CAMPOS BELOS – O drama dos renais crônicos e o desgaste na ambulânciaoterapia.

Depois de denúncias feitas por pacientes em Campos Belos, é preciso debater o assunto e provocar as autoridades, em todos os níveis de poder, sobre como anda a área da saúde no nordeste goiano.

Roberto Naborfazan

O sistema público de saúde no Brasil, apesar do esforço da grande maioria dos trabalhadores na área, é caótico.

Criado em 1988 pela Constituição Federal Brasileira, que determina que “é dever do Estado garantir saúde a toda a população brasileira”, o SUS –Sistema Único de Saúde,  teve aprovada em 1990, pelo Congresso Nacional, a Lei Orgânica da Saúde, que detalha o funcionamento do sistema e instituiu os preceitos que seguem até hoje.

A criação do SUS proporcionou o acesso universal ao sistema público de saúde, sem discriminação. A atenção integral à saúde, e não somente aos cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos os brasileiros, desde a gestação e por toda a vida, com foco na saúde com qualidade de vida, visando a prevenção e a promoção da saúde. É um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, abrangendo desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país.

A Casa de Apoio Coração Solidário atende pacientes de Campos Belos e de vários outros municípios.

Infelizmente, a má gestão dos recursos, em todos os níveis, por grande parte dos administradores, ao longo dos 33 anos de sua criação, transforma a vida do cidadão contribuinte em uma via crucis, colocando em suas costas, no momento que ele mais precisa do Sistema, uma cruz de peso quase insuportável; por mais que se esforcem, como já dissemos, a grande maioria dos servidores públicos.

Porque dissemos a maioria? Porque existe uma minoria que não vai ao trabalho, vai ao salário. Quer dizer, chegam ao local de trabalho com mau humor, com má vontade em tudo, doidos para acabar o horário e que chegue o fim do mês para receber um salário que não merecem.

Há desvios de verbas e materiais de todas as formas e maneiras, em Hospitais públicos e particulares conveniados, enriquecendo, de maneira torpe e covarde, uma malta sem escrúpulos, infiltrada em todos os poderes.

Os pequenos municípios são os que mais sofrem, porque na divisão do bolo federal, a base, invariavelmente, é o censo populacional feito pelo IBGE, sempre defasado.

Há municípios, por exemplo, que recebem recursos federais para manter dez mil habitantes, quando na realidade assiste a mais de quinze mil pessoas.

O Blog do jornalista Dinomar Miranda trouxe nesta terça-feira, 30, uma série de reclamações de pacientes renais crônicos que moram no município de Campos Belos, no extremo nordeste goiano, e que fazem suas sessões de hemodiálise em Formosa, no entorno de Brasília, tendo que percorrer, três vezes por semana, aproximadamente 700 km entre ida e volta a cada dia.

Entre as principais reclamações feitas por pacientes e acompanhantes, segundo noticiado pelo jornalista Dinomar Miranda em seu Blog, estão a precariedade nos veículos de transporte, desorganização de horários na Clinica em Formosa, acomodação e a relação com os profissionais de saúde.

Em relação ao transporte, é preciso lembrar que esses pacientes e seus acompanhantes passam, ao menos, 30 horas durante a semana dentro desses veículos.

Segundo o jornalista Dinomar Miranda, seu Blog tem recebido também, quase todos os dias, reclamações de cidadãos, usuários, pacientes e acompanhantes do serviço público de saúde de Campos Belos, que necessitam do amparo da Casa de Apoio na capital do estado, Goiânia. “A insatisfação começa com a grande dificuldade em se conseguir uma vaga nos veículos, que, semanalmente, fazem o trajeto até a capital.” Cita o jornalista.

Ele mostra como exemplo a paciente Janaína Bento Barbosa, que trata de um agressivo câncer na boca e afirma que tem de “pedir pelo amor de Deus” para arrumar transporte e que é péssimo o abrigo em Goiânia por parte da Casa de Apoio.

Uma outra mamãe, ainda segundo o Blogueiro, fala que na Casa de Apoio de Goiânia há muita gente, pacientes e acompanhantes demais, falta camas, cadeiras de acomodação, organização e informações; além de outros serviços que tem tornado a permanência no local insuportável.

Em um contexto mais amplo, o jornal O VETOR procurou a Chefe de Divisão do Complexo Regulador de Campos Belos, Monia Reges, que é também responsável pelas viagens eletivas para Tratamento Fora do Domicílio (TFD) para obter maiores esclarecimentos.

Monia Reges afirma que tanto ela, quanto toda a equipe, busca trabalhar com excelência e dar a atenção que todos merecem, fazendo o possível para atender bem a todos os pacientes, levando em consideração que todos que os procuram estão em um momento delicado de suas vidas, que é a questão da saúde.

“Infelizmente, nem sempre é possível atender da forma que eles gostariam, mas de maneira geral todos são atendidos. Tentamos dinamizar da melhor forma possível os recursos que temos para trabalhar”.

Monia esclarece também que, em relação a reclamação do paciente de que alguns deles ficaram até a noite na Clinica de Hemodiálise em Formosa, foi um caso eventual acontecido na segunda-feira, dia 29 de novembro.

“Nosso principal veículo para o transporte exclusivo dos pacientes que fazem hemodiálise é uma Van, com capacidade para quinze passageiros. Infelizmente esse veículo teve problemas mecânicos e está na oficina. Atualmente temos seis pacientes utilizando o transporte, um deles precisa de acompanhante. Por isso, nos colocamos dois veículos com capacidade para seis passageiros cada,  a disposição, um leva três e o outro quatro pacientes toda segunda, quarta e sexta-feira.” Relata.

“Em relação ao ocorrido no dia 29, nós temos uma parceria com a secretaria municipal de saúde de Monte Alegre, que tem dois pacientes que vão para a mesma Clinica em Formosa. Como geralmente na quarta-feira a paciente que precisa de acompanhante não vai, usamos essa parceria para levar dois de nossos pacientes, como aconteceu ontem. Ao chegaram a clinica, no horário costumeiro, os pacientes souberam que houve um imprevisto com o médico, e tiveram que esperar até as 17 horas para dar inicio a sessão de hemodiálise, mas isso foi uma coisa eventual, um imprevisto que raramente acontece. Como o motorista do veículo de Monte Alegre teve que ir a Brasília, e pegou um engarrafamento, atrasou a volta dos dois pacientes deles e dos nossos dois  pacientes por quarenta minutos.” Esclarece Monia.

“Em relação a Casa de Apoio, a lotação se dá pela quantidade de pacientes que tem procurado esse benefício no momento, tanto de nosso município, quanto de outros que a procuram, mas todos são abrigados, com café da manhã, almoço e jantar. Nunca deixamos um paciente na porta de hospital para que ele procure abrigo por sua conta. Nós estamos trabalhando com amor e dedicação, mas infelizmente existem limitações, como na maioria dos municípios brasileiros. Agradeço a toda comunidade que tem a boa vontade de chegar até a gente e apontar onde podemos melhorar.  A nossa intenção é atender bem, principalmente pessoas que estão em momentos delicados da vida.” Finalizou Monia Reges.

O prefeito Pablo Geovanni enviou um áudio ao Blog do Dinomar Miranda, esclarecendo alguns pontos. O jornal O VETOR teve acesso ao conteúdo.

“Quantos aos fatos que estão sendo falados, os prints vagos, conversas estão sendo faladas, até mesmo os vídeos, imediatamente, assim que eu soube, procurei mais informações. Aquelas imagens apresentadas no vídeo não tratam da Casa de Apoio que tem contrato entre a secretaria de saúde com a Casa de Apoio Coração Solidário. É dependência de outra outras instalações que ficam em Anápolis, onde Campos Belos não tem nenhum tipo de convênio. Essas demais insatisfações que tem, essa Casa da Apoio, ela oferta para mais não sei se são seis municípios, não sei se tem outros municípios que têm contratos, por exemplo, Rio Quente, São Miguel do Araguaia, São Domingos, tem  outros municípios que tem convênio, então são vários outros municípios. Eu entrei em contato, e é importante frisar que se tivesse acontecido, eu fiz um levantamento rápido, foram atendidas mais ou menos, cerca de três mil diárias nesse intervalo entre janeiro até a presente data. São 250 diárias por mês ofertadas a população de Campos Belos, desde que passadas no Complexo de Regulação, e agora, n’um momento desses, que está sendo veiculada. Alguns dos casos, não vou dizer todos, que é natural no serviço público ter insatisfações, tá lidando com pessoas né, e as vezes as pessoas não ficam satisfeitas, existem funcionários e servidores que não conseguem agradar a todos. Mas, de uma forma geral, o serviço são prestados com qualidade, a gente tem acompanhado, é algo que eu insisto, Essa regulação é feita pela Monia lá no complexo, há uma pessoa também em Goiânia, que fica para atender as pessoas em exames, marcações de consultas, como por exemplo o Altair, que é o professor Altair, e a Casa de Apoio também tem um atendimento. É importante frisar que esse contrato que o município tem, da Casa de apoio, é R$ 65,00, se não me engano, é R$ 65,00 ou é R$ 75,00, não sei precisar exatamente o valor aqui, é o valor que é ofertado café da manhã, almoço, jantar e um transporte lá dentro de Goiânia. É um valor realmente acessível. Agora, quanto ao transporte, que as vezes têm reclamações de que a Van estaria dura, enfim, trata-se de um veículo do município, que nos recebemos em uma frota sucateada, e nós temos trabalhado, diuturnamente, em busca de emendas para fazermos um transporte com qualidade para os passageiros, para os pacientes que precisam dessa atenção na área da saúde. Não só para Goiânia, como também para os pacientes que utilizam a nossa frota para o transporte da hemodiálise. Vou me reunir com a Cleide, cobrar uma posição por parte disso, mas eu fiz questão de levantar, e essas são as informações que eu tenho a passar para o Dinomar” diz o áudio enviado pelo prefeito ao Blog do Dinomar Miranda.

Clinica INEB, em Formosa, onde os pacientes renais crônicos de Campos Belos fazem suas sessões de hemodiálise.

O Jornal O VETOR buscou ouvir também a gerência administrativa da Clinica INEB, onde os pacientes de Campos Belos fazem hemodiálise.

Segundo o gerente administrativo da Clinica, Luan Cardoso dos Santos, os pacientes renais crônicos de Campos Belos iniciam suas sessões de hemodiálise na Clinica todas as segundas, quartas e sextas-feiras ao meio dia e terminam as dezesseis horas.

Questionado se há frequência na falta de médicos para acompanhar os pacientes que realizam hemodiálise na Clinica, como aconteceu na segunda-feira, dia 29, Luan Cardoso afirma que o que aconteceu foi um episódio atípico.

“Nós temos vários médicos que trabalham conosco. Na segunda-feira, próximo do horário dos pacientes de Campos Belos, o médico que estava escalado para o plantão teve um contratempo e não pode vir. Como os pacientes já estavam na estrada, não tivemos como os avisar para que chegassem mais tarde, porque eles saem muito cedo da cidade deles devido a distância. Mas contatamos outro médico, já que sem ele não é possível e nem permitido começar as sessões, e realizamos a hemodiálise nesses pacientes a partir das dezessete horas. No período de espera, os pacientes foram acomodados, preparamos lanche especialmente para eles, que ficou o tempo todo a disposição deles, servimos pão com carne, suco, café, café  com leite. Fui eu mesmo que comprei e deixei a disposição deles durante todo o tempo que eles esperaram o horário deles.” Esclarece o gerente administrativo.

Luan Cardoso lembra ainda que, todos os dias, durante as sessões, todos os pacientes recebem lanche. Ele frisa também que a Clinica INEB busca prestar um serviço com excelência, com médicos presentes, não permitindo nunca que um plantão seja iniciado sem a presença de um deles. Por fim, ele afirma que os pacientes são atendidos com o respeito e atenção que suas limitações físicas exigem.

O jornal O VETOR tem acompanhado a dificuldade de pacientes que saem do interior para tratamentos médicos e não têm outra opção que não seja as Casas de Apoio.

Em geral, os proprietários dessas casas são pessoas com conhecimentos ou ligadas a área da saúde, que fazem contratos com prefeituras por todo o estado, no objetivo e compromisso de acomodar os cidadãos que vêm a capital.

Acontece também de alguns políticos “criarem” suas Casas de Apoio em Goiânia, para acomodar pacientes enviados por seus correligionários do interior.

A realidade é que, por se comprometerem com vários municípios, a lotação, e as vezes super lotação, é frequente.

Já ouvimos de alguns pacientes que, sem a Casa de Apoio ele teria que ficar na rua, pois não têm parentes e nem conhecidos na capital, que ruim com a Casa de Apoio, pior sem ela. No entanto, em determinados casos, como retorno pós-cirúrgico em patologias mais agressivas, o ideal seria que os municípios tivessem um caixa especial para pagar, excepcionalmente, diárias em pensões, com melhor acomodação.

Na questão do transporte de pacientes, a chamada ambulâncionaterapia, infelizmente, em quase todo o Brasil, as pessoas enfrentam dificuldades. Seja pela enorme quantidade de pessoas que precisam se locomover para os grandes centros em buscas de tratamentos, seja pela falta ou qualidade dos veículos, entre outros fatores.

No caso dos pacientes que precisam fazer hemodiálise, o ideal (dentro da situação brasileira) é que se tivesse uma Clinica a cada 200 km, no máximo. Só quem passa por uma sessão de hemodiálise sabe o quanto a pessoa sai debilitada da máquina. A vontade é de chegar em casa e deitar. Imagina terminar a sessão e entrar em um veículo saculejante e viajar mais aproximadamente 400 km de volta para casa, como é o caso dos pacientes de Campos Belos.

Por uma Clinica de Hemodiálise em Campos Belos já. Essa deve ser a luta e o foco.

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