ou Fábio Costa mandar a “próxima música” ou um abraço para a tia Rosa, no Pé de Serra.
“Gosto muito da rádio e acho muito importante o trabalho que faz para a comunidade. São muitos anos ouvindo a Clésia, o Fábio Costa, o Nilton Kalunga e as notícias trazidas pelo Roberto Naborfazan. Essa rádio é a nossa alegria de todos os dias e tem que continuar assim”. Diz Rosair em breve depoimento.
A missão que continua
Depois de todos esses anos, Nilton Kalunga continua sendo um entusiasta da comunicação comunitária em Alto Paraíso de Goiás.
Não são poucas as vezes em que ele tira recursos do próprio bolso para manter os equipamentos funcionando e a documentação necessária para manter a outorga dentro da legalidade. Nessa área ele conta com o apoio jurídico voluntário de sua esposa, a advogada Maria Helena Brandão.
A Paraíso FM se mantém fiel ao propósito de ser uma ponte entre a população e o poder público, além de incentivar a preservação das tradições culturais e ambientais da Chapada dos Veadeiros. Em uma era digital, onde a comunicação é dominada por grandes conglomerados, a resistência e o sucesso da Rádio Paraíso FM são um exemplo do poder transformador da radiodifusão comunitária.
**Com edição e supervisão de Roberto Naborfazan
Tive a honra, em 1993, de pilotar o protótipo da Rádio Paraíso FM, ainda na Kombi do Newton K. Ele deixou eu escolher a programação e fazer a locução, pela primeira vez em minha vida. Depois, em várias ocasiões, entre os anos de1999 e 2003, comandei programas tais como o CRIATURAS DA NOITE, onde ficava até 4 horas no ar. Gratidão a todas e a todos que se dedicam em trazer Diversidade Cultural a essa Rádio Comunitária de nossa Cidade, e em especial ao Newton Kalunga, por sua visão e perseverança nessa longa caminhada. Ubirajara Júnior Tana 💫🕉️🌏