Viagem do papa a Cuba aproxima país dos EUA e dá continuidade a abertura
Por Philip Pullella e Jaime Hamre
SANTIAGO DE CUBA (Reuters) – O papa Francisco conclui uma visita a Cuba nesta terça-feira e se encaminha para os Estados Unidos, fazendo assim uma ligação entre os dois adversários de longa data que iniciaram uma abertura nas relações bilaterais com mediação do pontífice.
O papa argentino, de 78 anos, vai celebrar uma missa no santuário de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, o mais sagrado do país e também venerado por não católicos e praticantes de religiões afro-cubanas com diferentes graus de aproximação com o catolicismo.
No santuário, no povoado de El Cobre, Francisco rezou na segunda-feira pela reconciliação entre todos os cubanos, tanto os que vivem no país como os espalhados pelo mundo.
Estima-se que 2 milhões de cubanos tenham deixado a ilha desde a Revolução Cubana, em 1959, e cerca de 1,3 milhão vivam atualmente no exterior, a maioria nos Estados Unidos, onde muitos exilados continuam mantendo uma relação ressentida com a terra natal.
Há grande expectativa quanto ao que Francisco dirá nos Estados Unidos, onde se reunirá com o presidente Barack Obama e fará o primeiro pronunciamento de um papa perante o Congresso, além de falar também na Organização das Nações Unidas (ONU).
O papa evitou fazer em Cuba declarações políticas ostensivas, que os dissidentes esperavam que ele fizesse, mas usou suas homilias para enviar mensagens ligadas à espiritualidade e sobre a necessidade de mudanças no país comunista, de partido único.
O pontífice pediu aos cubanos que pensem com maior abertura e sejam tolerantes às ideias de outras pessoas. Em uma missa na segunda-feira para dezenas de milhares de pessoas na cidade de Holguín, no leste da ilha, ele exortou seus ouvintes “a não se satisfazerem com a aparência ou com o que for politicamente correto”.
A abordagem mais suave, um contraste com a adotada por seus dois antecessores imediatos quando visitaram Cuba, parece impulsionada por um desejo de incentivar calmamente os cubanos em um momento delicado após a retomada das relações diplomáticas com os Estados Unidos. Enquanto isso, a Igreja cubana está discretamente negociando mais espaço para a sua missão religiosa.
“Ele falou com clareza, discrição e moderação”, disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, aos jornalistas, quando perguntado por que o papa não tinha tratado diretamente de questões como o histórico de Cuba em direitos humanos e o embargo comercial dos EUA, ao qual o Vaticano se opõe.
“O papa quer fazer uma contribuição, mas a responsabilidade recai sobre os líderes das nações. Ele não quer exagerar o seu papel, só quer contribuir, fazendo sugestões, promovendo o diálogo, a justiça e o bem comum das pessoas”, disse o porta-voz.