TERRITÓRIO KALUNGA – Quilombolas ganham primeiro armazém para venda de produtos artesanais e do agroextrativismo, em Cavalcante.
O objetivo do novo espaço é atrair todas as famílias do território e visitantes das cidades no entorno da Chapada dos Veadeiros e Brasília e, assim, expandir a venda dos produtos Kalunga, típicos do Cerrado, como a castanha do baru e o pequi.
Roberto Naborfazan*
A Associação do Quilombo Kalunga (AQK), que representa moradores de um dos maiores territórios de áreas remanescentes de quilombo no Brasil, ganha, a partir deste mês de março, o primeiro armazém para venda dos produtos da agricultura familiar e extrativismo, que irá beneficiar mais de 280 famílias de produtores e artesãos. O espaço, construído com o apoio do Programa COPAÍBAS, gerido pelo Fundo Brasileiro Para Biodiversidade (FUNBIO), contará com a presença de 80% de mulheres quilombolas à frente da comercialização e foi erguido em Cavalcante, no nordeste goiano, terceira cidade com maior proporção de moradores quilombolas do Brasil, chegando a 57%, de acordo com o último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Temos muito orgulho ter construído nosso primeiro armazém pelas mãos da nossa comunidade e ter contado com o apoio do COPAÍBAS. Antes, produzíamos, mas não tínhamos um local para vender e perdíamos muito. Queremos organizar a cadeia produtiva do nosso território e, futuramente, criar nossa marca coletiva”, conta o presidente da Associação Quilombo Kalunga, Carlos Pereira, de 29 anos.

Construído a partir da técnica de adobe ( tijolo feito de terra crua, palha, água e, às vezes, outras fibras naturais) pelos homens quilombolas da Associação, o 1º Armazém Quilombo Kalunga está sendo inaugurado numa celebração que começou na quinta, dia 27, e vai até domingo, 30 de março.
O evento contará com manifestações artísticas e exposição dos produtos artesanais da cultura quilombola. O objetivo do novo espaço é atrair todas as famílias do território e visitantes das cidades no entorno da Chapada dos Veadeiros e Brasília e, assim, expandir a venda dos produtos Kalunga, típicos do Cerrado, como a castanha do baru e o pequi.
A lista inclui ainda alimentos produzidos de forma artesanal como a farinha do jatobá e a farinha Kalunga, rapadura, melado da cana e mel de abelha. E, também, a produção local de arroz e feijão, de mais de 3.500 quilombolas.

Sobre o Programa COPAÍBAS
O Programa COPAÍBAS – Comunidades Tradicionais, Povos Indígenas e Áreas Protegidas nos Biomas Amazônia e Cerrado – tem como objetivos reduzir a taxa de desmatamento e conservar florestas, contribuindo para o enfrentamento das mudanças climáticas e a melhoria das condições de vida de povos indígenas e populações tradicionais. O COPAÍBAS atua em quatro eixos estratégicos: fortalecimento das Unidades de Conservação no Cerrado, apoio à gestão territorial e ambiental em Terras Indígenas na Amazônia e no Cerrado, promoção de diálogos sobre temas ligados às mudanças climáticas junto aos representantes do sistema de justiça brasileiro e o fortalecimento das cadeias de valor e arranjos produtivos locais. A iniciativa tem o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) como gestor técnico e financeiro e a Iniciativa Internacional da Noruega pelo Clima e Florestas (NICFI) como financiadora.
Sobre o Território Kalunga
O território abrange 39 regiões e está contido no perímetro de três municípios: Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás. E conta com mais de oito mil quilombolas. Em 2021, o território Quilombo Kalunga foi reconhecido, por um programa ambiental da ONU como o primeiro Território e Área Conservada por Comunidades Indígenas e Locais (Ticca) do Brasil. Para obter o Ticca, é necessário que o território seja uma área preservada, respeitando os costumes da população, o cultivo da terra e o trabalho exercido.
**FONTE: Assessoria