REFLEXOS

Das mulheres, a segunda irmã, logo depois de Lilita (Maria Alice) casada com Herculaninho, filho de José Herculano Pires, aquele que foi reconhecido como o melhor metro que mediu Kardec no século XX; Maria Catarina,
carinhosamente apelidada  TOTA, solteira, doutora em pedagogia, dedicada à educação, desde a sua primeira formação em magistério, depois dos 64 anos de vida, partiu de volta ao Mundo dos Espíritos.
Ainda criança, cerca de 4 anos de idade, esteve na porta do Cemitério Saudade, em Birigui, interior de São Paulo, de lá voltando por obra e graça de Deus e da intuição do médico da família Dr. Magalhães, de saudosa memória, porque quando eu tinha 12 anos, retirou-me o apêndice que havia supurado, o doutor que vinha tratando de todos, inclusive tendo participado de partos de nossa mãe.
Disse que Catarina esteve na porta do Cemitério porque, desenganada pelo terrível tétano que a afligira quando já havia enrolado a língua e revirado os olhos, recuperou-se para participar de uma vida material onde fez da atividade contínua a sua tônica, sempre com um sorriso para todos.
Simples, caminhou como a onça pintada (Ibrahim, meu primeiro irmão, apelidara-a de “onça pintada” pela sua natureza cuidadosa e tranquila e pelas sardas do rosto), arrostando os perigos que tanto a assoberbaram, vencendo as escaramuças do destino, nunca deixando se abater diante de nenhuma dificuldade.
Grande mulher! Nunca se casou, pois em três oportunidades viu frustrados os sonhos de ter um companheiro e filhos, naturalmente. Então dedicou seu carinho e seu amor aos sobrinhos e aos sobrinhos netos como se fossem extensão da prole que não teve. Mas, jamais se esqueceu de amar o pai David e a mãe Maria, quando ainda encarnados e aos oito irmãos, três mais velhos inclusive este escriba, o mais velho dos irmãos e cinco mais novos que ela.
Na vida material destacou-se como excelente educadora dirigindo colégios em São Paulo e faculdades em Curitiba, no Paraná e no interior paulista.
Médium, Catarina viu, ouviu e cedeu suas cordas vocálicas aos espíritos de Deus. Não se tornou espírita, e mesmo sem ter lido qualquer obra da Doutrina dos Espíritos, inquestionavelmente demonstrou elevadíssimo grau de espiritualidade em todos os seus atos como ser humano, bem como no carinho e no profundo amor ao próximo.
Jamais sua boca emitiu qualquer xingamento ou dissera palavra ofensiva à moral, aos costumes ou contra quem quer que fosse, bem como nunca se viu colhida em perorações vexatórias ou tergiversara com a verdade, nem com a beleza da vida.
Alegre por natureza, sóbria no comportamento, depois da desencarnação dos pais, foi cúmplice e confidente no amor entre os irmãos mais velhos e amparo, ternura e segurança nos aconselhamentos aos irmãos mais novos, sem exceção.
Teve poucos amigos, mas amou intensamente e com extrema lealdade a todos.
Ao final de seus dias nessa jornada terrena, dedicou-se ao estudo da Bíblia tornando-se evangélica, mantendo acesa a chama das trocas de aprendizado e de ensinamentos com seus irmãos sanguíneos do credo católico e da Doutrina Espírita.
Seu retorno ao Mundo Espiritual foi nimbado de luz, própria daqueles que bem cumpriram suas tarefas e missões terrenas. A alegria incomensurável trazida no abraço de acolhida pelos que a antecederam na grande Vida, inclusive seus avós Gibran, os pais, tios, Anelise, Maria Inês I e Maria Inez II, Elias, Jorge, Heleninha e tantos outros que estiveram ligados por indissolúveis laços de fraternidade corporal e também cristã, marcou o retorno da alma boníssima e querida da Totinha, aos Arrais da Espiritualidade Maior.
Essas demonstrações dos espíritos quando da volta de um encarnado ao Mundo Espiritual, são reflexos das boas conquistas daquele que retorna.
Tota, ou Maria Catarina, ou só Catarina, está já engajada na faina dos discípulos de Cristo que, libertos da matéria, trabalham sem cessar, emitindo seus reflexos pelo bem da humanidade, conforto dos necessitados e segurança dos trabalhadores da última hora.

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Conto

A  F I C H A

Irmã X, médium Chico Xavier

João Mateus, distinto pregador do Evangelho, na noite em que atingiu meio século de idade no corpo físico, depois de orar enternecidamente com os amigos, foi deitar-se para um merecido descanso. Sonhou que alcançava as portas da Vida Espiritual e, deslumbrado com a leveza de que se via possuído, intentava alçar-se, para melhor desfrutar a excelsitude do Paraíso, quando um funcionário de Passagem Celeste se aproximou, a lembrar-lhe solícito: “João, para evitar qualquer surpresa desagradável no avanço, convém uma vista d`olhos em sua ficha…”
E o viajante recebeu primoroso documento, em cuja face leu, espantadiço:
– João Mateus
– Renascimento na Terra em 1904
– Berço manso
– Pais carinhosos e amigos
– Inteligência preciosa
– Cérebro claro
– Instrução digna
– Bons livros
– Juventude folgada
– Boa saúde
– Invejável noção de conforto
– Sono calmo
– Excelente apetite
– Seguro abrigo doméstico
– Constante proteção espiritual
– Nunca sofreu acidentes de importância
– Aos 20 anos de idade, empregou-se no comércio
– Casou-se aos 25 em regime de escravização da mulher
– Católico romano até os 26
– Presenciou, sem maior atenção, 672 missas
– Aos 27 de idade, transferiu-se para as fileiras espíritas
– Compareceu a 2.195 sessões de Espiritismo, sob a invocação de Jesus
– Realizou 1.602 palestras e pregações doutrinárias
– Escreve cartas e páginas comoventes
– Notável narrador
– Polemista cauteloso
– Quatro filhos
– Boa mesa em casa
– Não encontra tempo para auxiliar os filhos na procura do Cristo
– Efetuou 106 viagens de repouso e distração
– Grande intolerância para com os vizinhos
– Refratário a qualquer mudança de hábitos para a prestação de serviços aos outros
– Nunca percebe se ofende ao próximo, através de sua conduta, mas revela extrema suscetibilidade ante a conduta alheia
– Relaciona-se tão-somente com amigos do mesmo nível
– Sofre horror às complicações da vida social, embora destaque incessantemente o imperativo da fraternidade entre os homens
– Sabe defender-se com esmero em qualquer problema difícil
– Além dos recursos naturais que lhe renderam respeitável posição e expressivo reconforto doméstico, sob o constante amparo de Jesus, através de múltiplos mensageiros, conserva bens imóveis no valor de 600 mil Cruzeiros e guarda em conta de lucro particular a importância de 302 mil Cruzeiros
– Para Jesus, que o procurou na pessoa de mendigos, de necessitados e doentes, deu durante toda a vida 90 centavos
– Para cooperar no apostolado do Cristo, já ofereceu 12 cruzeiros em obras de assistência social
– DEBITO
Quando ia ler o item referente às próprias dívidas, fortemente impressionado, João acordou.
Era manhãzinha…
À noite, bem humorado, reuniu-se aos companheiros, relatando-lhes a experiência.
Estava transformado, dizia. O sonho modificara-lhe o modo de pensar. Consagrar-se-ia doravante ao trabalho mais vivo, no movimento espírita: pretendia renovar-se por dentro, reuniria agora palavra e ação.
Para isso achava-se disposto a colaborar substancialmente na construção de um lar, destinado à recuperação de crianças desabrigadas que, desde muito, desejava socorrer.
A experiência daquela noite inesquecível era, decerto, um aviso precioso. E, sorridente, despediu-se dos irmãos de ideal, solicitando-lhes novo reencontro para dia seguinte. Esperava assentar as bases da obra que se propunha levar a efeito.
Contudo, na noite imediata, quando os amigos lhe bateram à porta, vitimado por um acidente das coronárias, João Mateus estava morto.

 

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