ARTIGO – Chapeuzinho Ruivo e o relicário

Larissa Cardoso Beltrão

A história da nossa Chapeuzinho é bem parecida com aquela que todo mundo conhece da infância, mas com duas diferenças: a primeira, é uma história real, portanto, a personagem não mora em um floresta, mas em grande centro urbano; a segunda é que ela, Sophia, já nasceu com seu chapeuzinho, uma bebê ruiva, algo meio raro, porém bem imaginável.

Sophia não teimou com sua Mãe e nem estava indo levar doces para a Vovó, mas em certo fim de tarde, voltando da faculdade parou em um lanchonete para fazer um lanchinho rápido. Algo extremamente comum, se o lugar não estivesse sendo assaltado no exato momento em que ela entrou.

Não deu tempo de recuar, ao colocar os pés no estabelecimento fora tomada nos braços pelo assaltante, nem preciso dizer quem seria essa personagem. O lobo mau, digo bandido, colocou-a sob a mira de um revolver. Sophia nunca se imaginara em uma situação como aquela. Era quinta-feira e na grade do semestre era nesse dia que estudava Psicologia. Além de lutar com seus monstros interiores no caminho de volta para casa, naquele dia precisou penetrar o terrível mundo da criminalidade.

Envolta em seus pensamentos e sob a mira de revolver, Sophia perdeu a noção de tempo. A fala doce da professora Teresa Helena misturava-se ao hálito desagradável do ladrão. Não sei se minutos ou horas depois, mas quando deu em si a polícia estava entrando no local.

Sargento Benício assumiu as negociações, na narrativa dos Grimm, o jovem soldado ficaria com o papel de caçador. A conversa foi demorada, o meliante estava irredutível, parecia até ter gostado da sensação de ter os cachos, vermelhos intensos, de Sophia, próximos à sua face estranha e fria. Um contraste perceptível: a vivacidade dos fios se opunha ao olhar sombrio do assaltante.

Depois de muita conversa, houve um breve instante de silêncio. E de súbito, nossa chapeuzinho ruivo empurrou o lobo bandido e correu em direção à porta, quando foi atingida por um disparo. O bandido não reconheceu sua reação, manteve-se parado,  permaneceu imóvel.

Em poucos minutos Sophia estava dentro de uma ambulância indo para o hospital de urgências.

Sua mãe só entrou na história quando recebeu uma ligação do Dr. Pedro Jorge comunicando o ocorrido e já anunciando que tudo acabara bem. Sentiram falta da vovozinha? Pois bem, o final só foi feliz porque o projétil atingiu o relicário que estava no pescoço da jovem, joia que que foi passada de geração em geração adivinhem por quem?

Vovó Augusta quase nem acreditou quando ouviu o relato ainda confuso de Sophia. O doutor não entrou na história dos Grimm, Chapeuzinho Vermelho não precisou passar em pronto socorro para ser socorrida, mas não sei se sairá facilmente da vida de nossa

Chapeuzinho Ruivo, a propósito acabou de lhe enviar flores. E o lobo?

Alguém se lembrou dele? Espero que não!

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