VIOLÊNCIA – Em Alto Paraíso de Goiás, Pastores espancam jovem que reclamou de barulho.

População do município mostra indignação em redes sociais e querem punição rigorosa aos agressores. Carlos Henrique, o jovem agredido, tem suspeita de fratura nasal e lesão grave no olho esquerdo.

Roberto Naborfazan

Carlos Henrique foi barbaramente espancado pelos pastores.

O que poderia ser apenas mais um desentendimento entre vizinhos, tornou-se caso de polícia em Alto Paraíso de Goiás. O jovem Carlos Henrique Teles de Moura, 22 anos, foi brutalmente espancado pelos autodenominados Bispo Claudio Felix de Morais (40 anos) e Pastor Daniel Gomes de Morais (18 anos), filho do Bispo, após reclamar de barulho em uma obra na Igreja Renascer de Deus, vizinha de sua casa.

Segundo relatou Carlos Henrique à reportagem do Jornal O VETOR, na noite de segunda feira, 24, por volta de meia noite, estava sendo incomodado com um som alto, semelhante ao de uma lixadeira, que o impedia de dormir. Frentista do Posto de Gasolina na cidade, estava cansado pelo trabalho árduo do dia.

Que se dirigiu a igreja, bateu no portão e depois de algum tempo foi atendido pelo Bispo Claudio, que iniciou uma discussão, se transformando em empurra, empurra. “Nesse momento, uma pessoa, que depois fiquei sabendo ser o Pastor Daniel, me agarrou por trás, apertando meu pescoço (mata-leão), enquanto o Bispo Claudio me esmurrava. Perdi a consciência e fiquei desmaiado, mas pelo jeito eles continuaram me batendo. Quando voltei a mim foi que percebi a presença de minha namorada e da Polícia Militar”, descreve Carlos Henrique.

Algemado e levado ao hospital, onde deram pontos no corte abaixo do olho esquerdo, mesmo sangrando, o jovem frentista foi levado pela Polícia Militar à Delegacia de Polícia Civil para o registro de ocorrência.

Ainda muito machucado, com hematomas por todo o corpo, com suspeita de fratura nasal e com danos no olho esquerdo, Carlos Henrique disse que, com auxílio de parentes e amigos, foi até Formosa na quarta-feira, onde fez exame de corpo de delito no IML daquela cidade.

O jovem frentista ainda está assustado e muito machucado, se movimentando com dificuldades, com o olho esquerdo ainda muito inchado.
Em casa, com o olho ainda inchado pelas agressões sofridas.

Carlos Henrique atendeu a reportagem de O VETOR na casa de um parente, ainda assustado e muito machucado, se movimentando com dificuldades, com o olho esquerdo ainda muito inchado.

Familiares e amigos estão se unindo para tentar angariar recursos para pagar um advogado que acompanhe o caso mais de perto, inclusive para que chegue até o Ministério Público e ao Tribunal de Justiça.

Comunidade revoltada.

Pelas redes sociais, a comunidade Alto-Paraisense se mostra revoltada com as agressões feitas contra Carlos Henrique, conhecido por seu jeito calado, trabalhador e sempre educado com as pessoas. Seus colegas de trabalho, no Posto de Gasolina da cidade, afirmam que o jovem é atencioso com todo mundo, e sempre muito calado devido a timidez.

Reações exacerbadas e muitas acusações começam a surgir contra o Bispo Claudio, que deverão ser esclarecidas no bojo das investigações iniciadas pela Polícia Civil. Entre as acusações feitas estão assédio a jovens fieis, invasão de terrenos com desvio de recursos angariados e tentativa de agressão com ferramenta (enxada) contra uma outra pessoa no ano passado.

“O que precisa ser feito é colher as digitais desse pastor, porque desconfia-se que até o nome que ele usa é falso, há acusações gravíssimas contra ele” cita um morador revoltado com a violência cometida contra o jovem frentista.

Um grupo mais exaltado em uma rede social está falando em promover desde um buzinaço na porta da igreja, até em agressão física.

Outro grupo, mais ponderado, alerta que violência só gera mais violência e não recomenda fazer justiça com as próprias mãos, mas disse que vão acompanhar atentamente, de perto, o trabalho da Polícia no caso “Isso Não pode ficar impune, o que esses dois, que se dizem representantes de Deus, fizeram, é coisa de bandidos da pior espécie”, frisa um membro do grupo.

Polícia Militar

Comandante da 14ª CIPM, Major Júnio dos Santos Ferreira “Medidas serão tomadas e a comunidade terá resposta sobre o caso”.

No registro de ocorrência, os Policiais Militares que se deslocaram até o local afirmaram que, acionado pela Central de Operações Policias Militares – COPOM, para atender uma ocorrência de Lesão Corporal na Rua Francisco Candido (Setor Monte Sinai), quando se depararam com dois homens agredindo um rapaz, e que um dos policias ordenou que parassem  com as agressões.

Ainda sendo o registro policial, “assim que cessaram as agressões, foram ouvidas as partes (vitima e agressores). O senhor Carlos afirmou que foi até a igreja reclamar do barulho de um som, quando começou a ser agredido pelo senhor Claudio. Relato contestado pelos agressores Claudio e Daniel, que afirmaram que Carlos chegou extremamente agressivo, momento que começou a briga entre os dois. Após o relato dos fatos, e por Carlos estar agressivo, foi algemado e levado para o hospital de Alto Paraíso para relato médico e depois para a Delegacia de Polícia.” conclui o Boletim.

Membros da comunidade questionam porque o jovem não ficou internado no hospital municipal apesar de bastante ferido, e porque após passar apenas pelo processo de sutura em um ferimento abaixo do olho esquerdo, foi levado para a delegacia de Polícia Civil, onde chegou com fortes dores e sangramento, e ainda porque, mesmo assim não foi encaminhado ao IML de Formosa. Parentes reclamam ainda que não foi permitido que conversassem com Carlos Henrique no hospital, sendo atacados com spray de pimenta pelos policiais.

Por Telefone, o comandante da 14ª CIPM, Major Júnio dos Santos Ferreira, disse ao Jornal O VETOR que, segundo relatos dos Policias Militares que atenderam a ocorrência, cerca de vinte pessoas tentavam invadir o hospital para agredir o Bispo e seu filho, por isso foi necessário o uso de arma não letal (Spray de pimenta) para conter os ânimos.

Quanto a não internação, não houve manifestação por parte da equipe médica que atendeu o paciente para essa necessidade. E que em relação ao não encaminhamento para o IML de Formosa, também foi atestada pela equipe médica a não existência de ferimentos graves. Mas, ressalta o Major Júnio, que o laudo posteriormente feito pelo IML Será analisado pela autoridade policial e que medidas serão tomadas de acordo com os resultados.

“Parabenizo a participação e interesse da comunidade no caso, pois acredito na integração das policias com a população. Nossos comandados estão prontos para servir e agir dentro da legalidade e do melhor para o município, seus moradores e também aos visitantes” apontou o comandante.

Polícia Civil

Ao Jornal O VETOR, a delegada de Polícia Civil em Alto Paraíso de Goiás, doutora Maria Isabel Pires Ramalho, afirmou que os procedimentos realizados pelos agentes durante o plantão noturno seguiram o protocolo. Ouvidas as partes, o delegado de plantão em Formosa, via conferência online, determinou ações baseadas nas declarações passadas a ele pelos Policias Militares e apontadas no Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e também pelo relatório médico, no primeiro atendimento realizado no Hospital municipal de Alto Paraíso, que não apontava lesões graves, mas que assim que tomou ciência do caso está diligenciando no sentido de dar toda a clareza ao episódio ocorrido.

Delegada de Polícia Civil, doutora Maria Isabel Pires Ramalho, “Vamos ouvir novamente todos os envolvidos e se necessário abriremos inquérito policial a ser encaminhado ao poder judiciário”.

“Estamos aguardando o laudo do IML, que mostrará a gravidade das lesões sofridas pela vitima. Vamos ouvir novamente todos os envolvidos e se necessário abriremos inquérito policial a ser encaminhado ao poder judiciário. Em casos de Lesão Corporal Grave a pena é de 1 a 5 anos.” Cita a delegada.

“Quero deixar claro que o trabalho que vem sendo feito pela Polícia Militar em Alto Paraíso tem melhorado muito a sensação de segurança da comunidade. A presença de policias e viaturas nas ruas tanto de dia, quanto de noite, tem inibido a ação de bandidos. Nós, da Polícia Civil, estamos buscando dar respaldo a essa parceria e também atuando, com inteligência, nas investigações que têm culminado na apreensão de armas, drogas e traficantes. Nesse caso específico, reafirmo que agiremos com a isenção de sempre na apuração para que eventuais culpados sejam punidos.” Destacou a Delegada Isabel Ramalho.

Bispo dá sua versão

Procurado pela reportagem do O VETOR, o Bispo Claudio Morais, fundador da Igreja Renascer de Deus, afirma que tem lutado muito ao longo dos últimos anos para construir a sede da Igreja e que, devido a falta de recursos, ele e seu filho, o Pastor Daniel, trabalham na mão de obra, sem dia nem horário de descanso. Ele afirma que na noite do ocorrido, havia terminado o culto, depois foi fazer uma visita à uma fiel, na volta, junto com seu filho, Pastor Daniel, foram lixar um reboco de uma parede, quando ouviu batidas insistentes no portão, e que quando abriu não viu ninguém, mas que ouviu batidas no portão dos fundos, pelo lote paralelo a igreja.

Pastor Daniel, Bispo Claudio e sua esposa.

Que se dirigiu até lá, quando viu o jovem, seu vizinho, vindo em sua direção esbravejando palavrões e lhe deu um chute na barriga afirmado que iria mata-lo. Segundo o Bispo, ele pensou que o jovem estivesse tendo uma manifestação espiritual, que seria caso de orações, mas como o jovem continuava a o agredir, tentou se defender de todas as maneiras.

Nesse momento, diz o Bispo, seu filho, o Pastor Daniel, veio em seu socorro achando que estava sendo esfaqueado, e desferiu socos no rosto e na cabeça, depois deu uma gravata tipo mata-leão em Carlos Henrique para o conter, mas mesmo assim ele continuava a reagir, até que, com muito custo, conseguiram contê-lo até a chegada da Polícia, chamada por sua esposa.

Já o Pastor Daniel afirma que, ao ver seu pai ser agredido, reagiu dando socos e depois uma gravata no jovem vizinho, que já havia rolado pelo chão em luta corporal com seu pai. Que ambos o mantiveram imobilizado até a chegada da Polícia Militar.

 

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