MONITORADA 24 HORAS POR DIA – Anotação em prontuário médico deu início a resgate de mulher desaparecida há 21 anos.

Após consulta médica, profissional escreveu no prontuário que a paciente “não recebe salário para trabalhar e não tem permissão para ir e vir livremente”. O documento trazia, ainda, um questionamento: “paciente submetida a trabalho escravo.

Por Vítor Rosa**

As anotações de um prontuário médico deram início ao caso que culminou com o resgate de uma mulher que estava desaparecida há 21 anos. Adelaide Alexandrete, de 45 anos, prestava serviços domésticos sem remuneração em uma casa em Santa Maria, na Região Central do RS. Ao procurar atendimento num posto de saúde do município, uma médica notou um comportamento estranho.

“Paciente extremamente ansiosa, não recebe salário para trabalhar e não tem permissão para ir e vir livremente”, diz um trecho da anotação. O documento trazia, ainda, um questionamento: “paciente submetida a trabalho escravo?”.

Adelaide Alexandrete, de 45 anos, resgatada de condição análoga a de escravidão em Santa Maria — Foto: RBS TV/Reprodução

A pergunta colocou em alerta o Ministério do Trabalho e Emprego no município. A fiscalização foi até a casa da família em que ela trabalhava.

“A gente se apresentou e pediu para falar com a dona Adelaide. Acessamos o local que ela estava e ela já saiu com a cara branca dizendo ‘é comigo, é comigo, é comigo’. Visivelmente a gente sentia o pânico no rosto dela”, relembra o auditor fiscal do trabalho Rudinei Previatti.

Após o resgate, Adelaide foi enviada para um abrigo do município. O Ministério Público do Trabalho (MPT) também entrou no caso e acertou o pagamento de verbas rescisórias à mulher pelo empregador. O MPT busca, agora, reaver as mais de duas décadas de serviços prestados como doméstica sem remuneração.

“A gente identificou que foram 21 anos sem receber salários. Ela nunca teve férias, não tinha descanso semanal remunerado, 13º, férias. Nada ela recebeu”, afirma o auditor fiscal do trabalho Rudinei Previatti da Silva.

Anotação em prontuário questiona se resgatada era submetida a trabalho escravo — Foto: Reprodução/RBS TV

De acordo com as autoridades, o local em que Adelaide foi resgatada era separado por duas estantes vazadas, o que permitia que ela fosse monitorada 24 horas por dia. Ela afirma que tinha que tomar banho em uma bacia ao lado do quarto porque o banheiro não tinha chuveiro.

O procurador do Ministério Público do Trabalho Alexandre Maria Raganin diz que o empregador alega que acreditava que estava “fazendo um favor a uma pessoa em situação de vulnerabilidade, que não tinha como residir, e estava dando abrigo para ela”.

“O que a gente precisa deixar muito claro é que a legislação não autoriza que alguém, se valendo da condição de vulnerabilidade, explore da condição de vulnerabilidade, explore da condição de trabalho em troca apenas da sobrevivência. Isso não tem autorização da legislação brasileira. Terminou há mais de 100 anos”, sustenta o procurador.

A Polícia Federal (PF) de Santa Maria informou que acompanhou o resgate e aguarda o encaminhamento das informações do caso pelo MPT para decidir se vai instaurar um inquérito.

FONTE: RBS TV

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