DOU­TRI­NA ES­PÍ­RITA: FORAM DUAS HISTÓRIAS NUMA SÓ, EIS A TERCEIRA.

Fa­le Co­no­nos­co: rob­cury@hot­mail.com – Blog de ar­ti­gos es­pí­ri­tas: www.ro­ber­to­cury.blog­spot.comp6-espiritaA Bondade de nosso Pai Celestial é Incomensurável e Inesgotável. Assim, cada encarnação é uma nova oportunidade de resgate dos erros e de crescimento para o espírito habitante do Mundo Material. Cada um volta à Terra com missões, mas também com tarefas corretivas dos próprios erros cometidos em outras eras. Isto é, tem de cuidar de corrigir-se dos desatinos cometidos no passado, além de trabalhar, para sustento próprio e dos seus, desdobrando-se, ainda, em prol do desenvolvimento da humanidade.
Contamos a história de Zelão e de seus familiares, especialmente do Júnior, seu filho mais velho e ela agradou tanto que nos pediram que falássemos do neto.
Zelão retornara à vida encarnada como José de Arimatéia Neves Neto, nome que sua irmã deu ao filho recém nascido.
Quando seo Orestes me contou sobre a passagem de Júnior pela cidade, encantado por saber mais da vida dos irmãos dele, reuni alguns cruzeiros, umas roupas e me mandei para São João Menestrel onde confirmei que José de Arimatéia Neto renascera no dia 14 de janeiro de 1982.
Encontrei Júnior na farmácia onde fora empregado e, agora proprietário, ficando animado com o meu interesse de escrever sobre a reencarnação do seu sobrinho, resolveu me auxiliar.
Contou-me que na sua volta, se reuniu com sua irmã e seu cunhado Zezé, narrando-lhes, em detalhes, tudo o que acontecera com o pai desde a fuga de sua mãe e dos três filhos na companhia do circo mambembe, até a sua dolorosa e infame desencarnação e, também, que os três se abraçaram e choraram de tristeza, até mesmo Zezé que não conhecera o sogro, mas que sabia da história da fuga, derramara lágrimas sentidas pela injustiça da vida com aquele homem que tanto amor havia dedicado aos doentes e à sua família e só voltaram a se alegrar quando, passada a emoção, mais tranquilo, Júnior narrou-lhes que, ao fazer uma prece na cova do pai, ouviu uma voz que veio do Alto e penetrara na sua cabeça dizendo da recuperação paterna e do renascimento como filho de Lucíola. Logo depois dirigiu-se à vizinha cidade de Anginópolis, onde seu irmão Gabriel servia fardado na Força da Guarda Civil, contando-lhe a triste história do pai e seu retorno como filho de Lucíola. Novo choro, novos abraços de ambos e novo sorriso de Gabriel ao saber pelo irmão que o sobrinho era seu pai renascido.
Retomando a narrativa, assim discorreu Júnior: “Ano e meio depois, minha irmã Lucíola, deu a luz a uma menina e, instintivamente, homenageou nossa mãe registrando-a com o nome de Lucinda.
Na mesma noite do nascimento, a reunião mediúnica transcorria normalmente e estando presentes eu e meu cunhado Zezé, fomos surpreendidos pelo mentor da Casa que nos revelou tratar-se, a recém nascida, da reencarnação de nossa mãe Lucinda e que, então, na condição de irmãzinha, viera para ser perdoada e amada pelo irmão mais velho, seu ex-marido abandonado na encarnação anterior.”
Júnior continuou falando, com naturalidade e profundo discernimento, tudo o que se passara desde a sua volta, à cidade, com a notícia da desencarnação e da reencarnação de seu pai, assim: – “liguei-me ao Neto como se fosse cola de papel e só me desgrudava do menino quando ele estava na Escola ou ia dormir. Todo o tempo em que ele esteve em casa, ficávamos comparticipando. Ansiava aproveitar todos os segundos que o destino tinha me roubado anteriormente da sua amorosa presença paterna. Por outro lado, levava-o comigo para a farmácia, na certeza de que, em algum momento, sua memória se despertaria e ele voltasse a trabalhar com as poções que tão bem manipulara no passado ou que me passasse algum segredo ou detalhe das suas habilidades farmacêuticas. Analisei cada ato, cada gesto de Neto, mas, não o via como o sobrinho menino, mas, admirava-o, quase à idolatria, buscando nele o pai que eu houvera abandonado, embora me desculpasse porque, à época, nos meus oito anos era criança e não tinha o discernimento da gravidade daquela fuga passada. Desse modo, não me pesava a consciência. Ao mesmo tempo, observei como ele se ligava, carinhosa e dedicadamente à sua irmãzinha Lucinda, como se quisesse protege-la das inserções, dos perigos e das tentações do mundo ao redor. Enternecia-me a alma sabendo que se tratava do reencontro de duas sofridas almas que se viram afastadas pela loucura de efêmero sentimento egoísta daquela que fora minha mãe.
No fundo, transformara-me em pesquisador vigiando o comportamento de ambos como um sequioso cientista em busca de uma grande descoberta que nem imaginava o que fosse. Nunca vi, nem ouvi, qualquer rusga ou repreensão de Neto para com Lucinda e jamais imaginara que alguém pudesse nutrir tamanho sentimento de amor e de carinho com quem quer que fosse, especialmente entre irmãos consanguíneos.
Interessante que Lucinda parecia-me carente e que seus olhos esverdeados, se incandesciam iluminados, naquela face muito branca, cada vez que Neto dela se aproximava. Logo a seguir àquele instante de encantamento pela chegada do irmão, percebia um leve desconforto na menina, como se estivesse temerosa de alguma repreensão. Mas, com a algaravia de Neto, ela entrava em êxtase, admirando sua alegria sempre acalentada pelo carinho do irmão. À medida que ambos foram se desenvolvendo, pude acompanhar o crescimento da ternura e dos laços de união entre ambos como se Lucinda estivesse, todo o tempo, buscando proteção e Neto, cada vez mais, se revelando um sólido e verdadeiro abrigo para a irmãzinha.
E assim, os anos foram se sucedendo chegando ambos à adolescência. Neto passou no vestibular e foi estudar farmácia na Universidade Federal da Capital do Estado, vindo à casa de quinze em quinze dias sempre em final de semana e nos feriados mais prolongados. O reencontro com os pais e comigo foram marcados pela alegria, mas, os abraços e beijos na face entre os dois irmãos distinguiram-se até mesmo do carinho com os pais. Parecia que não se viam a muitos anos, quando na verdade tinham transcorrido apenas alguns dias. E, muitas vezes, nós os surpreendemos abraçados e rindo a bandeiras despregadas como verdadeiros e queridos amigos saudosos.
Lucinda terminou o curso médio, estudou e prestou vestibular em Culinária, na Faculdade recém iniciada em São João Menestrel. Formando-se, três anos depois, revelou-se uma excelente profissional, tendo sido contratada para chefiar a cozinha do Hotel Internacional, reconhecido estabelecimento cinco estrelas de um Grupo Econômico da Espanha.
Foi lá, no trabalho, que Lucinda conheceu Aguirre, um hóspede uruguaio, caixeiro viajante, que frequentemente visitava sua clientela da cidade e da região. Depois de pouco mais de ano que se conheceram, casou-se com ele indo morar na Capital.
Neto diante da felicidade da irmã, alegrou-se, mas, não conseguiu esconder um sentimento de frustração que percebi fácil quando ela comunicou à família que iria se casar. Dedicou-se então, inteiramente, à farmácia dividindo comigo todo o trabalho e, como se mostrava profundamente atento às questões ligadas à farmacopeia, revelou-se excelente manipulador de poções miraculosas, como tivera sido nosso pai.
À medida que o tempo passava, fui notando que ele estava abatido, entristecido, calado, até mesmo sorumbático. Cheguei-me a ele, perguntando se estava sentindo alguma coisa e se eu poderia ajuda-lo. A princípio sorriu-me desenxabido e nada disse. Não saiu mais nenhuma das noites, fosse durante a semana ou nos sábados, domingos e feriados. Tornou-se um recluso dentro de casa. Praticamente não conversava com ninguém.
Diante desse quadro, resolvi interpela-lo, convidando-o a ir comigo à Casa Espírita que ele, amuado, recusou meus três primeiros convites. Então me tornei mais incisivo e lhe disse: – Neto, muitos problemas que perturbaram a minha vida desapareceram, como um passe de mágica, depois que participei das reuniões de estudo e também das orações no Centro. Sem exceção, todas as vezes em que necessitamos, o mentor espiritual, nos orientou e nos confortou esclarecendo pontos que desconhecíamos, na encarnação, em razão do esquecimento do passado. Quem sabe, vai que o Mentor resolve se manifestar esclarecendo dúvidas ou solucionando questões até então insolúveis para alegria do teu ser.
A princípio olhou-me com um olhar de descrença, mas, logo a seguir, parecendo sentir firmeza na minha postura sorriu-me, abraçou-me garantindo que me acompanharia.
Já naquela noite fomos ao Centro. Assistimos a palestra do companheiro Claudinei e em seguida, após o passe e a prece final, com a evacuação natural dos frequentadores, ficamos apenas os médiuns e Neto a meu convite.
Para surpresa de todos, especialmente de Neto, o Mentor da Casa, Ricardo, através da mediunidade da companheira Isaura, esposa de Thiago, em breve prece rogou aos céus abençoasse a todos os presentes e voltando-se diretamente para o meu convidado assim se expressou: “Filho, Deus te abençoe sempre. Dói o teu coração pelo casamento e mudança de Lucinda. Mas, este foi o compromisso que firmaste com a Espiritualidade antes de renascer. De que Lucinda viria como tua irmã e que a paixão doentia que sentistes por ela através de várias encarnações era preciso ser corrigida. Por isso vieste através da tua filha Lucíola para resgatares os débitos contraídos. Com Lucíola pela tua
entrega ao álcool e a covardia de não procurar a família quando fostes abandonado pela esposa que, com ela, arrastou os três filhos. E quando eles mais precisaram de ti, Lucinda foi parar num prostíbulo, Lucíola estuprada ainda criança, Gabriel tendo de praticar furtos para se alimentar, enquanto escornavas pelas ruas embebido de álcool e recolhido no teu desengano sem nada fazer para melhorar as tuas próprias e as condições dos teus em lugar incerto, mas, que jamais levantastes uma palha para descobrir o paradeiro deles e saber se necessitavam de ti. E por Lucinda jamais buscaste corrigir a paixão desenfreada e desequilibrada a que denominavas amor, mas, que não passou do teu egoísmo acendrado e pecaminoso de achar que eras o dono dela.”
O Mentor continuou, enfático: – “assim te foi permitido voltar a reencarnar, com o compromisso de receber Lucinda, não mais como esposa, mas, como irmãzinha a quem deverias votar todo o teu amor, livre das loucuras da paixão, abrigando-a e protegendo-a com força, disposição e denodo, sem se deixar arrastar pelo vício, nem pelo desequilíbrio, permanecendo firme e pronto para servir de apoio, de sustentáculo mesmo, durante as tempestades que ainda ocorrerão na vida dela. Não pense que o casamento de Lucinda e Aguirre se transcorrerá num mar de rosas. Não, amigo, a hora dos acertos e reajustes também chegará para ambos e aí, deverás estar tranquilo, sereno prestando-te como alicerce para novas construções, tanto para ela como para ele, pois Aguirre também é nosso irmão, fragilizado por tantos erros cometidos contra tua esposa da reencarnação anterior e contra os três filhos, necessitado da compreensão e do perdão de todos aqueles que foram prejudicados nas suas andanças terrenas. Aguirre fora aquele trapezista do circo mambembe do passado. Imagine quanta confusão ainda está para surgir no cenário da tua família. Agora tens uma formação e uma estrutura que não mais deverão ruir, pois a Espiritualidade Maior confia na tua capacidade, na tua fortaleza e no teu discernimento de que conseguirás romper com os desatinos passados, consolidando uma nova postura edificante para ti e para os teus, especialmente para Lucinda, ainda uma avezinha voando sem rumo. Jamais te esqueças que o amor que teus filhos, nesta encarnação agora são tua mãe e teus tios, sempre te dedicaram, se constituiu primeiro na permissão para reencarnares na família e segundo, no elo inquebrantável entre os seres que verdadeiramente amam. Deus te abençoou e continua te fortalecendo para que sejas vencedor. Fica em paz e trabalhe.”
Neto derramou silenciosas lágrimas ao ouvir as palavras candentes do Mentor. Agradeceu-lhe os ensinamentos e garantiu que não se deixaria levar, nem pelo sofrimento, nem pela angústia, nem pela rebeldia, mas, pela tranquilidade, pela serenidade, marchando com postura firme para encarar a luta como um trabalho qualquer que lhe competia realizar.”
Júnior então disse-me que fizera o compromisso de não se casar para cuidar dos seus familiares e que Neto, ao seu exemplo, também lhe afirmara que não buscaria ninguém porque se sentia casado com as responsabilidades que lhe competiam de ser como a âncora que sustenta o navio estacionado no porto ou como a águia que vigia, do alto, todas as ações dos que estão sob seu olhar.
Dali em diante, Júnior e Neto, estreitaram, ainda mais os laços que os uniu, trabalhando juntos na botica, manipulando as poções salvadoras, permanecendo atentos a tudo, impedindo que algum acontecimento inesperado pudesse alterar a paz, a harmonia e o bem estar daquela família, além de trabalhar, com alegria e disposição na Casa Espírita em belas atividades sociais.
Ao me despedir de todos, tive a felicidade de perceber um brilho diferente no olhar de Neto, como se ele me dissesse que ficara satisfeito que eu tivesse acompanhado toda a sua vida e levasse ao conhecimento dos leitores essa extraordinária história de dor, de sofrimento, mas também, da alegria da reconquista dos valores perdidos e de felicidade pelos resultados positivos que se iniciaram e que, certamente, continuarão até o desiderato final da jornada terrena de cada encarnado quando da volta à Pátria Espiritual.

Share

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *