LUZ ELÉTRICA MAIS CARA – Aneel deverá reajustar bandeira tarifária da conta de luz em até 58%.
Valor cobrado na bandeira vermelha 2 pode chegar a R$ 15. A taxa é cobrada a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. O ministro da Economia Paulo Guedes questionou “Qual o problema da energia ficar mais cara?”.
Roberto Naborfazan**
A bandeira tarifária, uma sobretaxa que é acionada nas contas de luz quando o custo da geração de energia aumenta, irá subir de R$ 9,49 para um valor entre R$ 14 e R$ 15 a partir de setembro.
A decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) será informada no máximo até a próxima terça-feira (31). Será um aumento, portanto, entre 50% e 58%.
O valor será cobrado da bandeira vermelha 2, o patamar mais alto desse sistema (que tem ainda as cores verde, amarela e vermelha 1). A taxa é cobrada a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
O valor atual está em vigor desde julho, quando houve um aumento de 52%, mas o custo da geração de energia disparou, exigindo o novo aumento.
O assunto foi discutido numa reunião com diversos representantes do governo nesta semana. De acordo com participantes dessa reunião, o Ministério de Minas e Energia sugeriu subir o valor da bandeira para R$ 24, o que seria mais que o dobro de aumento, por um período de três meses.
Prevaleceu, porém, a proposta do Ministério da Economia, de cobrar uma taxa entre R$ 14 e R$ 15 por um período maior, possivelmente de seis meses. Será um período para recuperar os reservatórios após o início do período úmido, no fim do ano.
Nesta quinta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, mencionou a necessidade de encher os reservatórios das hidrelétricas. Governo oferecerá descontos para residências que reduzirem consumo de energia
A bandeira tarifária é um adicional cobrado nas contas de luz para cobrir o custo da geração de energia por termelétricas, o que ocorre quando o nível dos reservatórios das hidrelétricas está muito baixo.
A região Centro-Sul do Brasil, que concentra as principais hidrelétricas, passa pela pior seca dos últimos 91 anos, de acordo com o governo. Isso faz o governo acionar muito mais termelétricas a gás, óleo e carvão. Mais caras (especialmente as térmicas a óleo e a carvão), essas usinas funcionam como um “seguro” para garantir o suprimento de energia.
O custo desse seguro decorrente do acionamento das térmicas é repassado integralmente aos consumidores de energia elétrica.
A Aneel defende as bandeiras porque, sem ela, todo o custo extra seria repassado aos consumidores apenas no ano seguinte, com valores corrigidos. Ou seja, o consumidor acabava pagando juros, o que não ocorre com o acionamento das bandeiras tarifárias.
Economista critica frase de Guedes
Durante lançamento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo na noite de ontem (26), o ministro da Economia Paulo Guedes minimizou a crise hídrica e seus impactos no preço da energia elétrica. “Qual o problema da energia ficar mais cara?”, questionou.
André Braz, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) disse que a frase no contexto atual “fica feia”, e explica que a tarifa não afeta simplesmente o consumidor final, mas toda a cadeia produtiva.
“A energia não é consumida só pelas pessoas em casa, é consumida pelas indústrias. Segmentos estratégicos, que empregam muitas pessoas, usam muita energia: construção civil e automobilística, por exemplo. E aí você penaliza mais esses setores”, diz.
O peço salgado na conta de luz para o empresariado atrasa a recuperação econômica, uma vez que gera menos emprego e renda. Segundo ele, a minimização deve-se ao “período eleitoral”, mas o problema não pode ser tratado como trivial.
“O discurso fica feio, não convence ninguém, todo mundo sabe a gravidade do problema e de como o governo deve se envolver nisso. Não dá para colocar só no Banco Central a responsabilidade de conter a inflação”, opina. “O governo é como uma família, arrecada, paga salário, consome água, luz energia… Como a gente faz em tempos de vacas magras? Apertamos o cinto e cortamos as despesas. A mesma coisa o Estado precisa fazer”, completa Braz.
FONTE: Agência O Globo