SEM TERRAS – Polícia Militar retira invasores de fazenda, em São João d’Aliança.

Cerca de 50 pessoas que invadiram uma fazenda no sábado, 1º de janeiro, em São João d’Aliança, na região nordeste de Goiás, foram retiradas pela Polícia Militar. A Fazenda Cerrado pertence ao espólio de Abib Miguel, ex-diretor da Assembleia Legislativa do Paraná, que teve os bens bloqueados pela justiça do Estado do Paraná, sob acusação de lavagem de dinheiro.

Roberto Naborfazan

A Polícia Militar do Estado de Goiás, através do 21º Batalhão de Polícia Militar da 14ª Companhia Independente da Polícia Militar (11º CRPM) foi informada na manhã do dia 1º de janeiro de 2022, que cerca de 50 pessoas haviam invadido uma propriedade rural denominada Fazenda Cerrado, na madrugada daquele mesmo dia, e que havia o risco de confronto entre os invasores e funcionários da fazenda.

De acordo com informações obtidas pela reportagem do Jornal O VETOR, a invasão foi comandada por Hugo Daniel Maciel Zaidan, conhecido líder de trabalhadores rurais sem terra na região, que até passado recente era ligado a José Rainha e a FNL – Frente Nacional de Luta, um grupo dissidente do MST.

Hugo Daniel Maciel Zaidan e seu grupo já invadiu a fazenda Cerrado, que pertence ao espólio de Abib Miguel, ex-diretor da Assembleia Legislativa do Paraná, que teve os bens bloqueados pela justiça do Estado do Paraná, sob acusação de lavagem de dinheiro, em outras oportunidades.

Em outubro de 2021, a área foi alvo de busca e apreensão por parte do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (GAEGO), que fez o sequestro judicial da área, além de efetuar a apreensão de 17 (dezessete) silos bolsas, contendo grãos de soja, com capacidade de aproximadamente 3 mil sacas de soja em cada, os quais estavam dentro da área.

A presença de forças Policiais teria sido solicitada pelo senhor Mário Moreira Lima, nomeado pelos membros do Ministério Público de Goiás, envolvidos na operação, como fiel depositário de todos os grãos ali apreendidos.

Em outra invasão acontecida em 2019, a área foi desocupada por força de decisão judicial do Tribunal Regional Federal da Primeira Região/Subseção judiciária de Formosa (GO).

Como fiel depositário, o senhor Mário Lima relatou que no momento da invasão, o líder do grupo, Hugo Zaidan, e outras pessoas presentes, se utilizaram de intimidação e ameaças verbais para com as pessoas que estavam no local resguardando os grãos apreendidos, e apresentou vídeos feitos pelas pessoas que lá auxiliavam o senhor Américo Francisco dos Anjos Coutinho, caseiro que mora no local desde antes da operação desencadeada pelo GAECO/MPGO.

Nos vídeos que o jornal O VETOR teve acesso e veicula nesta reportagem, é possível ver, em um deles, diálogo pacífico entre um interlocutor da fazenda com os invasores, e em outro, momento de forte tensão, inclusive com agressão física entre invasores, uma deles identificado como Hugo Zaidan, e uma pessoa que filmava a ação. Também é possível ouvir de Hugo Zaidan nas gravações que “Ela (a fazenda) tá para leilão e nós estamos aqui para pressionar esta questão…”

A justificativa dada por Mário Moreira Lima para solicitar o reforço policial é de que, segundo ele, haviam sérios riscos dos invasores danificarem os silos bolsas que armazenam os grãos apreendidos, dos quais ele é o fiel depositário, ou até mesmo retirarem os grãos que ali estavam sob sua responsabilidade, além da possibilidade de um confronto mais grave entre os invasores e as pessoas que foram chamadas para auxiliar o caseiro.

Diante da situação, o Comandante Regional da Polícia Militar, Tenente Coronel Copolla, o Major Sena, responsável pelo o Comando da 14ª CIPM, o Tenente Augusto, Subcomandante da 14ª CIPM e também o Tenente Coronel Sano, Comandante do 3º Batalhão da Polícia Militar Rodoviária foram informados sobre a ação.

Como oficial mais próximo da ocorrência, o Capitão P. Júnior, do BPMRV, foi designado pelo Subcomandante Geral da Polícia Militar de Goiás, Coronel André, para comandar a operação de retirada dos invasores.

Como oficial mais próximo da ocorrência, o Capitão P. Júnior, do BPMRV, foi designado pelo Subcomandante Geral da Polícia Militar de Goiás, Coronel André, que estava ciente de toda situação, para que se deslocasse até a Fazenda Cerrado para verificar a real situação dos fatos e orientar as pessoas que ali estavam de forma ilegal, que se retirassem de forma pacífica.

Seguindo as determinações superiores, o Capitão P. Júnior, acompanhado das equipes de área do 2º Pelotão Operacional de São João D’Aliança, se deslocou para o local, onde foi constatado que aproximadamente 50 pessoas já estavam montando acampamento com barracos de lona, com madeiras de eucalipto verde, retiradas com motoserras na própria fazenda.

Aproximadamente 50 pessoas já estavam montando acampamento com barracos de lona, com madeiras de eucalipto verde, retiradas na própria fazenda. Após negociação com a Polícia Militar, todos saíram pacificamente do local. FOTOS: fontes do Jornal O VETOR.

Conhecido por suas habilidades em negociações de conflito, o Capitão P. Júnior reuniu as pessoas que ali estavam e as informou sobre a situação de sequestro judicial em que a área da Fazenda Cerrado se encontra, sendo que todos que ali estavam afirmaram que tanto elas, quanto Hugo Zaidan, que não estava presente no momento da chegada das forças policiais, tinham conhecimento da situação.

Questionados pelo Capitão P. Júnior se algum deles tinha documentação ou ordem judicial que lhes permitissem entrar naquela área da forma que estavam fazendo, todos disseram que não, e que estavam ali sob a orientação e comando de Hugo Daniel Maciel Zaidan que, em tese, estaria esperando um documento da Justiça.

Segundo relato de uma fonte do Jornal O VETOR, a senhora Josilene Maria dos Reis se apresentou aos Militares como uma das responsáveis pelo grupo.

Com o intuito de evitar conflitos entre invasores e os colaboradores do senhor Mário Lima, e também de resguardar os produtos/grãos que estavam no local, por terem sido apreendidos na já citada determinação do Ministério Público de Goiás, e deixados sob a guarda do Fiel Depositário, o Capitão P. Júnior orientou que todas as pessoas que invadiram a área se retirassem da Fazenda de forma voluntária e pacífica, e que procurassem os meios legais para que pudessem entrar e permanecer na fazenda, uma vez que não apresentaram nenhum documento que legitimasse a implantação de seus barracos naquela área.

De acordo com informações obtidas por nossa reportagem, após intensa conversação e orientação entre a Polícia Militar e as pessoas que estavam montando seus barracos, alguns integrantes do grupo fizeram contato com Hugo Zaidan e, logo após, resolveram de forma pacífica e ordeira desocupar a área, desmontando seus barracos e retirando todos os seus pertences (lonas, botijões de gás, enxadas, foices, facões, etc).

Também no sentido de se evitar maior tumulto e até mesmo algum tipo de conflito com os envolvidos no evento, apenas parte do grupo de invasores foi qualificada pela Polícia Militar no local, e não foi realizada a condução de nenhuma delas para apresentação na Delegacia de Polícia Civil em Alto Paraíso de Goiás.

A área foi totalmente desocupada de forma voluntária por volta das 17:45 horas do sábado, 1º de janeiro, sem nenhum incidente e nenhuma resistência por parte dos invasores, sendo todo o fato devidamente registrado e encaminhado à autoridade Policial Civil local para as devidas e cabíveis providências.

No decorrer da operação comandada pelo Capitão P. Júnior junto ás equipes de área do 2º Pelotão Operacional de São João D’Aliança, também compareceram para dar apoio no local a Viatura 1.131.76 da 5ª CIA do Batalhão Rural (Comandante de Equipe: 1º SGT PM Rômulo; Motorista: SD PM Allan; Auxiliar: 3º SGT PM Guimarães) e a Viatura 112.544 do 21º BPM/ Planaltina de Goiás (CB PM Abílio; CB PM Élio).

O que dizem os invasores.

Nossa reportagem não conseguiu contato com Hugo Zaidan, para que ele pudesse dar sua versão sobre os fatos, mas conseguimos falar com Josilene Maria dos Reis, citada como uma das lideranças envolvidas na ação que culminou na invasão da Fazenda Cerrado.

Segundo Josilene, ela é tesoureira da Associação Comunidade Rural do Cerrado, que tem como presidente o senhor Florentino Gomes Pereira, que não pode participar da ocupação da Fazenda Cerrado por estar adoentado.

Josilene do Reis afirma que a Associação não tem vínculo com o grupo de Hugo Zaidan, e que ele lá esteve para dar apoio ao ato de ocupação, que tem como principal motivação chamar a atenção do INCRA para a demanda dos trabalhadores sem terra, que pede ao órgão (INCRA) que participe do Leilão das terras da Fazenda Cerrado, e que doe a terra adquirida no Leilão para que se faça o assentamento de famílias de produtores rurais sem terra.

Josilene diz ainda que a ocupação foi pacífica e que não houve, em nenhum momento, tentativa de se aproximarem dos silos bolsas que armazenam os grãos apreendidos.

“Os integrantes de nossa Associação estavam conscientes de que não haveria danos a nada dentro da Fazenda. Tanto que assim que chegamos, conversamos com os seguranças, que disseram já saber que iríamos até lá, e nos orientou a montar nossos barracos na parte de baixo, longe dos depósitos dos grãos, e assim fizemos. A intenção da Associação Comunidade Rural do Cerrado nessa ocupação foi somente de chamar a atenção do INCRA para que ele participe dos Leilões, pois essas terras estão embargadas porque foram compradas como lavagem de dinheiro. Não fomos para destruir nada, tanto que saímos pacificamente da Fazenda assim que a Polícia Militar nos orientou.” Disse Josilene Maria dos Reis.

Sobre a presença de Hugo Zaidan, Josilene Reis diz que ele deu apoio ao pessoal da Associação Comunidade Rural do Cerrado no inicio da ocupação, e que depois se retirou do local.

Histórico

O conflito em relação a essas terras pertencente ao espólio de Abib Miguel já chega a quase uma década, e já esteve no centro de diversos embates entre invasores, INCRA e a  justiça federal e estadual como publicamos na reportagem Conflito agrário leva insegurança ao nordeste goiano, em 4 de novembro de 2015.

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