DRAMA SOCIAL – Grávida, mulher que tem filho com doença degenerativa, pede auxilio para construir sua casa.
Mesmo com um filho portador de osteogênese imperfeita (conhecida como doença dos ossos de vidro) e sob tutela de medida protetiva dentro da Lei Maria da Penha, requisitos básicos, Deuselina dos Santos Rodrigues foi contemplada, e em seguida desclassificada do programa do governo do estado Para Ter Onde Morar. Agora, ela pede ajuda para levantar uma pequena casa para abrigar seus filhos.
Roberto Naborfazan
As pessoas que visitam a Chapada dos Veadeiros para conhecer os encantos das belezas naturais da região, em sua grande maioria, não imaginam o drama social que enfrenta uma enorme parcela dos moradores, principalmente os que sobrevivem das escassas, e muito exploradas, oportunidades de empregos.
Em geral, esses moradores dependem de empregos ligados a indicações políticas em prefeituras, ou no comércio local, recebendo, no máximo, um salário mínimo, enquanto suas compras são feitas nos preços elevados, típicos das cidades turísticas.
O drama dessas pessoas aumenta quando se trata do quesito moradia, visto que, há uma dificuldade para se encontrar um imóvel para alugar, e quando se encontra, os valores são muito elevados, diante do que elas recebem com seu labor diário.
Em Alto Paraíso de Goiás, por exemplo, que é o município polo da Chapada dos Veadeiros, a defasagem na oferta de moradias populares oferecidas pelo poder público para as famílias em situação de vulnerabilidade social é gritante.
Para se ter uma ideia, nos últimos quatro anos, apenas trinta casas foram oferecidas à essas famílias, por meio do programa Para Ter Onde Morar, do Governo do estado de Goiás, por meio da Agência Goiana de Habitação – AGEHAB.
Nesta semana, o drama de uma mulher grávida de sete meses, mãe de uma menina com doze anos, um menino com quatorze anos incompletos, e um rapaz que completou recentemente dezoito anos, que sofre com osteogênese imperfeita, uma alteração genética que torna os ossos mais frágeis e propensos a fraturas, popularmente conhecida como doença dos ossos de vidro, provocou comoção e revolta.
Após ela publicar um vídeo em redes sociais, que deixou comovida a comunidade local, o Jornal O VETOR a procurou para saber mais sobre suas dificuldades e buscar a auxiliar na busca por ajuda de entes públicos, da sociedade organizada e das pessoas em geral. Veja abaixo o vídeo com pedido de ajuda publicado.
Deuselina dos Santos Rodrigues, que completará trinta e cinco anos no próximo mês de outubro, recebeu a equipe de reportagem de O VETOR em seu casebre improvisado, coberto e cercado por lona preta. Poucos móveis, o chão coberto de sal grosso para espantar as formigas, uma barraca de camping recentemente recebida por doação, onde ela se abriga com as duas crianças mais novas (o mais velho, devido a sua doença, mora, temporariamente, aos cuidados de uma pessoa amiga). Tudo muito precário, mas muito limpo e higienizado, sendo o barraco cercado por plantas bem cuidadas. Ainda integram o grupo familiar dois cachorros; Chocolate, um vira-latas pretinho, e Chantilly, um vira-latas branquinho.
Nascida na comunidade quilombola Vão de Almas, em Cavalcante, outro município que integra a Chapada dos Veadeiros, Deuselina tem uma história de vida de muito sofrimento e perseverança.
Orfã de mãe aos sete anos, aos treze teve que seguir seu destino sozinha, depois de muita maldade e abusos sofridos. Em seu relacionamento mais recente, foi constantemente espancada pelo “companheiro”, até que conseguiu medida protetiva contra seu espancador, que continuou a persegui-la, até ser preso.
Diarista, Deuselina vive de seu trabalho, complementado por alguns benefícios governamentais. Sem moradia própria, e com o valor elevado dos alugueis em Alto Paraíso de Goiás, sua vida e de seus filhos tem sido de constantes mudanças de endereço, em busca de menor preço.
Quando surgiu a oportunidade das moradias a custo zero do programa Para Ter Onde Morar, ela imediatamente se inscreveu, cumprindo, comprovadamente, os principais requisitos do programa, entre eles:
– Possuir renda bruta mensal familiar de até 1 (um) salário mínimo;
– Não ser proprietário, cessionário ou promitente comprador de imóvel de qualquer natureza;
– Não ter recebido do Estado de Goiás, do Governo Federal e do Governo Municipal nenhum benefício referente a casa, a apartamento ou a recursos para construção;
– Ser maior de 18 anos ou emancipado;
Comprovar vínculo com o Município onde será concedido o benefício de, no mínimo, 5 (cinco) últimos anos, de forma ininterrupta (Deuselina mora há quinze anos em Alto Paraíso de Goiás) exceto para mulheres em situação de violência doméstica (na época das inscrições Deuselina tinha a medida protetiva contra seu agressor vigente) que poderá comprovar vínculo com o Estado de Goiás, conforme Lei nº 22.637, de 29 de abril de 2024 e suas alterações.
– Possuir inscrição ativa e atualizada, no ato da inscrição, no Cadastro Único – CADÚNICO no município para o qual pleiteia o benefício, exceto para mulheres em situação de violência doméstica que poderá possuir inscrição ativa no Estado de Goiás, conforme Lei nº 22.637, de 29 de abril de 2024 e suas alterações.
– Residir no município para o qual pleiteia o benefício, exceto para mulheres em situação de violência doméstica que poderá residir no Estado de Goiás, conforme Lei nº 22.637, de 29 de abril de 2024 e suas alterações.
– Ser família constituída a partir de 2 (dois) integrantes.
– Ficam isentos de cumprimento do critério acima as pessoas idosas, pessoas com deficiência e as mulheres em situação de violência doméstica.
Neste último item, Deuselina se enquadrou em dois deles; tem um filho com deficiência grave, e ser vítima de violência doméstica comprovada.
Deuselina foi aprovada e festejou por, enfim, poder dar um lar para seus filhos. No entanto, seu mundo voltou a desmoronar, quando recebeu um telefonema, segundo ela, de representantes da Agehab, dizendo que ela foi desclassificada por ter afirmado ser ela a deficiente, mesmo estando anexado na ficha de inscrição a doença de seu filho e a medida protetiva via lei Maria da Penha, que tem validade até 2025.
Humilde, desiludida, sem respaldo dos chamados “representantes do povo”, se viu novamente sem teto e sem condições de pagar o valor do aluguel de R$ 1.200,00.
“Meu filho já teve dezesseis fraturas e passou por cinco cirurgias. Ele tem um braço já atrofiado. Nossa vida não tem sido fácil. Vejo pessoas que não tem imóvel no nome, mas tem até casa de aluguel, e conseguiu ganhar a casa. A injustiça com os mais humildes é muito grande”. Desabafa.
No final do mês de junho, surgiu o que para Deuselina pareceu ser uma excelente oportunidade. Foi oferecido a ela um terreno, no tamanho 15X15 metros, em uma comunidade dentro de Alto Paraiso de Goiás conhecida como Horta Comunitária.
Como seu filho mais velho teve direito em receber, por meio do Benefício de Prestação Continuada (BPC), um valor retroativo, ela fez em seu nome um contrato de compra e venda desse terreno, dando o benefício do filho como entrada, e continuará pagando mensalidades. Ali ela montou seu barraco improvisado.
Recebendo doações de algumas pessoas, e também de um empresário, que prefere não ser identificado, deu início ao levantamento do alicerce para a construção de uma casa pequena. Seu medo, no entanto, é que, com a proximidade do período chuvoso, ela e seus filho fiquem ao relento, sob chuva.
“Quero pedir as pessoas de bom coração que me ajude. Preciso levantar as paredes e cobrir essa casinha para passar para dentro com meus filhos. Pode ser qualquer valor em dinheiro, mas preciso principalmente de doações de cimento, telhas, tijolos, areia, brita e tudo que possa ser usado para terminar minha casa. Quem tiver móveis que esteja desapegando, preciso também, como camas, geladeiras, fogão, etc. estou no sétimo mês de gravidez, não estou conseguindo fazer minhas diárias direito, por isso preciso de toda a ajuda que for possível. Deus abençoes todos que puder me ajudar.”
O Barraco que Deuselina está morando fica ao lado de sua construção, na rua 05, logo depois que acaba o asfalto, a direita, entrando pelo Setor Estância Paraíso. O Telefone e chave pix da Deuselina, para quem quiser fazer contato com ela ou fazer a doação de qualque valor em dinheiro é 62 99669-1259.
Toda ajuda será de grande utilidade.
Não é o primeiro caso em Alto Paraíso de Goiás.
Esse não é o primeiro caso que emociona e movimenta a sociedade de Alto Paraíso de Goiás.
Em Março de 2019, depois de uma verdadeira corrente de amor e solidariedade, cinco órfãos que viviam sob a tutela da avó, Marina Silveira de Souza, depois do falecimento da mãe, Mônica Oliveira de Souza, passaram a ter um lar para chamar de seu.
Mônica estava inclusa no Programa Minha Casa, Minha Vida (Entidades) como beneficiária de uma das 96 casas do Conjunto Habitacional Paraíso I.
No entanto, em maio de 2015, quando os beneficiários foram assinar o contrato com a Caixa Econômica Federal, os gestores do programa foram informados que, infelizmente, Mônica havia falecido vítima de grave doença. Tanto a Rede de Proteção Social, comandanda pela então primeira-dama, Maiuza Leite, quanto os gestores do programa, tentaram interceder junto a diretoria da Caixa Econômica para que dona Marina fosse inclusa como substituta da filha, mas as regras não permitiram, determinando que o próximo da lista de espera é quem teria que ser o beneficiária incluído. Sem rendas, dona Marina e os cinco netos, um deles com necessidades especiais, já estavam sendo ameaçados de despejo da casa simples onde moravam e estavam se alimentando de doações eventuais da comunidade.
Em completo desespero, dona Marina procurou o então prefeito de Alto Paraíso de Goiás, Martinho Mendes, em busca de socorro. Ela foi orientada por Martinho Mendes a procurar o Ministério Público, para que o MP desse elementos legais para que a prefeitura pudesse agir. O MP determinou então que a prefeitura desse amparo legal a dona Marina e seus netos, pagando o aluguel e doando cestas de alimentos. A Rede de Proteção Social, comandada pela 1ª dama e secretária, Maiuza Leite, buscou uma casa mais confortável para a família e passou a pagar o aluguel e a oferecer o básico da alimentação.
No entanto, a situação de dona Marina e seus netos comoveu o prefeito Martinho Mendes, que buscou respaldo da Câmara de vereadores, obtendo apoio unânime, na aprovação da doação do terreno para construção de uma casa para a família. Devido a grave crise financeira do município na época, não haviam recursos públicos disponíveis para a construção imediata da casa.
Nos momentos de desespero, dona Marina já havia procurado ajuda da Rádio Paraíso FM, para expor para a comunidade local o seu drama e pedir auxílio. A boa vontade da equipe da rádio, principalmente da locutora Clésia Mattos e do Jornalista Roberto Naborfazan, aliada a boa audiência da programação da emissora, que se colocou imediatamente a serviço do amparo de dona Marina e seus netos, possibilitou que, em menos de quarenta minutos, diversas pessoas fizessem doações de materiais básicos para dar início a construção da moradia e, n’um gesto de amor sem tamanho, uma benfeitora anônima doasse todo o material que faltava para a conclusão da obra. Essa ação foi em fevereiro de 2018 e contou com total apoio do Jornal O VETOR.
A Rádio Paraíso FM, por meio de sua equipe, se uniu a Secretária da Rede de Proteção Social, Maiuza Leite, na coleta e fiscalização do material arrecadado e no andamento da obra.
Infelizmente, por problemas técnicos/financeiros, a construtora responsável pela construção do Conjunto habitacional Paraíso I, que havia garantido a doação de toda a mão de obra, não pode cumprir com o compromisso, provocando atraso na obra e decepção na principal doadora, que paralisou as doações.
Com 80% da obra concluída, a prefeitura, por meio do então prefeito Martinho Mendes, resolveu arcar com o restante do material e da mão de obra, investindo, na época, um valor aproximado de Dezoito Mil reais na finalização da casa. Além de dar um bom desconto da mão de obra, o empresário Neto Construtor doou metade do material para que a casa fosse entregue toda forrada.
Enfim, na manhã do dia 31 de março de 2019, após um trabalho conjunto da secretária da Rede de Proteção Social (Maiuza Leite), e do amor maior de todos os doadores, o prefeito Martinho Mendes da Silva pôde finalmente entregar a documentação da casa em nome das crianças com uso fruto de dona Marina.
“Minha filha, onde estiver, sabe da alegria que estou sentindo. Hoje vou dormir abraçadinha com meus netos na casa que é deles. Sei que ela também está feliz. Obrigada, meu Deus, e a todos que colaboraram para nos dar essa casa”. Disse, na época, entre lágrimas, dona Marina.
Naquele dia, o prefeito Martinho Mendes enalteceu a comunidade local pela prontidão em ajudar o próximo sempre que provocada. “Nossa gente moradora de Alto Paraíso de Goiás tem essa capacidade de se unir nos momentos de dificuldades de nossos irmãos em situação de vulnerabilidade social, isso fica mais uma vez comprovado. Não temos condições financeiras de ajudar a todos que nos procuram, mas, no caso especifico de dona Marina, após orienta-la a procurar o MP, para que nos desse amparo legal, não nos limitamos ao pagamento do aluguel, e fomos em busca de realizar esse sonho de acomoda-la, junto com seus netos, em uma moradia própria. Esse sonho hoje se realiza. Estamos trabalhando para fazer, dentro das possibilidades e da responsabilidade com os recursos públicos, o melhor para o crescimento do município e para a qualidade de vida de nossos munícipes.”
Que a sociedade e as autoridades municipais não ajam nesse momento apenas pelo clamor eleitoral, mas pelo amor e respeito a uma família que precisa de amparo urgente para se protegerem das chuvas que se aproximam.
O caso da mãe do rapaz que tem osteogênese imperfeita, e que perdeu a inscrição,por erro na Agehab, deve ser levado ao Ministério Público, que resolverá rápido esse erro, devido a incompetência dos funcionários.