DESEQUILÍBRIO

Claudinei, aparentando estranha expressão física, chegou à Casa Espírita numa quartafeira por volta das 19,30 horas, surpreendendo Laurenice, a companheira encarregada de abrir o Centro e recepcionar quem ali viesse pela primeira vez.

ROBERTO CURY

Parecendo estar desnorteado e sem rumo, falando atropeladamente, quase sem se fazer entender, disse um amontoado de coisas com tanta rapidez que Laurenice ficou parada tentando raciocinar sobre o que aquele moço, bem apessoado, de terno e gravata, cabelos lisos despenteados, rosto pálido como se o sangue tivesse fugido para os pés e estivesse a ponto de desmaiar, estivera dizendo-lhe.
Aquela algaravia desconexa de Claudinei levou a recepcionista a imediatamente ligar seu alarme interior: ele estava momentaneamente desequilibrado por algum acontecimento surpreendente ocorrido naquele dia ou até a poucos momentos atrás.
Então convidou-o a entrar e a se assentar num dos bancos do salão e logo em seguida, disse- lhe: – moço, só um segundinho, vou trazer um copo com água pra você.
Dirigiu-se à sala vizinha, apanhou um copo no armário, encheu-o com água da jarra e levou- o até Claudinei, entregando- lhe nas mãos, dizendo: – beba um pouco da água. Essa água tem fluidos trazidos pelos espíritos e é capaz de tranqüilizar a alma e serenar as preocupações e desanuviar os pensamentos.
Claudinei sorveu uma golada como se a sede fosse intensa. Depois olhando para o copo murmurou baixo, quase entre dentes: – estou desesperado, nada dá certo na minha vida. Os negócios vão de mal a pior, vejo- me cercado de entidades me perseguindo e de vez em quando são animais: cães, ursos, onças, leões.
E, olhando para Laurenice, perguntou: – é verdade que aqui tem consulta com um espírito e que ele atende e responde sobre as questões mais difíceis da vida?
A moça respondeu: – sim, um espírito médico pode ser consultado aqui, mas, antes é preciso passar por uma triagem em face de que o encaminhamento para orientação com o espírito ou então, com os trabalhadores da Casa, especialmente preparados para auxiliar as pessoas, consoante os ditames da Doutrina Espírita, dependerá da questão.
Já assentado num dos bancos da Casa Espírita, Claudinei continuou trauteando com seus botões como se mantivesse uma larga conversação com vários companheiros invisíveis.
Assim que Marília, a responsável pelas triagens, chegou foi inteirada por Laurenice sobre Claudinei adiantandolhe tratar-se de um caso de profunda obsessão, pois o paciente estava matraqueando com um monte espíritos, só interrompendo a conversa quando caía num convulsivo e incontrolável choro. De repente, sem mais , nem menos, alternava o choro com gargalhadas como se acabara de ouvir a mais engraçada piada.
Marília balançou a cabeça de um lado para o outro antes mesmo de se dirigir ao paciente. Sabia que se tratava de um caso grave e media suas forças no caso da necessidade de intervenção se o paciente ou os espíritos resolvessem empreender uma agressão física a ela. Então, pensou: – melhor me prevenir com preces aos bons amigos espirituais para que me protejam se o paciente se tornar agressivo.
Recolheu-se, mentalmente, e orou pedindo proteção.
Ato seguinte, sorridente e delicadamente, convidou-o a adentrar a sala de triagem, mesmo local onde o espírito médico atende os pacientes.
Marília concitou Claudinei a dizer o que sentia e assustou-se com o que viu e ouviu.
Claudinei, falando, parecia um disco furado, ranheta e confuso, não se fazendo entender e nem se importava se era ou não entendido nas suas expressões, tal o grau de excitação em que se encontrava.
Os olhos esgazeados rodopiavam nas órbitas como que desequilibrados e em desconformidade com a firmeza do olhar de uma pessoa normal.
Marília reconheceu, facilmente, a gravíssima obsessão espiritual raiando ao estado de subjugação que se assenhoreara de Claudinei.
Não se tratava, pois, de consulta com o espírito médico, mas, sim ao trabalho inteligente e amoroso dos médiuns da Casa que muito bem sabiam trabalhar com casos de obsessão espiritual.
A triagem nem precisou ir além do primeiro diagnóstico emitido por Marília que recomendou tratamento de desobsessão, encaminhando Claudinei aos trabalhadores preparados para esses casos.
O grupo liderado por Leocádio, Presidente da Casa, marcou o primeiro bate-papo, com o obsediado, para após o passe magnético ao final da reunião pública.
Já no tratamento inicial foi detectado um grupo de desencarnados confusos que, no passado, se comprometeram com o obsediado numa sucessão de erros, quase todos voltados para a ambição desmesurada e as negociações de engodo visando enriquecerem-se à custa de pessoas mais simples e humildes.
O grupo de desobsessão marcou, então, fluidoterapia nas próximas cinco quartas-feiras e evocação espiritual dos obsessores, na ausência do obsediado, todas as quintas-feiras, já a partir do dia seguinte.
Em menos de 2 meses de tratamento, Claudinei já sorria, livre dos problemas que acentuaram a sua chegada na Casa Espírita.
No mês seguinte, engajavase no trabalho como simples trabalhador desde a recepção até os bate-papos da TBC (Turma da Boa Conversa) ao final das reuniões públicas.
Claudinei neste ano de 2011, participa, pela primeira vez, do Planejamento Anual da Casa, mostrando-se alegre e feliz como se sempre o fora, ficando a obsessão esquecida no tempo como deve acontecer sempre que obstáculos são superados.
Com a alegria estampada sempre no semblante, os trabalhadores da Casa Espírita demonstram que Jesus ao vencer a impiedade mostrou-lhes que o Bom Combate é aquele que jamais fere quem quer que seja e que o exemplo das virtudes torna o Bem vencedor do Mal.

CONTO
AS TRÊS PENEIRAS
Um dia, alguém viu Sócrates e lhe disse: -Sócrates, preciso te contar como o teu amigo se comportou.

-Espera! Interrompe o sábio. – Passaste o que queres me dizer pelas três peneiras?
-Três peneiras? – disse o outro, tomado de espanto.
-Sim, meu bom amigo: três peneiras. Examinemos se o que tens a me dizer pode passar pelas três peneiras. A primeira é a da verdade. Controlaste se o que queres me contar é verdadeiro?
-Não, ouvi dizer e…
-Bem, bem. Mas por certo a fizeste passar pela segunda peneira. É a da bondade. O que desejas me contar, embora não seja propriamente verdadeiro, é ao menos uma coisa boa? Hesitante, o outro responde:
-Não, pelo contrário…
-Hum! Diz o sábio. – Tentemos nos servir da terceira peneira, e vejamos se é útil me contar o que queres me dizer…
-Útil? Não exatamente.
-Pois bem – diz Sócrates sorrindo. – Se o que tens a me dizer não é verdadeiro, nem bom, nem útil, prefiro não saber, e, quanto a ti, aconselho que o esqueças. (Apólogo Grego).
AUTOR DESCONHECIDO
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ROBERTO CURY

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