Quando encontraremos seres alienígenas?

O astrônomo americano Chris McKay começou a procurar vida extraterrestre em 1976, quando as sondas Viking 1 e 2 pousaram em Marte pela primeira vez.P9-AlienNa época estudante no primeiro ano da universidade, McKay se encheu de expectativa de que o planeta abrigasse alguma forma de vida. Mas as naves não encontraram nenhuma molécula orgânica em Marte.
Hoje trabalhando no Centro de Pesquisas Ames da Nasa, McKay sofreu com as gozações dos colegas ao investir boa parte de sua carreira na astrobiologia, área desprestigiada entre os astrônomos.
Quatro décadas depois, ele finalmente pode se sentir vingado. Sondas robóticas continuam a explorar o Sistema Solar, visitando planetas, luas e asteroides, e estão encontrando ambientes aquosos que poderiam possibilitar o surgimento de micróbios.
A vida alienígena é vista hoje como uma possibilidade em todo o espaço – e não só no Sistema Solar.
Fora dele, astrônomos já descobriram milhares de planetas – e estimam que só a nossa galáxia pode estar cheia de centenas de bilhões deles. Muitos podem ser semelhantes à Terra, com oceanos e atmosfera.
Nas próximas décadas, novos telescópios e sondas espaciais vão procurar sinais de vida no Sistema Solar e além. “Temos uma chance razoável de encontrar planetas iguais à Terra e evidências de vida por volta do ano 2030”, afirma Jim Kasting, cientista planetário na Penn StateUniversity, nos Estados Unidos.
E, pela primeira vez na história da humanidade, os astrônomos têm um plano e os meios para responder à eterna pergunta sobre se estamos ou não sozinhos no Universo.
Sem dúvida alguma, a forma de vida mais animadora seria a inteligente, com seres como o ET de Steven Spielberg ou os alienígenas do romance Contato, de Carl Sagan.
Mas é preciso lembrar que, enquanto a vida surgiu na Terra há cerca de 3,5 bilhões de anos, o Homem só apareceu 200 mil anos atrás.
Se encontramos vida lá fora, é muito provável que ela seja microbiana.
E alguns desses organismos podem até já estar no nosso quintal cósmico.
Um lugar intrigante para procurar por seres vivos é Titã, a maior lua de Saturno. O local tem uma atmosfera densa e é o único outro astro do Sistema Solar, fora a Terra, que é coberto por mares e lagos – mas cheios de metano líquido, e não água.
Isso não torna a vida impossível, apenas menos provável. Seres vivos em Titã também teriam que sobreviver a temperaturas de cerca de -180ºC.
A água líquida ainda é o ingrediente mais importante para o desenvolvimento da vida da forma como a conhecemos. E os equipamentos à solta no espaço estão descobrindo que nosso Sistema Solar pode ser particularmente cheio dela.
Em março, o telescópio Hubble fez observações que sugerem a presença de um oceano sob a superfície da maior lua de Júpiter, Ganimedes.
E a sonda Dawn está na órbita de Ceres, um planeta-anão no cinturão de asteroides cujo volume é formado de 40% de água e que também pode ter um oceano líquido sob sua superfície.
Entre os abrigos de vida mais promissores estão Marte, a lua Encélado (de Saturno), e a lua Europa (de Júpiter).
Em Marte, o ambiente mais propício é debaixo da superfície do planeta, a cerca de 1 quilômetro de profundidade, onde a temperatura é quente o suficiente para que exista água em forma líquida. “Eu diria que há uma chance de 50% de haver vida em Marte neste instante”, afirma Kasting.
Provar isso, no entanto, exigiria que astronautas façam perfurações no planeta.
Também seria necessário perfurar profundamente para encontrar vida em Europa. Uma grossa camada de gelo pode esconder um oceano potencialmente habitável.
Mas pousar em Europa e fazer perfurações é algo difícil e caro. Então, é possível que mesmo que uma sonda seja enviada a essa lua, ela a observará do espaço.
Por tudo isso, McKay acredita que Encélado – que também pode conter um oceano sob a sua superfície – é uma aposta mais viável.
A lua gelada se tornou um destino quente em 2009, quando a sonda Cassini descobriu colunas de água que atingiam centenas de quilômetros de altura. Esse jatos, que provavelmente saíam diretamente do oceano abaixo da superfície, poderiam conter sinais de vida. “É possível enviar uma sonda que voe através desses jatos de água. Não é necessário fazer perfurações”, defende McKay.
O telescópio espacial James Webb deve ser lançado em 2018 para observar exoplanetas
Essa sonda procuraria por dois tipos de moléculas: lipídios e aminoácidos. As primeiras são essenciais para a estrutura e o funcionamento das células, enquanto as segundas são “tijolos” na formação de proteínas.
A presença dessas moléculas certamente sugeriria a existência de alguma forma de vida.
Mas McKay admite que essa possibilidade ainda é uma grande fantasia. Micróbios nem sempre se revelam de maneira tão fácil – ou pode ser que eles nem existam.
Talvez as melhores chances estejam fora do nosso Sistema Solar. E um telescópio espacial pode facilmente observar dezenas ou até centenas de possíveis planetas habitáveis, procurando por oxigênio e outros gases que possam revelar a existência de alienígenas vivos.
Em 2017, a NASA deve lançar o satélite TESS, que vai procurar por planetas mais perto da Terra e sinalizá-los para o telescópio espacial James Webb (JWST). Este equipamento será lançado em 2018 e vai “varrer” os planetas em busca de indícios de gases.
Como o oxigênio reage facilmente a outros compostos, para que uma atmosfera contenha uma grande quantidade dele seria necessário que o planeta estivesse constantemente alimentando-a com algo vivo. É que fazem as plantas e as bactérias aqui na Terra.
Mas os seres terrestres produzem milhares de gases, apenas alguns deles em quantidade suficiente para serem detectados do espaço.
E mesmo que os astrônomos encontrem alguns desses gases nesses exoplanetas, eles não necessariamente podem estar sendo emitidos por seres vivos – mas por fontes hidrotermais e vulcões, por exemplo.
Para determinar se um gás é ou não de origem biológica, os cientistas terão que estudar a química e as propriedades específicas de cada planeta.
Outro problema é que ninguém sabe exatamente como é a vida alienígena, portanto todos os indícios biológicos buscados são baseados na vida terrestre.
Para Sara Seager, astrônoma do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), a maneira mais eficiente de trabalhar seria identificar qualquer tipo de gás que estiver estável e abundante em uma determinada atmosfera, independentemente de ser produzido também na Terra.
Para o telescópio espacial James Webb detectar vida, também será necessária uma boa
dose de sorte, pois o telescópio foi projetado antes de os astrônomos descobrirem que a galáxia tem bilhões de planetas.
Além disso, ele só consegue estudar planetas que transitem na frente de seus próprios sóis, o que requer um alinhamento perfeito.
Se a exploração não der resultados, será necessário projetar um telescópio que possa observar um planeta diretamente, com o apoio de outra nave capaz de bloquear a luz daquele sol. “Essa seria a maneira mais eficiente de aumentar as chances de encontrar vida”, explica Kasting.
De qualquer forma, o otimismo dos cientistas vem do número e da diversidade de planetas existentes no espaço. “Sabemos que existem atmosferas por aí, então pela primeira vez existe essa possibilidade de encontrarmos vida. Seria um erro não aproveitar essa oportunidade”, define Seager.
Fonte: Marcus Woo da BBC Earth

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