ARTIGO – A ORIGEM DO FOGO É O PROIBICIONISMO!

Marcelo Goulart Aguiar Marques**

Todos são a favor da preservação da natureza e sabemos que o fogo hoje na Chapada é meramente criminoso. O fogo é um elemento natural do cerrado, existem mecanismos biológicos que se adaptaram e até mesmo dependem dele. Ele só acontecia acidentalmente (acidente natural ou não). Mas como se tornou um problema dessa dimensão?

Antigamente, os criadores de gado traziam seus rebanhos coletivamente para as terras mais altas na época da seca, ateando fogo para a rebrota do capim alimentar o gado. Isso de forma monitorada, sem deixar o fogo se alastrar, e variando o caminho a cada ano.

Com a criação do PARNA-CV isso foi interrompido sem considerar o manejo tradicional local, ou oferecer um novo para substituir. As terras desapropriadas das famílias locais até hoje não foram indenizadas e estão emaranhadas em processos que se alongam há décadas.

Depois, com a proibição do fogo nas lavouras, agravou-se mais ainda, passaram a queimar suas roças colocando fogo no vizinho e fugindo do flagrante, para não se incriminarem. Novamente a mesma desconsideração com a endogenia aconteceu. Para amenizar isso foi criada a queimada controlada, uma tentativa de autorizar as queimadas mediante responsabilização técnica. Alguns técnicos da região foram formados para tal, mas na prática nenhum deles quis se responsabilizar devido à dificuldade dos proprietários atenderem todas as exigências legais para essa prática.

Agora com a expansão da área do PARNA-CV era esperado que esse crime fosse aumentar muito na região. Qual foram as medidas preventivas tomadas? Não seria melhor ter investido num monitoramento 24h para prender uns criminosos? Com certeza sairia muito mais barato e criaria o efeito exemplo para os próximos anos.

Vamos ao ponto! O problema do fogo é econômico. Ao invés de criarem esse monopólio preservacionista governamental, seria bem melhor dar continuidade ao cinturão de RPPN’s ao redor do PARNA-CV, investindo nas propriedades com manejos adequados e economicamente viáveis. Inclusive com brigadas permanentes e colaborativas ao redor do parque.

Nesse cenário caótico, com vários focos de incêndio e tendo que recorrer a voluntários heroicamente despreparados, na eminência de uma fatalidade, fica a esperança. Quem sabe a agricultura sintrópica prevaleça na região e até mesmo uma pecuária sintrópica, se isso for possível, seja criada.

EM HOMENAGEM AOS GUERREIROS(AS) DO FOGO!

** Marcelo Goulart Aguiar Marques (DHarana) é carioca, criado em São Pedro D’Aldeia / RJ, inicialmente morou na cidade do Rio de Janeiro, mas na década de 70, veio para Brasília e a partir de 1993 reside na Chapada dos Veadeiros, em Alto Paraíso de Goiás. É sócio fundador da ONG agro-ambiental RIV (Rede de Integração Verde), a primeira ONG de combate a incêndio florestal do Brasil.

 

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