LÚPUS – diagnóstico precoce pode melhorar a qualidade de vida de quem tem.
Ainda há muito a ser descoberto sobre o lúpus, mas um dos maiores avanços das últimas décadas é a possibilidade de realizar um diagnóstico assertivo para a doença, permitindo tratamentos que podem amenizar os sintomas no paciente.
Roberto Naborfazan
Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), ou simplesmente lúpus, é uma doença inflamatória com causas ainda desconhecidas que faz com que o próprio organismo ataque órgãos e tecidos do corpo. O nome significa ‘lobo’, em latim, porque o médico francês Pierre Lazenave, que estudava a doença no século XIX, observou que um dos sintomas, as feridas na pele, eram similares a mordidas do animal.
Ainda há muito a ser descoberto sobre o lúpus, mas um dos maiores avanços das últimas décadas é a possibilidade de realizar um diagnóstico assertivo para a doença, permitindo tratamentos que podem amenizar os sintomas no paciente. Dentre eles, estão lesões na pele, dor e inchaço, principalmente nas articulações, inflamação e inchaço de órgãos, além de alterações no sangue, como anemia e inflamação de pequenos vasos sanguíneos.
Embora não haja um teste específico para a enfermidade, os chamados ‘marcadores’, somados à análise clínica, podem avaliar a existência da doença. Pacientes com suspeita de LES podem realizar exames que avaliam a existência de autoanticorpos, que são anticorpos que agem contra o próprio organismo – uma das características do lúpus.
“Um dos principais exames é o chamado Fan Anticorpos (Anti-núcleo), que avalia a presença dos autoanticorpos a partir de uma amostra de sangue do paciente com suspeita de lúpus. Não tem pré-requisitos e o resultado fica pronto em cinco dias úteis”, explica a assessora científica do Sabin Diagnóstico e Saúde, a biomédica Juliana de Carvalho Bezerra.
A disponibilidade de exames pode variar em cada laboratório. No Sabin, são 12 marcadores que podem auxiliar no diagnóstico da doença. Dentre eles, estão: Anticoagulante Lúpico, Anti-DNA, Anti-Smith e Nucleossomo (Anticorpos Anti). Todos são testes para detectar a presença de autoanticorpos em diferentes partes do organismo.
“Vale ressaltar a importância de sempre consultar o médico, já que parte dos marcadores para diagnóstico de lúpus também pode estar presente em outras doenças autoimunes ou infecções. É o caso do Anticoagulante Lúpico, que pode ocorrer em pacientes com HIV/Aids”, afirma a assessora científica.
Outra observação necessária, e que também destaca a importância de um médico no diagnóstico, é o fato da lúpus ter dois tipos principais: o ‘cutâneo’, que se manifesta apenas com manchas avermelhadas na pele, principalmente em áreas com maior exposição solar; e o ‘sistêmico’, quando órgãos internos são acometidos.
O diagnóstico correto irá auxiliar no tratamento para a doença, que consiste no uso de medicamentos em sua fase ativa, segundo cartilha da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) sobre o lúpus. Os remédios regulam as alterações imunológicas causadas pela enfermidade e amenizam consequências da doença, como inflamações, hipertensão, febre e outros sintomas.
De acordo com Juliana Bezerra, os exames podem continuar a ser solicitados durante o tratamento. O objetivo é verificar a evolução da doença. Além dos marcadores para autoanticorpos, nessa fase, podem ser solicitados exames de rotina. “O médico pode pedir a realização de um hemograma [análise do sangue], a análise de urina e do painel de bioquímica, que inclui testes para medir glicose, colesterol, triglicerídeos e outros processos metabólicos do corpo. Essas informações, somadas aos resultados dos marcadores, podem dar um quadro geral da saúde do paciente”, afirma.
Sintomas:
– lesões de pele: as lesões mais características são lesões avermelhadas em maçãs do rosto e dorso do nariz;
– dor e inchaço, principalmente nas articulações das mãos;
– inflamação de pleura ou pericárdio (membranas que recobrem o pulmão e coração);
– inflamação no rim;
– alterações no sangue podem ocorrer em mais da metade dos casos: diminuição de glóbulos vermelhos (anemia), de glóbulos brancos (leucopenia), de linfócitos (linfopenia) ou de plaquetas (plaquetopenia);
– menos freqüentemente observam-se inflamações no cérebro, causando convulsões, alterações do comportamento (psicose) ou do nível de consciência e até queixas sugestivas de comprometimento de nervos periféricos;
– inflamações de pequenos vasos (vasculites) podem causar lesões avermelhadas e dolorosas em palma de mãos, planta de pés, no céu da boca ou em membros;
– queixas de febre sem ter infecção, emagrecimento e fraqueza são comuns quando a doença está ativa;
– manifestações nos olhos, aumento do fígado, do baço e dos gânglios também podem ocorrer em fase ativa da doença.
Diagnóstico:
O diagnóstico deve levar em consideração o conjunto de alterações clínicas e laboratoriais, e não a presença de apenas um exame ou uma manifestação clínica isoladamente.
Tratamento:
O tratamento do LES depende do tipo de manifestação apresentada por cada paciente devendo, portanto, ser individualizado. Seu objetivo é permitir o controle da atividade da doença, a minimização dos efeitos colaterais dos medicamentos e uma boa qualidade de vida aos seus portadores. O reumatologista é o especialista mais indicado para fazer o tratamento e o acompanhamento de pacientes com LES e, quando necessário, outros especialistas devem fazer o seguimento em conjunto.
Prevenção:
Evitar fatores que podem levar ao desencadeamento da atividade do lúpus, como o sol e outras formas de radiação ultravioleta; tratar as infecções; evitar o uso de estrógenos e de outras drogas; evitar a gravidez em fase ativa da doença e evitar o estresse, são algumas condutas que os pacientes devem observar, na medida do possível.
Dia Mundial do Lúpus
Celebrado em 10 de maio, o Dia Mundial do Lúpus é marcado por ações de conscientização a respeito da doença. A data é patrocinada pela Federação Mundial de Lúpus, um grupo de organizações de pacientes em todo o mundo. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) estima a existência de 65 mil pessoas com a doença, sendo a maioria mulheres.