Nordeste goiano: Estrada dos Kalungas ganha forma

Uma estrada de 69 quilômetros de extensão será licitada em março para interligar as comunidades Kalungas ­ descendentes de escravos – Vão Moleque, Pouso do Padre e Vão das Almas 1 e 2, localizadas na Região Nordeste de Goiás, próximo a Chapada do Veadeiros.

Paula Falcão

Uma estrada de 69 quilômetros de extensão será licitada em março para interligar as comunidades Kalungas ­ descendentes de escravos – Vão Moleque, Pouso do Padre e Vão das Almas 1 e 2, localizadas na Região Nordeste de Goiás, próximo a Chapada do Veadeiros. A Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) empenhou R$ 1 milhão do R$ 18,5 milhões destinados à obra, orçada em R$ 22,5 milhões. O restante será liberado pela Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop). Também faz parte do convênio a Secretaria de Igualdade Racial.
O percurso, que partirá do entroncamento com a GO-241, entre os municípios de Cavalcante e Minaçu, segundo o diretor-superintendente da Sudeco, Marcelo Dourado, é uma reivindicação antiga dos cerca de 5 mil quilombolas que vivem naquelas comunidades. “Juntou a comunidade todinha e pediram: ‘Marcelo, o que a gente mais precisa é a implantação da estrada’”, disse Dourado.
“Os Kalungas estão se aproximando da sociedade. Eles viram a necessidade de melhorar o acesso”, conta o diretor de obras viárias da Agetop, Marcos Musse, que visitou as quatro comunidades nas cidades de Teresina de Goiás, Monte Alegre de Goiás e Cavalcante em março do ano passado. “A estrutura ajudará o turismo na região. Eles querem sobreviver com isso”, argumenta Musse, um dos responsáveis pela elaboração e execução da estrada. “O mais importante é que depois de muitas promessas a gente está transformado a realidade econômica da região”, ressalta Dourado.
De acordo com o projeto, a estrada terá 28 pontes, devido a geografia da região, onde ocorre a junção de três grandes bacias hidrográficas: do Tocantins, do Prata e do São Francisco. Sete pontes já podem ser construídas com R$ 1 milhão liberados. “É um local difícil”, diz Musse, sobre o Sítio do Patrimônio Histórico e a Reserva Cultural Kalunga, “mas a estrada terá condições de tráfego o ano todo.” A expectativa da Agetop é que as obras comecem em abril de 2013 e durem sete meses.

Proteção
A área da Reserva Calunga é alvo de constante de investigações do Ministério Público Federal, em Goiás,(MPF-GO), que pretende conservar o patrimônio cultural quilombola, inibindo a atividade mineradora na região – são 207 empreendimentos explorando ouro e 150 empreedimentos de pesquisa, segundo dados do MPF.
A construção da estrada também já foi alvo de investigação, mas não foi adiante. O último processo, que se refere diretamente à estrada, foi arquivado na Procuradoria da República do Distrito Federal, em 2008. As investigações, de modo geral, segundo informações do MPF-GO, diziam respeito ao tombamento de território e proteção da cultura calunga.

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