SUSTENTÁVEL – Chapada dos Veadeiros: berço da agricultura.
Conhecida como o “berço das águas”, a Chapada dos Veadeiros também vem sinalizando seu potencial para a agricultura sustentável. Diversos exemplos revelam que é possível buscar alternativas para que o setor agropecuário na região central do país possa ser, ao mesmo tempo, produtivo e ecológico.
Roberto Naborfazan**
Em Alto Paraíso de Goiás, município polo da Chapada dos Veadeiros, Há a busca por um equilíbrio entre a agricultura comercial do Agronegócio, e a produção dentro sustentabilidade ambiental.
Nos últimos anos, com incentivo e apoio do Sindicato Rural de Alto Paraíso de Goiás, produtores familiares despertaram para a existência de um café que pode ser comercializado em nichos de mercado de grãos especiais: orgânicos e de origem definida, e buscaram, na Embrapa, o desenvolvimento de projeto de pesquisa. O estudo na região revelou que por meio do esclarecimento de valores – história, cultura e tradições – é possível estabelecer estratégia mais eficiente de busca de mercado, a partir da experiência revelada no trabalho concreto e na cultura dos produtores.
Santuário ecológico
A Fazenda Volta da Serra é um exemplo emblemático. Situada no entorno direto do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, na zona definida como de transição, é conhecida na região por possuir grande potencial para conservação da natureza e maior proteção do Parque.
A propriedade tem uma reserva de 172 hectares, para a qual foi elaborado um plano de manejo por cientistas (em grande parte da Universidade de Brasília – UnB) e com a participação dos proprietários.
“Com a crescente demanda do turismo ecológico, na região da Chapada dos Veadeiros, a Volta da Serra foi sendo pressionada para ser aberta à visitação. Muitos guias que conheciam o local passaram a levar pessoas sem autorização, chamando a atenção que era chegado o momento de se pensar nesta questão”, conta Lauro Jurgeaitis, vice-presidente do Sindicato Rural de Alto Paraíso de Goiás e proprietário da fazenda.
Além de oferecer atividades de turismo, a Volta da Serra produz alimentos orgânicos, seguindo a tradição da propriedade, que não tem histórico de utilização de produtos químicos. Há uma produção agroecológica de café integrado com frutas e apicultura: mel orgânico e meliponicultura, que é a criação de abelhas nativas ou sem ferrão, como as jataís.
“Nossa venda é feita respeitando o princípio agroecológico de proximidade onde os alimentos são produzidos. Participamos da feira do produtor em Alto e em São Jorge. No comércio local temos a venda direta em empórios”, conta Jurgeaitis. Ele afirma que entre os maiores desafios enfrentados pela Volta da Serra, está a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada.
Como saída, a fazenda apoia a formação de alunos, como nos cursos de apicultura oferecido pelo Sindicato Rural de Alto Paraíso de Goiás em parceria com Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR).
Sistema de rotação
O Sindicato Rural de Alto Paraíso de Goiás, atento a prática da agricultura sustentável, tem apoiado os produtores da agricultura familiar, oferecendo os equipamentos de uma patrulha rural mecânica para a aragem e gradeamento de suas terras, os incentivando a investir no plantio de verduras e legumes, da cana-de-açucar, que gera a produção da rapaduras e do açúcar mascavo, entre vários outros alimentos produzidos de forma agroecológica ou orgânica com maior intensidade em Alto Paraíso de Goiás.
“A Chapada tem um potencial incrível para frutas e armazenamento de grãos. Temos exemplos excelentes de produção de maracujá, café e muitos outros”, diz o presidente do Sindicato Rural de Alto Paraíso de Goiás, Jerson Nagel.
Em sua propriedade de cerca de 70 hectares, no Povoado do Moinho, Jerson Nagel dá um belo exemplo de agricultura sustentável. Ele ocupa apenas 12 hectares da área total com plantações, mantendo faixas de separação, grotas e morros com cerrado em recuperação.
“Há algumas décadas, aqui era tudo desmatado, o chão era pilado. A nascente antes secava, agora não seca mais”, completa Jerson Nagel.
Em sistema de rotação e entre extensos corredores de biodiversidades, são revezadas roças de feijão, mandioca e banana, inclusive as originais “nanicas”, além de hortaliças como beterraba, cenoura, couve-flor, alface, entre outras variedades produzidas dentro do conceito da agroecologia e que são bastante apreciadas pela comunidade na Feira do Produtor Rural de Alto Paraíso, que acontece nas tardes de terças e manhãs de sábados.
***Com Alessandra Simões Paiva