Turismo na copa: Descendentes de escravos aprendem inglês

Cachoeira da Ave Maria, no caminho para o Engenho 2, um Paraíso nas terras Kalungas

Curso está sendo feito por guias turísticos da Chapada dos Veadeiros. Kalungas querem poder contar a própria história aos torcedores estrangeiros.
Os guias turísticos da comunidade Kalunga localizada na Chapada dos Veadeiros, parque situado na cidade de Alto Paraíso de Goiás, a 412 km de Goiânia, estão tendo aulas para aprender inglês. O objetivo é se comunicar bem com os turistas que vêm do exterior, principalmente para a Copa do Mundo de 2014.
Vinte guias descendentes de escravos que moram no local estão fazendo o curso. É uma novidade que, em uma região onde a escola só chegou na década de 1980, encanta os moradores. “Nossa, eu estou achando super legal, porque é uma oportunidade única. Eu espero fazer um bom uso porque eu já precisei várias vezes”, conta a guia turística kalunga Nathália Rosa.
Os estrangeiros ainda são novidade, mas não param de chegar. O problema é que a maioria dos guias ainda não consegue se comunicar com eles. Muitos ainda insistem em manter a comunicação por meio de gestos, mas eles sabem que não é a melhor opção. A guia Áurea Santos, que também é kalunga, conta que já teve problemas ao tentar ser entendida por mímicas.
“Eu fiz um gesto para eles perguntando se eles sabiam nadar e eles pularam na água pensando que eu estava falando para eles entrarem na água. Felizmente, todo mundo sabia nadar”, diz.

Turismo
O turismo é a 2ª maior fonte de renda da comunidade. Com a Copa, eles esperam aumentar o faturamento. A diária de um guia na região chega a ser três vezes maior quando ele é bilíngue. A presidente da Associação dos Kalungas, Isabel Maia, afirma que, com o aprendizado do idioma inglês, será possível manter uma relação de confiança com os turistas.
“Muitas vezes, a gente fica ouvindo outro guia falar e não sabemos se ele está falando realmente a nossa história certa ou não. Então, é mais do que justo e confiável o próprio povo contar a sua história e é também o que eles [turistas] querem ouvir”.
Os kalungas ficaram isolados da civilização por cerca de três séculos. Somente a partir do ano 2000, eles permitiram a entrada de turistas no antigo quilombo. As serras na Chapada dos Veadeiros, que no passado protegeram escravos fugitivos, hoje são uma atração a mais. O território de 263 mil hectares guarda preservados dezenas de lagos e cachoeiras.
O turista de Curitiba Yan Gillembrandt foi visitar o local com a namorada e ficou impressionado: “A gente conheceu por foto, mas, quando chega aqui, percebe que é tudo maior. Superou as expectativas. As cachoeiras são lindas e a água, cristalina”.
Chapada dos Veadeiros
Todos os anos, a região da Chapada dos Veadeiros recebe centenas de turistas que buscam tranquilidade, entrar em contato com a natureza e praticar esportes de aventura. As formações rochosas, a diversidade da vegetação de cerrado, a fauna com espécies raras, as nascentes e as cachoeiras fizeram com que o Parque, criado em 1961, recebesse o título de Patrimônio Natural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O visitante pode conhecer cerca de 20 cachoeiras e escolher entre mais de 25 opções passeios.

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