Realizando o sonho do próprio negócio
Letícia Santana
Fotos: Julimar de Brito
No fundo de casa, em um cômodo de 21 m², está a esperança de um futuro melhor para a batalhadora Milene Santos da Costa, de 25 anos. Morando com os pais e o filho de 9 anos em uma casa simples no Parque Anhanguera 2, a estudante de hotelaria já estava cansada da rotina diária em que as 24 horas do dia já não eram suficientes para tantos afazeres. O “clique” para a mudança de vida aconteceu após uma festinha realizada na empresa onde trabalhava.
“Compraram salgadinhos para uma confraternização do serviço. Ao experimentar percebi que não estavam saborosos. Como sempre gostei dessa área da gastronomia e já fiz um curso técnico de três anos de alimentação, percebi que seria o momento de deixar de trabalhar longe de casa e de enfrentar ônibus lotado todo dia”. Mas apesar da empolgação, Milene não tinha condições financeiras para iniciar o negócio.
Filha de dona de casa e de vendedor de picolé na rua, Milene viu no Banco do Povo a perspectiva de obter o financiamento necessário para dar o pontapé inicial em seu sonho. “Nunca passou pela minha cabeça ter um empreendimento próprio, mas não estava feliz com a vida que levava”. Em junho deste ano pesquisou sobre formas de empréstimo e o Banco do Povo foi o mais atrativo, já que os juros – de 0,25% – eram bem mais baratos do que os oferecidos pelas instituições bancárias.
Ela construiu a cozinha com um empréstimo da Caixa Econômica Federal e com R$ 10 mil do Banco do Povo comprou os equipamentos como liquidificador industrial, forno, freezer, balança, mesa de inox, fritadeira, entre outros. Em agosto, após divulgar seu novo negócio, o Sonho Doce, ela já começou a atender confraternizações, festas de casamento e aniversários com os salgadinhos fritos e assados. Aproveitando as mãos de fada para a cozinha, ela também faz bolos e doces.
“Com foco na qualidade e segurança alimentar, vendo meus salgados por um preço mais acessível, que muita gente considera até barato”. O cento do salgado é vendido por R$ 38, bolo a R$ 40 o quilo e docinhos a R$ 35 o cento. Com a ajuda da mãe, a média vendida neste início de nova vida é de dois mil salgados no mês. Atendendo inicialmente mais a região em que mora, Milene já tem perspectiva para o futuro. “Quero expandir a minha cozinha, já que tenho mais espaço no quintal de casa, além de comprar mais equipamentos”.
Financiando sonhos
O Banco do Povo é um programa de geração de emprego e renda para milhares de famílias em Goiás. Ligado a Secretaria de Gestão e Planejamento do estado de Goiás (Segplan), já realizou, só nos meses de agosto e setembro, 495 atendimentos e viabilizou R$ 2 milhões e 520 mil em financiamentos. Atualmente o programa conta com 4.500 clientes ativos.
Apesar da crise que afeta todo o País, a chefe do Núcleo Executivo do Fundo de Financiamento do Banco do Povo, Ana Cristina da Silva, afirma que pelos números de atendimentos, fica claro que o momento de recessão não tem diminuído o interesse de montar um negócio. Mas ressalta que em virtude deste momento, a análise de risco está ainda mais criteriosa.
“Um grupo de analistas de crédito do Banco do Povo, com muita experiência, faz essa análise. Sempre vemos a viabilidade do empréstimo, se o tipo de empreendimento tem possibilidade de dar certo ou não, a localização e se vai ter clientela para este empreendimento que vai abrir. Além de verificar a parte de documentos, também analisa se o cliente é perfil do Banco do Povo”, diz Ana.
As condições para financiamento são: residir no município há pelo menos três anos, possuir habilidade na atividade pretendida, manter matriculados os filhos em idade escolar, não ter restrição de crédito e dedicar exclusivamente ao empreendimento proposto. A liberação do empréstimo varia de R$ 500 a R$ 10 mil para o financiamento de máquina, equipamentos e mercadorias para revenda e/ou matéria prima.
Negócios mais buscados
Entre os empreendimentos mais procurados, Ana Cristina destaca a confecção, salão de beleza, oficina mecânica, lanchonete. Na área rural, atende o pequeno produtor, a maioria para compra de ordenhadeira mecânica e pivô para irrigação. A chefe explica que o dinheiro é repassado diretamente ao fornecedor após o cliente verificar diferentes orçamentos. As parcelas são pagas mensalmente pelo cliente num valor pactuado em conjunto entre os analistas e o dono do negócio.
Em Goiás, há 187 agências do Banco do Povo em 187 municípios. Para conhecer as unidades, acesse o site da Segplan. O Banco do Povo também está presente em eventos como o Governo Junto de Você e na Ação Cidadã. “Neste momento também estamos em uma grande parceria com o Sebrae, que é o Movimento Compre do Pequeno. Na verdade, essa iniciativa do Sebrae vem ao encontro do público do Banco do Povo. Nosso público é justamente o pequeno. Além de fortalecer, é uma forma de conscientizar as pessoas a comprarem do pequeno”.
Consultoria e incentivo
Se de um lado, os novos empreendedores podem contar com empréstimos do Banco do Povo, do outro tem o Sebrae oferecendo capacitação e consultoria para dirigir bem este novo negócio. Com o objetivo de impulsionar a economia dos pequenos negócios, o Sebrae criou o Movimento Compre do Pequeno. O dia D da ação é esta segunda-feira, 5 de outubro, data em que se comemora o Dia Nacional da Micro e Pequena Empresa. O gerente de Atendimento do Sebrae Goiás, Ulisses Fontoura, explica que o movimento está sendo promovido pelo Sebrae, mas a ideia é ser um movimento da sociedade. “É preciso que a sociedade se conscientize da importância do pequeno negócio”. Conheça o vídeo do Movimento:
Segundo Ulisses, no Brasil, os pequenos e micro empreendedores são responsáveis por 95% do fortalecimento da economia. São 10 milhões de microempreendedores no País. Em Goiás os números também são bem consistentes. “Temos 415.368 empresas. Microempreendedores Individuais, Microempresas e Pequenas Empresas somam 381.322 representando 91,8% do total do Estado”, explica. É este tipo de negócio que também movimenta positivamente o PIB.
O gerente informa que o classificado microempreendedor – MEI – fatura até R$ 60 mil por ano. A microempresa, R$ 360 mil/ano. Já o pequeno empreendedor pode faturar até R$ 3 milhões e 600 mil por ano. Ulisses ressalta os pontos positivos de se valorizar o pequeno negócio. “É perto da sua casa. É responsável por 52% dos empregos formais no País. E, principalmente, o dinheiro fica no bairro. Todos se beneficiam ao fomentar o pequeno”.
Foi desse atendimento à comunidade do bairro que Thiago Franco, de 36 anos, alavancou o seu negócio. Em 2008, o administrador de empresas por formação, montou uma distribuidora de bebidas no Jardim América. Sempre contando com consultoria do Sebrae e com um investimento inicial de R$ 20 mil, hoje Thiago comemora o crescimento.
A distribuidora que atendia ao público mais próximo do bairro deu lugar a uma loja de bebidas. Aumentando o seu raio de atuação, Thiago continuou vendendo as cervejas tradicionais a baixo custo, mas investiu em bebidas especiais também, como vinhos, cervejas, destilados e chopp delivery. “Temos bebidas aqui de R$ 8 a R$ 250”. A loja é toda decorada, vende também souvenir com a marca que leva o nome da loja, Parada 21.
“Não acomodei. Queria ter uma marca e ser um modelo de negócios”. Em novembro, Thiago vai abrir uma franquia em Brasília e a expectativa é abrir mais duas unidades em Goiânia. Discreto quanto ao faturamento, ele apenas garante que está feliz com o andamento do negócio, em que fatura 10 vezes mais que no início.
Negócio de sucesso
Wilton Bastos, 33, entrou para o mundo do café espresso ainda em 1999. No início era técnico em máquina de café para uma empresa. Passando por vários cargos e já com experiência no ramo, percebeu que era hora de montar o próprio negócio. Em 2005 criou uma empresa, que atualmente é a Vissato Café e Complementos, no Jardim América. Como diretor comercial, Wilton já foi a países como Chile, Itália e Suíça para conhecer mais do mercado.
A empresa atende linha de produtos para cafeterias, churrascarias, hotéis, padarias, confeitarias e ainda oferece assistência técnica em todos os modelos de máquina para café espresso, forno combinado, máquina de lavar louças, linhas industriais e outros. Wilton diz que a persistência deve ser o lema de um empreendedor.
“Temos que ter objetivos sempre. Mas costumo brincar que já sou uma pessoa realizada profissionalmente. Comecei com uma máquina de café que custava R$ 600. Paguei R$ 300, que era o que tinha, e mais dois cheques de R$ 150. Uma trajetória árdua, turbulenta, mas a primeira coisa que tem que ter é persistência e foco. Um dia alcança”.
Wilton informa que vem numa crescente financeira, apesar da crise no País. Ele, que está na categoria de pequena empresa, começou faturando R$ 100 mil e hoje já chegou na casa do milhão. “Queremos fechar ano que vem com o dobro disso. Queremos crescer 100%”.
Ele ressaltou a importância do Sebrae para seu crescimento. Já fez vários cursos de consultoria desde o início da carreira. “Sempre que tenho algum objetivo, seja de expansão, seja dúvida, eu procuro o Sebrae”.
Parceiros que incentivam o sucesso
O Banco do Povo e o Sebrae, ambos com foco em fortalecer a economia e ajudar a melhorar a vida financeira das pessoas, realizam ações em conjunto. Além dos dois estarem participando do Movimento Compre do Pequeno, a chefe do Núcleo Executivo do Fundo de Financiamento do Banco do Povo, Ana Cristina da Silva, explica que os clientes do Banco do Povo recebem a consultoria do Sebrae.
São realizadas três visitas. A primeira para conhecer o empreendimento e fazer um diagnóstico, a segunda para orientar e fazer um plano de ação com tabela de custos, e a terceira para ver se o negócio está dando certo. “Só em Goiânia, até neste momento do ano o Sebrae visitou 344 clientes do Banco do Povo, com três visitas cada”.
Números do Movimento
Desde o início do Movimento Compre do Pequeno Negócio no Brasil, já foram realizados 750 seminários, 1400 clínicas tecnológicas (reuniões para tratar de tecnologia no empreendimento), 410 pontos adicionais com tendas para atender as empresas e oferecidos 20 mil cursos.
O gerente Ulisses informa que Goiás é o terceiro Estado a promover mais ações por conta do Movimento. Iniciada em 14 de setembro no território goiano, a estimativa é promover 264 clínicas de tecnologia, 4080 atendimentos, 3600 orientações, além de oferecer 24 cursos presenciais até nesta segunda-feira, dia 5, e diversos cursos online para quem deseja empreender.
O gerente informa que o micro e pequeno empreender pode acessar o site www.compredopequeno.com.br e se cadastrar. Assim, quando o cliente estiver próximo à empresa procurando determinado tipo de empreendimento, haverá uma ferramenta que passará a localização, distância e informações gerais da empresa. “Por exemplo, está na hora do almoço e a pessoa quer encontrar um restaurante próximo ao seu trabalho. Basta acessar o site que terá essas informações de forma mais fácil”.
No dia D da Campanha, nesta segunda-feira, dia 5, em Goiás haverá uma caminhada para lembrar à sociedade da importância dos micro e pequenos empreendedores para a movimentação da economia. Os participantes sairão da Rua 4 com a Avenida Araguaia e caminharão até chegar a Praça Cívica, no Centro de Goiânia, onde formarão um coração, símbolo da campanha.