Não coloquem Deus nessa enxurrada!
Roberto Naborfazan
Os meios de comunicação mostram, ano após ano, os alagamentos de ruas e avenidas nas grandes cidades. São Paulo e sua região metropolitana já não conseguem vislumbrar soluções para os alagamentos que afligem sua população. Brasília e Goiânia começam a enfrentar os mesmos problemas. E o que tem sido feito pelos poderes constituídos para evitar tanta tragédia anunciada, pouco, quase nada.
Mas falar sobre alagamentos nos grandes centros é, desculpem o trocadilho redundante, chover no molhado. É preciso que estejamos focados nos pequenos municípios, nas pequenas comunidades, cobrando iniciativas e levando sugestões.
Na tarde de quarta-feira, 14, uma forte chuva caiu sobre Campos Belos, município localizado no nordeste goiano, com aproximadamente vinte mil habitantes, cercado por serras e divido por pequenos riachos, aos poucos transformados em rede de esgoto pela população, com a omissão repetente de governos municipais e órgãos defensores do meio ambiente. A população assistiu, assustada, suas principais ruas e avenidas serem tomadas por forte volume de enxurrada, que seguiu invadindo casas, arrastando veículos, derrubando muros, isolando pessoas. Vídeos e fotos postados em redes sociais mostram a intensidade e força da água barrenta. Foram vinte minutos de chuva não tão forte. E o período chuvoso está apenas começando.
Na última década, com maior intensidade, a sede do município viu suas serras serem defloradas por tratores e máquinas afins, n’um estupro consentido por todos, sob a luz do dia, que viram, viraram as costas e foram “cuidar de suas vidas”.
Há exceções. Gente como a pedagoga e doutora em educação, Odiva Xavier, vem alertando autoridades e a comunidade em geral sobre os cuidados com a natureza há muitos anos. A maioria faz ouvidos moucos.
Preguiçosos de ideias e ações, querem jogar a responsabilidade do alagamento para Deus. – Pediram tanto para chover, reclamaram tanto do calor, que Deus mandou a água que pediram – dizem alguns simplórios analistas.
Deus não pega ninguém pela orelha e o faz seguir suas ordens, Ele não castiga ninguém. As escolhas feitas pelo homem, são de responsabilidade do homem. Para isso existe o livre arbítrio. No caso específico da destruição da natureza, duas Leis devem ser observadas – Ação e Reação e Causa e Efeito.
A Lei de causa e efeito, nos ensina que, ao agirmos no universo, cada ato tem uma consequência, cada gesto, cada pensamento se reflete no universo micro e macro cósmico. Já o princípio da Ação e reação nos ensina que a qualquer ação se opõe uma ação igual, ou ainda, as ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e se exercem em sentidos opostos.
Populações que aceitam construções em encostas e serras, que aceitam e ainda agradecem asfalto sem rede de esgoto, meio-fio e “boca de lobos”, que não denunciam desmatadores e assassinos de nascentes, que não respeitam margens de rios, que jogam lixo nas ruas, que aceitam lixões a céu aberto, que contribuem para diversas formas de agressões a natureza, que assistem passivamente mandos e desmandos, estão fazendo suas escolhas.
Estão provocando a causa, terão de volta o efeito. São atores na ação, a natureza na reação. Portanto, parafraseando Exupéry, “Tú se tornas eternamente responsável, pelo lixo que atiras”. Não coloquem, então, Deus na enxurrada de vossas delinquências.
Se não querem alagamentos, enchentes, mortes, casas invadidas e destruídas, atuem na proteção do meio ambiente, na conscientização de seus pares, na cobrança efetiva de ações por partes dos gestores em todas as esferas. Ou então, é esperar por aquilo que realmente é de Deus; Amor e piedade por tanta iniquidade.
Roberto Naborfazan
Editor Geral de O VETOR.