ESPIRITISMO E SATANÁS.

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O amigo Guilherme de Freitas, ex-Presidente do Detran-GO., em recente conversa comigo contou o seguinte fato: “Em certa ocasião conheci um pastor protestante que me ajudou a encaminhar um enfermo a um colega que tinha, segundo ele o dom da cura. Ao chegarmos em sua casa, por sinal humilde, na periferia de Goiânia, o proprietário atendeu o enfermo, e disse ao pastor:
-Este não tem como. A morte está anunciada e está do lado dele.
Quando o pastor comentou comigo, já longe do paciente, eu disse que iria a Palmelo tentar uma sessão de cura com o Sr. Damo.
Meu irmão: Tamanha fúria jamais tinha visto. O homem esbravejava e dizia que ali era território de Satanás e os espíritas eram seus servidores. Aí eu me revelei como espírita, e as coisas então desandaram de vez. Nunca mais o vi.”
Guilherme então, abre o jogo em relação à sua atual encarnação mostrando-se às vezes desencantado com algumas situações ocorridas. Nada sorumbático, apesar de ácido em relação à Humanidade como um todo porém muito sério diz: “Minha vida é uma sucessão de surpresas, como todas as vidas o são.
Desde muito moço, me intrigou saber ou pelo menos divisar por entre as brumas do tempo o sentido de nossa existência.
Quando não se crê, essas sombras parecem não se dissipar nunca, porque nada mais desconexo do que a existência sem fé.
Agora, a fé pela fé, ou por temor torna as coisas mais distantes ainda da razão.
Quando jovem, lembro-me de ter uma enorme crença no ser humano, acreditava que ninguém era mau de todo. Se alguém cometia algum deslize, isto era passível de reforma, a consciência traria aquele irmão de volta aos trilhos.
Hoje, amigo Roberto, percebo que não nutro o menor crédito à humanidade: o conjunto da raça humana é da mais absoluta ignomínia; a turba é de uma imbecilidade total, capaz de ações que colocam em risco a própria continuidade do planeta.
Me surpreende até hoje quanta maldade é capaz de perpetrar o ser humano.
Acredito que os espíritos inferiores devem se deliciar com essas vis criaturas.
Percebo que estamos indo de forma veloz rumo ao abismo, conduzidos por gente de má fé, incompetente e criminosa.
O que fazer? Disse-me certa vez, amigo, quando desencantado ameaçava abandonar tudo, queéramos a Pátria do Evangelho.
Acredito. Contudo não creio que alcançaremos esta meritória condição nestas próximas gerações. Estamos em estágio ainda primitivo para tal missão.
Porém, às vezes percebo alguma luz quando assistimos as revelações dos crimes acontecerem de forma cada vez mais rápida mostrando a face dos bandidos de forma inequívoca.
Pois é, amigo Roberto, aqui estão algumas das minhas impressões acerca desta minha encarnação.
Perdoa-me se pareço desencantado, mas é assim que a experiência de vida se mostra a mim.”
Logo depois, mais tranquilo, asserenado no ânimo, confessa: “Roberto, mais uma vez, seus escritos vêm de encontro aos meus anseios.
Hoje logo de manhã, estive no Cemitério Santana, para as despedidas de uma grande amiga que se fora.
Todas as pessoas que lá se encontravam olhavam comovidas para o sepulcro em que o corpo da amiga seria depositado.
Ao contrário dos demais, dirigi minhas vistas ao céu e percebi de pronto a dimensão do mundo que habitamos. Não no sentido material, mas no da Vida Maior.
Ela, minha amiga viveu em uma família de posses, de tradição e erudição. No entanto sua criação e de seus irmãos (eram cinco) se deu sob a mais absoluta simplicidade, não material, porque posses tinham, mas espiritual. O pai era meu padrinho e, em toda minha infância, seus presentes, em meus aniversários, eram os mais ansiosamente aguardados por mim porque sempre me dava livros.
Mas, como dizia, ao olhar o céu percebi que toda minha história com a Doutrina já existia antes de mim.
Eu estudei durante toda a minha infância em instituições católicas.
E nas aulas de catequese, me assustava com o medo de Deus que nos era incutido. Como um pai queria ser amado, ameaçando sua prole com castigos horrendos se não procedesse conforme o ensinamento da Igreja? Como as punições poderiam ser eternas, sem perdão, se Ele próprio nos exortava ao mesmo perdão? Era uma bagunça em minha ingênua cabeça. Eu tinha certeza de que seria conduzido inexoravelmente às profundas do inferno quando deixasse este mundo, porque a não aceitação sem questionamentos dos dogmas da Igreja implicava em blasfêmia e sacrilégio, castigados severamente pela temível divindade católica.
Aos doze anos, em uma conversa com um dos padres, o mais evoluído à época por sinal, coloquei todas as minhas dúvidas e anseios, ao que fui severamente admoestado:
– Pare com isto! Quer construir uma religião própria?
Resultado: Aos doze anos, tornei-me ateu.
E o fui convictamente até encontrar a família de minha primeira esposa, com a qual me casei já com meu primogênito “encomendado”.
A família era espírita. E a eles submetia todas as minhas dúvidas, a esta altura eivadas de ceticismo e incredulidades.
A todas elas, me respondiam docemente me indicando leituras e estudos que eu rejeitava de pronto: religião, estou fora, dizia.
Até que me chegou ás mãos o livroNosso Lar. Demorei a iniciar a leitura, o título me parecia piegas, imagine!
Finalmente, um dia tomei-o em mãos e comecei a leitura.
Ocorreu comigo o mesmo, amigo Roberto, que com você. Estava ali a explicação e o convencimento de todas as minhas incertezas. Parecia que eu já sabia, e me fora de alguma forma toldado esse conhecimento. Eu deveria redescobri-lo, digamos…
Mudaram minha vida, minhas convicções minha forma de enxergar o mundo, e embora meu temperamento imaturo e apressado às vezes ainda me faça tropeçar, sou hoje uma pessoa melhor a cada dia. Principalmente por saber que minha imperfeição é infinita, e
a escada nunca termina.”
Guilherme é neto e afilhado de um dos grandes goianos que escreveram belíssima história em Goiás: Venerando de Freitas. Ele conta sua relação com o avô e padrinho, deixando-nos, inequivocamente, a certeza de que Venerando influenciou não só a formação de caráter espartano, como também ensinou-lhe os caminhos da retidão, da seriedade e do discernimento diante das mais intrincadas questões da vida, assim: “Realmente, Venerando foi meu avô e padrinho de batismo. Sou o primogênito de seus netos e tínhamos uma afinidade que não é deste mundo.
Venerando nasceu em uma era de muita violência nestes ermos de Goiás, e veio à terra em uma família muito pobre, sendo adotado por um padre Redentorista que lhe proporcionou a oportunidade de se educar em um colégio em São Paulo. Tinha por esse padre um forte sentimento de gratidão, levando-o a dar a seu primeiro filho varão o mesmo nome do padre, Carlos.
Meu avô teve uma vida de lutas, vitórias e decepções, a começar pelo tratamento que recebia no internato. O padre Carlos apesar de ser o responsável por ele, não morava em São Paulo, mas no mosteiro Redentorista da Campininha e as recordações de Venerando de sua vida escolar e posteriormente acadêmica, eram um palco de profunda solidão e desamparo.
A vida duralhe talhou o temperamento austero porém sensível, pois que o Criador o dotou de profunda sensibilidade poética bem como uma oratória arrebatadora pela beleza no uso das palavras e força nas ideias.
Casou-se com minha avó Maria muito jovem, e com ela teve seis filhos, dos quais cinco lhe foram tirados do convívio pelo desencarne precoce.
Um deles, meu caro Roberto, o que com ele mais se parecia, desapareceu em uma temerária aventura rumo aos EUA em 1963. Voando em uma pequena aeronave (à época dizia-se Teco Teco, recorda-se?), desapareceu sem deixar vestígios na viagem de volta, estima-se sobre a Amazônia.
Era então deputado estadual, nosso Venerando. A dor toldou-lhe a religiosidade, mas não a fé. Era Maçom e dizia-me não serpossível alguém sem fé ser aceito naquela nobre instituição que amava. Me recordo que, por ser maçom, ele ficava do lado de fora da Catedral enquanto lá dentro, minha avó assistia a missa.
Mas este sentimento não o privou de amizades com clérigos, pelo contrário, era estimado por vários a começar pelos bispos e arcebispos d. Fernando e d. Antônio, Pe. Pelágio, dentre outros.
Em sua vasta biblioteca se encontravam livros psicografados de Chico Xavier, Humberto Rohden, Humberto de Campos, ao lado da Torá e do Alcorão sagrado. Passava minhas férias escolares em seu escritório, para mim um mundo inesgotável de aventuras e saber.
A dor causada pelo desaparecimento do filho adorado fez, até por necessidade de sobrevivência emocional, com que ele transferisse para mim grande parte do afeto que dedicava a meu tio, e mesmo diante dos outros netos costumava dizer que os amava sinceramente, “mas, com o Guilherme tenho mais afinidade”. Viajávamos juntos por todo esse Goiás adentro, em estradas poeirentas pousando em corrutelas onde Venerando ia plantando escolas gratuitas para a juventude do interior.
Essa afinidade era e é espiritual. Ainda hoje, decorridos vinte e um anos de sua desencarnação, meus olhos lacrimejam quando dele me recordo. Sinto sua presença em momentos importantes de decisões e escolha de caminhos a seguir. Sempre amoroso e firme, seu legado moral e espiritual marcou-me indelevelmente.
Nos meus momentos de reflexão sempre dirijo uma prece ao Altíssimo em agradecimento por ter em minha companhia um espírito de tal jaez.”
A história de pequena parte das vidas de Guilherme e de Venerando de Freitas Borges, escoima de vez a presença de satanás no Espiritismo.
O Espiritismo enxerga todos os espíritos encarnados e desencarnados como irmãos, criados pelo mesmo Pai. Assim, não discrimina a nenhum irmãozinho ainda necessitado ou sofredor, ou mesmo que cultive o mal nas suas atitudes, mas ora por todos para que se libertem das trevas interiores caminhando para a luz que vem do Alto.
O Satanás pregado pelas religiões, para nós, é apenas um espírito ignorante que está caminhando ainda por terrenos pedregosos e acidentados, mas, que mais à frente encontrará Jesus de braços abertos para abriga-lo definitivamente no seio dos Justos.

POEMA

Roberto Cury

Não fosse o dia estuando em vida
E as horas, caminhando, incessantes;
Não fossem os pássaros, voando, flamantes
E as ilusões diárias, ricas e clamantes
E eu diria, com certeza, que isto não é vida.

Não fosse o trabalho a reclamar da gente,
Dedicação, cuidado, tempo e perspicácia;
Não fossem as obrigações, os risos e a graça,
E o verde das folhas e as flores de acácia,
E eu diria, com certeza, que isto não é gente.

Não fosse a caneta a escrever no papel
E a prosa e a poesia, a canto, frementes;
Não fossem os livros, os sonhos, ideais gementes,
E os homens passando sob sóis inclementes,
E eu diria, com certeza, que a vida é um bordel.

Assim, tudo que, à Terra, transcende,
Em tudo que, ao léu, se esconde e caminha,
Desde os tempos, o mato, o ar, a avezinha,
A dor profunda, n’alma freme, se aninha;
Só a crença em Deus é que nos ascende.

Sta Helena de Goiás 14/09/1976- 16 horas.

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