NONO AUMENTO – Gasolina já subiu 28% na bomba em 2021. Vai chegar a R$ 7 o litro? Descubra.
Alta do petróleo e maior consumo do combustível no país, com avanço da vacinação e da mobilidade, pressionam preço. Petrobras já fez nove reajustes em 2021.
A alta nos preços do petróleo no mercado internacional levou a Petrobras a praticar o nono aumento do ano no valor do litro da gasolina vendida para as refinarias na última quarta-feira. Na bomba, o combustível já acumula alta de 28,21% no país, e especialistas avaliam que o preço deve continuar subindo nos próximos meses.
Em algumas cidades, como no Rio de Janeiro, pode superar o patamar de R$ 7 o litro nos postos, dizem. O aumento do petróleo ocorre em um momento de maior abertura da economia e elevação do consumo interno e externo, com o avanço da vacinação e a retomada de atividades presenciais em vários países.
Para Paulo Feldmann, professor de economia da FEA-USP, a oferta de petróleo é ainda menor do que a demanda, e o fato de países mais desenvolvidos estarem se recuperando economicamente está intrinsecamente ligado à alta dos preços.
“A reabertura e a retomada da economia, em países como Estados Unidos e China, estimulou a demanda internacional do petróleo, o que pressiona o preço no mercado internacional. Mas este crescimento pode não ser tão sustentável no longo prazo”, explica.
Alta de 12% no consumo
No Brasil, o consumo registra aumento, embora ainda em patamares mais baixos do que os registrados em 2019, ano anterior à pandemia. Em junho, as vendas totais de combustíveis por distribuidoras subiram 12,1%, na comparação com igual período do ano passado, atingindo cerca de 11,4 bilhões de litros.
No acumulado do ano, as vendas tiveram alta de 7,9% em relação ao mesmo período de 2020, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Diante deste cenário, a gasolina acumula alta de 51% nas refinarias. No último reajuste, o preço médio por litro do combustível vendido às distribuidoras passou de R$ 2,69 para R$ 2,78. O avanço foi de R$ 0,09 ou 3,34% por litro.
A contribuição do preço da Petrobras para o preço na bomba é de 33%, segundo a ANP. Por isso, os preços praticados nas refinarias pela Petrobras são diferentes dos percebidos pelo consumidor final.
Eles são acrescidos de impostos federais e estaduais, custos para aquisição e mistura obrigatória de etanol anidro (15,7%), além de custos e margens das companhias distribuidoras e dos revendedores.
Cenário do médio e longo prazos
A média do preço da gasolina no país era de R$ 5,853 na semana de 1º a 7 de agosto, segundo o último levantamento da ANP. No Rio, a média era de R$ 6,407/litro, mas já é possível encontrar postos que cobram R$ 6,899.
André Braz, coordenador do IPC do FGV- IBRE, avalia que em algumas cidades, como na capital fluminense, o combustível pode superar a barreira dos R$ 7 até o fim do ano.
“A média de aumento dos combustíveis foi de 40,5%, em 12 meses, ou seja, cinco vezes a inflação acumulada neste período. Foi um aumento real brutal. E o cenário no mercado internacional ainda mantém a pressão sobre o preço do petróleo”, observa Braz.
Feldmann, da FEA-USP, pondera que as previsões de crescimento e de retomada da economia em vários países do mundo no pós-pandemia estão sendo reduzidas, o que pode levar a uma redução ou a uma estabilização da demanda no médio prazo.
Ele acrescenta ainda a importância das políticas de “descarbonização”, ou seja, desestímulo ao uso de fontes de energia que usam carbono, e a priorização de fontes de energia mais limpas, como incentivo à utilização de carros elétricos, especialmente nos Estados Unidos e em países europeus.
“O petróleo é um recurso finito, e o preço vai aumentar no médio e no curto prazos. Com a pandemia um pouco mais controlada e a retomada das atividades, o preço subiu e ainda vai subir um pouco mais. No longo prazo é que pode haver reversão desta tendência”, avalia Rubens Moura, professor de Economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.
Impacto do dólar
No Brasil, a cotação do real em relação ao dólar afeta diretamente o valor do combustível. Com a valorização da moeda americana, os preços em real sobem.
“Até antes da pandemia, estávamos com o dólar abaixo dos R$ 4. De repente, a moeda superou R$ 5. E o que custa US$ 70 chega ao Brasil cinco vezes mais caro”, afirma Feldman.
A disparada dos preços tem impactado muito os consumidores. Thales Almendro, de 31 anos, gasta mais de 50% de seu salário com combustível. Morador da Vila da Penha, na Zona Norte do Rio, ele visita três vezes por semana seu filho de 1 ano, que mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O percurso é de cerca de 90km.
“A locomoção é algo que não consigo economizar. E já tenho usado mais a bicicleta para distâncias menores”, explica.
Paulo Miranda Soares, presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), aposta em novas altas por causa da desvalorização do real e da política de preços adotada pela Petrobras.
“A gasolina nas refinarias já subiu mais de 50% só neste ano, e os postos não conseguiram repassar, para não perder clientes. Além disso, quando se pensa na paridade internacional de preços, a Petrobras está com defasagem. O consumidor brasileiro acaba, então, tendo que pagar essa conta”, avalia Soares.
Petrobras: ‘Sem risco de desabastecimento’
A Petrobras diz que a empresa busca evitar o repasse imediato para os preços internos da volatilidade externa causada por eventos conjunturais, mas segue o equilíbrio com o mercado internacional e acompanha as variações do valor dos produtos e da taxa de câmbio, para cima e para baixo.
“O alinhamento dos preços ao mercado internacional é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras”, disse a estatal em nota.
Segundo a empresa, assim, “há estímulo para investimentos em refino e logística, o que contribui para o aumento da oferta local, com benefícios diretos para o consumidor”.
Peso do etanol
O presidente da Fecombustíveis explica que ainda há outro fator que tem provocado a alta da gasolina: a variação de preço do etanol anidro, que representa 27% da fórmula do combustível.
Apesar de a maior parte do anidro usado no Brasil ser nacional, o recente fim da desoneração para importação do produto pode estar ajudando a pressionar os valores finais.
“Também é importante destacar que o etanol anidro já subiu 75% neste ano. Com o baixo período de chuvas, a produção da cana-de-açúcar teve queda”, acrescenta Soares.
FONTE: Agência O Globo