Visita ao mestre Zé Gordo: um reencontro com amigos fraternos.

Um reencontro emocionante com o ex-treinador que marcou época no futebol amador da região sudoeste de Goiânia, e moldou vidas dentro e fora dos campos.

Roberto Naborfazan

Na caminhada desta vida, vivi incontáveis momentos e situações que foram de grande importância em minha formação pessoal e profissional. O esporte como um todo, mas especialmente o futebol, contribuiu de forma singular para que eu me adaptasse de forma espontânea ao convívio social, buscando entender os diferentes tipos de pessoas que circulam por este planeta tão complexo e diverso.

Um período, em especial, foi marcante neste aprendizado que envolve o futebol. Foi quando me integrei ao grupo que participava do time de futebol de várzea comandado por um ser humano ímpar: José Alves, o Zé Gordo. Técnico, preparador físico, roupeiro e único financiador do Ana Lúcia Futebol Clube, do Setor Jardim Ana Lúcia, na região sudoeste de Goiânia.

Uma tarde de prosa boa, muitas lembranças e risadas com o mestre Zé Gordo e sua família.

No vídeo abaixo, feito por Renato, genro do Zé Gordo, mostra um pouco de nossa resenha com o velho mestre. 

Dei meus primeiros passos no time por volta de 1978/79, mas Zé Gordo já era uma espécie de paizão da moçada desde o final dos anos 1960. Meus tios tinham casa no Setor Sudoeste desde 1965, eu sempre estive por ali. No entanto, só finquei residência no Jardim Ana Lúcia por volta de 1982. Já fazia parte do grupo que jogava bola no campinho localizado no início da Rua Tupaciguara, onde hoje é a creche, em frente ao Armazém Tupiratins (hoje é a Contad), que era comandado pelos irmãos Antônio Alencar (Tonhão) e Rosirano Alencar, e participava dos treinos e jogos no “Campo do Zé Gordo”, onde hoje é a Capela de Sant’Ana e Santa Luzia.

Nesta foto antiga, detonada pelo tempo, está um dos vários “Mistãos” do time do Zé Gordo. Em pé: Alemão (desfocado) Bekão, Tonhão, Iraci, Ives, Aquilino, Bahia, Roberto. Agachados: Robinho (desfocado) Porfírio, Carlinhos, Niltinho, Divininho e Gilberto Nogueira.

O Armazém Tupiratins era uma espécie de concentração e vestiário, além de ser o point das resenhas diárias de nossa turma. O time do Zé Gordo era referência no futebol de várzea naquela época, fazendo clássicos memoráveis com times da Vila Alvorada, Mauá, Sol Nascente, Sudoeste, Confecções Anhanguera e tantos outros.

Na foto de 1983, Dagoberto Nogueira e eu no Campinho em frente ao histórico Armazém Tupiratins. hoje, no local, é a creche do Jardim Ana Lúcia.

Nosso time tinha grandes craques. Alguns deles se tornaram profissionais. Uma das grandes referências que permanece no grupo até hoje é o Niltinho, craque que passou por times como Goiânia (1982-1985); Portuguesa (1986-1987); Goiás (1987-1993); Xv de Piracicaba-SP (1994); Puebla-MEX (1994); Pachuca-MEX (1994); Queretaro-MEX (1994); Botafogo-RJ (1995); Paysandu (1995); Vila Nova (1996); América-RN (1997); Anápolis (1997); Goiânia (1999) e União Inhumas (1999).

Outros, por percalços do caminho, não se tornaram profissionais, mas eram craques de talento nato. Vou citar apenas dois, para não ser injusto com tantos outros: Claudionor, o neguinho, ponta esquerda de habilidade incomum, que adorava jogar descalço, e Amarildo, médio volante que jogava com estilo e elegância, jogariam, em qualquer época, como profissionais.

Niltinho foi dos grandes jogadores do futebol brasileiro que deu seus primeirps passos no time do Zé Gordo. Na foto, com seu cunhado, o saudoso Tiãozinho, outro grande craque que jogou no Goiás E.C. e outros bons times. Foto: Roberto Naborfazan

Mas a alma do time, indiscutivelmente, era o Zé Gordo. Mestre de obras, terminava o trabalho e corria para orientar os treinos.

A vontade de jogar no time era tanta que surgia até quarenta jovens querendo treinar e disputar uma vaga, mesmo no banco, no dia do jogo. Rígido e, ao mesmo tempo fraterno, Zé Gordo buscava contornar a chamada “dor de cabeça boa”, com tantos craques à sua disposição.

Extracampo, Zé Gordo foi amigo e conselheiro de vários de nós. Esteve presente no dia do meu noivado, em 1983. Fiz questão que ele estivesse lá, porque era nos treinos e jogos de seu time, na convivência com ele e todo o grupo, que eu me sentia alegre e participava de farras sadias e edificantes.

Zé Gordo no dia do meu noivado. O de boné atrás do grupo é nosso querido Bekão.

Para eu contar toda nossa história, falar sobre pessoas queridas que conviveram conosco, sobre os episódios que vivemos, seria necessário um livro, que eu talvez escreva, um dia. A vida seguiu. Alguns se casaram e mudaram de cidade, outros partiram de volta para a pátria espiritual. Zé Gordo, depois de décadas dedicado ao esporte amador, se aposentou. Nosso campo virou uma praça, alojando um Pit Dog e uma igreja, mas grande parte de nossa turma não se afastou, mantendo frequentes contatos.

Foto que registra nossa visita ao mestre Zé Gordo. Domingos, Roberto, Bahia, Zé Gordo, Admirson, Niltinho e Zé da Faca. Deuzinho, Zé Ricardo, Dagoberto e Rosirano.

Na sexta-feira, 13 de dezembro, com organização do nosso eterno craque Niltinho, reunimos um pequeno grupo da velha guarda e fomos visitar o querido mestre em seu sítio, em Aparecida de Goiânia.

Domingos, Aníbal “Bahia” Júnior, Admirson “Platini” Santana, Zé da faca e seu filho, Zé Ricardo, Deuzinho, Dagoberto Nogueira, Rosirano Alencar e eu, Roberto Naborfazan, formamos a caravana.

Ao lado de sua esposa, dona Maria Aparecida, Zé Gordo lembrou os bons tempos e passou algumas importantes orientações para seguirmos no jogo da vida.

Devido ao diabetes, Zé Gordo teve que amputar parte da perna direita. No entanto, forte e perseverante, com a prótese colocada, pilota seu veículo para todos os lados, e é ele e sua esposa, dona Maria Aparecida, que capinam o terreno próximo da sede. Zé Gordo e sua família; filha, genro e netos, nos recebeu com a alegria e o carinho de sempre. Relembramos histórias e estórias, fizemos as velhas chacotas uns dos outros, inclusive de alguns ausentes, que, por motivos de compromissos não puderam ir, relembramos jogos com alguns adversários frequentes daquela época. Enfim, um reencontro que fez muito bem tanto para nós, quanto para nosso querido ex-treinador.

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