Mau hálito tem solução
Odor ruim é causado por inúmeros fatores, entre eles
doenças graves como câncer e diabetes.
Bruno Folli*
O mau hálito é como a febre, um sintoma que pode representar centenas de problemas, alguns inofensivos e outros bem graves.
“O cheiro ruim pode ser da cebola que a pessoa comeu ou de um câncer que ela tem na boca e ainda não sabe”, exemplifica o dentista Celso Senna, consultor da Associação Brasileira de Odontologia (ABO).
As causas do odor desagradável são classificadas como fisiológicas ou patológicas. “Diabetes é uma delas”, aponta o dentista Celso Augusto Lemos Júnior, professor da Universidade de São Paulo (USP).
Ele explica que a doença provoca liberação de substâncias voláteis no organismo, capazes de provocar fortes odores. “Quando a glicose (açúcar) diminui, o corpo começa a usar fontes alternativas de energia. No processo, acontece a liberação de cetona (derivado da queima de gordura)”, explica Lemos Jr.
Essa substância causa odor desagradável quando o diabetes está descontrolado, algo comum quando a doença ainda não foi diagnosticada.
“O câncer de boca é outro problema que pode ser diagnosticado pelo mau hálito”, aponta o professor da USP.
Os tumores orais demoram a causar dor e outros sintomas, mas logo provocam halitose. “E é um odor mais forte, desses que a pessoa entra na sala e você percebe”, detalha o dentista. Contudo, a grande maioria das causas patológicas de mau hálito estão ligadas à doenças simples de tratar.
“Cerca de 95% dos problemas no hálito estão na boca”, conta Lemos Jr.
Gengivite, doença peritonial, placa bacteriana, amídalas (hoje chamadas de tonsilas) inflamadas, tudo pode colaborar para o mau hálito. “A maioria dos problemas orais requer a mesma solução: boa higiene oral e visitas constantes ao dentista”, resume Lemos Jr.
Além das doenças, a própria anatomia da região oral pode jogar contra o bom hálito. As tonsilas, por exemplo, causam insônia e deixam a garganta sensível quando são grandes demais para a estrutura do pescoço. Volumosas e repletas de sulcos, elas podem acumular resíduos de alimentos e favorecer o hálito ruim.
“A solução é beber muita água e fazer gargarejo com enxaguatório bucal uma vez ao dia”, recomenda Senna.
A língua também tem sido foco dos dentistas para combate à halitose. Se ela tiver fissuras, for uma língua rachada, pode haver acúmulo de resíduos da alimentação. Eles favorecem a proliferação de bactérias e, assim, tornam o mau hálito mais recorrente.
Não há uma solução definitiva, a pessoa terá sempre que dar mais atenção à língua na hora da escovação. “Além da escova, a pessoa pode usar um raspador de língua. Não há contraindicação”. Afirma Senna.
O papel da saliva
Muitas situações de mau hálito estão diretamente ligadas à salivação. “Ela pode reduzir com uso de medicamentos”, aponta Senna. Ele cita os remédios com adstringentes, usados para alergias e contra coriza, que reduzem a produção de saliva. Lemos Jr. acrescenta os anti-hipertensivos e calmantes à lista.
Sem haver a renovação normal da saliva, o ambiente oral torna-se favorável para a proliferação de bactérias. “Uma boca saudável tem até 20% de placa bacteriana”, explica Senna. É por isso que qualquer pessoa está sujeita a acordar com mau hálito.
As bactérias se proliferam durante o sono, quando a salivação também reduz. “Mas basta acordar e fazer um bochecho com água que tudo se revolve”, garante o dentista.
A saliva também pode representar um vetor para a transmissão de bactérias e, consequentemente, para a transmissão de doenças orais.
“É por isso que pedimos aos pais que não provem a comida dos filhos pequenos na mesma colher”, explica Senna. Seguindo a mesma lógica, beijos também são perigosos.
Entre as soluções caseiras contra mau hálito, o dentista recomenda o uso de chicletes sem açúcar. “Eles estimulam a salivação, que renova o ambiente oral e pode evitar o mau hálito”, afirma. Existem até alimentos, como nozes e castanhas, que favorecem a saúde dos dentes.
Entretanto, o dentista recomenda evitar o consumo de balas. “O pH da boca leva cerca de 50 minutos para voltar ao normal. E esse ácido vai desmineralizando os dentes”, explica. Para evitar isso, a pessoa deve beber água ou escovar os dentes depois de chupar uma bala.
A melhor prevenção do mau hálito, segundo os dentistas, é com boa higiene oral e boa hidratação, além das visitas semestrais ao consultório odontológico. Se o sintoma persistir por mais de uma semana, a pessoa pode procurar um dentista para uma avaliação mais detalhada dos hábitos e, se necessário, para investigar a relação com outras doenças.
*( iG São Paulo)