TECNOLOGIA – Qual o impacto do uso de celulares durante as refeições?
Os celulares ganharam destaque nos encontros familiares, substituindo a troca de olhares, as conversas, a vida real, e isso é preocupante.
Sabe quando você entra em algum ambiente e se depara com o completo alheamento dos presentes, cada um entretido com o(s) seus(s) gadget(s)? Bate aquela impressão de que tem mais smartphone que gente nesse mundo, não é mesmo? Pois a sua impressão está corretíssima, ao menos aqui no Brasil. É o que revela a 30ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).
Segundo o levantamento, são 230 milhões de celulares inteligentes (smartphones) em uso no Brasil, ao passo que a nossa população é de 207,6 milhões de pessoas. Se acrescentarmos a isso os notebooks e os tablets, são 324 milhões de dispositivos portáteis atualmente em uso, cerca de 1,6 deles por habitante. Impressionante, não?!
O equilíbrio no uso da tecnologia é um dos desafios dos próximos anos. Usufruir o que os avanços neste segmento têm proporcionado, sem deixar de viver verdadeiramente a vida, é uma tarefa que se impõe.
Quem nunca fez uso de celulares durante as refeições em família, seja para mostrar uma foto, registrar a decoração da mesa ou até dar risadas com algum meme engraçado? Aparentemente inofensivos, os celulares ganharam destaque nos encontros familiares, substituindo muitas vezes a troca de olhares, as conversas, a vida real.
Existem várias pesquisas que apontam os malefícios do uso dos celulares durante as refeições, que vão desde questões relacionadas à nutrição, a aspectos emocionais e sociais.
Durante um almoço com amigos e familiares, por exemplo, ao prestar mais atenção à tela do celular do que à presença das pessoas ao seu redor, perde-se a oportunidade de dialogar e estreitar laços reais.
O ato de sentar-se à mesa, fazer refeições na companhia de familiares ou amigos, é um hábito saudável e prazeroso. É a ocasião em que podemos presentear o outro com algo muito especial nos dias de hoje: o tempo. Tempo real, sem celular e outras distrações, verdadeiramente vivido. Conversar sobre o que aconteceu no trabalho do companheiro ou na escola dos filhos. Isso fortalece vínculos familiares. Os resultados são surpreendentes.
Esse, inclusive, foi o conselho compartilhado pelo Papa Francisco no domingo (29/12), durante a última oração do Angelus em 2019, na praça de São Pedro, Vaticano. O Pontífice pediu que as famílias evitassem o uso de celulares durante as refeições, questionando: “Eu me pergunto se você, em família, sabe como se comunicar ou se você é como aquelas crianças nas mesas de refeição que ficam falando no celular?”.
Jorge Bergoglio enfatizou que a família deve ser protegida e valorizada. Segundo ele: “Temos que voltar a nos comunicar em nossas famílias. Pais, crianças, avós, irmãos e irmãs, essa é uma tarefa para ser assumida hoje, no dia da Família Sagrada”.
A mensagem do Papa ganhou grande repercussão, considerando sua posição de líder espiritual de milhões. Que tal, contagiados pelo espírito de renovação que marca o início do ano, seguirmos o conselho do pontífice e tentarmos, durante as reuniões em família, evitar o uso de celulares ou, ao menos, o seu abuso. Por mais olhares e palavras reais, por laços mais estreitos.
Usar celular durante refeição faz comer mais
Em outra pesquisa, feita pelo Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Lavras (UFLA), mostrou que usar o celular ou ler durante as refeições aumenta o consumo de calorias.
O uso seria uma distração que pode levar a pessoa a comer mais. Os resultados mostraram que, ao utilizar o smartphone enquanto se alimenta, o brasileiro aumenta em 15% o consumo de calorias e em até 20% ao fazer uma leitura durante a refeição, o que representa uma média de 101 calorias.
Excesso
De acordo com o professor responsável pela pesquisa, Luciano José Pereira, “a partir do momento que você não presta atenção naquilo que você está ingerindo você corre o risco de se alimentar em excesso”. Para chegar a essa conclusão foram avaliadas 64 pessoas, entre 18 e 40 anos, em aspectos relacionados à mastigação, Índice de Massa Corporal e preferência de alimentação.
Os participantes se alimentaram sem distrações e depois ao lado de smartphones e textos de uma revista. Os resultados revelaram que pessoas comem mais quando distraídas porque têm dificuldade de perceber as mensagens químicas de satisfação que o corpo envia.
Além disso, alguns pais têm o hábito de colocar desenhos para distrair a criança enquanto ela come. Pereira se posicionou contra a prática. “A utilização destes recursos já é condenado pelo guia alimentar de 2014, que indica que a gente não deve usar nenhum de equipamento eletrônico enquanto se alimenta”, conclui o pesquisador.