DOUTRINA ESPÍRITA – DEUS CRIADOR E DEUS SEGUNDO OS HOMENS
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“O que é Deus? – Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”. L.E. questão 1.
A mais ou menos 30 anos atrás escrevi um poema sob o título: DEUS reproduzindo, no princípio do artigo, apenas as quatro primeiras estrofes, deixando as demais para o encerramento do articulado.
D E U S
Deus, quem és Tu, Deus? Longas barbas brancas
Enfeitando o Teu queixo, Olhos perscrutadores
Devassando o infinito, Rosto bonachão, paquidérmico,
Faces encovadas, cansadas,
Nariz afilado, Corpo grande, magro, envelhecido.
És Tu, Deus?
Ah! Que o homem se arvora e em Ti se transforma
E Tu, desces ao rés do chão!
O homem é deus, e Tu, Deus és homem!
O homem é o vilão, Ladravaz de Tuas Essências.
Não se abespinha nas desonras que cria ao bel talante,
Até ao ponto de Te pintar, Nos enxurros de si mesmo,
Ainda que de paleta e cinzel, Tinge a tela, modela a pedra,
Nunca será o criador do Universo, Mesmo querendo moldar-Te
À imagem e semelhança humanas…
Sim, o homem resolveu tratar Deus como um ser vulgar submetido a ele, homem, como delineei nestes versos iniciais do poema.
Desde muito, começaram as desonras contra a Divindade.
Na caminhada da Libertação do jugo egípcio pelo deserto, enquanto Moisés recebia as Tábuas da Lei, os caminhantes construíram um bezerro de ouro, adorando-o como um deus , o deus material sobrepujando o Deus Espiritual e Criador.
Léon Denis, no livro Cristianismo e Espiritismo, disserta sobre essas idiossincrasias: “… depois da morte do Mestre, os primeiros cristãos possuíam, em sua correspondência com o mundo invisível, abundante fonte de inspirações… Mas as instruções dos Espíritos nem sempre estavam em harmonia com as opiniões do sacerdócio nascente, que … nelas muitas vezes encontrava também uma crítica severa… À medida que se constitui a obra dogmática da Igreja, nos primeiros séculos, os Espíritos afastam-se pouco a pouco dos cristãos ortodoxos, para inspirar os que eram então designados sob o nome de heresiarcas… Desde o século III, os Espíritos afirmavam que os dogmas impostos pela Igreja não eram mais que um obscurecimento do pensamento de Cristo. ”
E, mais à frente: “Mas os homens desinteressados, que amavam a verdade pela verdade, não eram bastante numerosos nos concílios. Doutrinas, que melhor se adaptavam aos interesses terrenos da Igreja, foram elaboradas por essas célebres assembleias, que não cessaram de imobilizar e materializar a Religião“. Então, Denis demonstra a carga pesada dos dogmas, enfatizando: “Essa pesada construção… surgiu na Terra em 325 com o concílio de Nicéia, e foi concluída em 1870 com o último concílio de Roma. Tem por alicerce o pecado original e por coroamento a imaculada conceição e a infalibilidade papal.”
Três absurdos dogmas que atentam desde então contra toda a Humanidade, tudo para justificar e estabelecer o Poder Temporal dos homens sobre o Divino Poder Espiritual: “o pecado original que pune toda a posteridade de Adão, isto é, a Humanidade inteira, pela desobediência do primeiro par, para depois salvá-la por meio de uma iniquidade ainda maior – a imolação de um justo – é um ultraje à razão e à moral. ”
Não bastasse o sacrifício do Cristo, imolado na cruz, entre ladrões, também a virgindade de Maria pós parto normal que, sem dúvida alguma causou-lhe o rompimento natural do hímen e a infalibilidade papal que retirou o Papa do círculo humano para coloca-lo no Panteão dos deuses, atentam contra a razão e a lógica, tornando risíveis os dogmas católicos e, via de consequência, Deus sendo vilipendiado, perde sua Característica Divina e acaba sendo relegado à condição de um deusinho barato de que qualquer homem possa por e dispor como bem lhe apeteça.
Ainda na distante Bíblia, ou seja no Antigo Testamento, várias passagens afirmam o arrependimento de Deus, como cuidou o pastor Josivaldo de França Pereira em alentado artigo denominado “O Arrependimento de Deus”, assim vazado: “A palavra hebraica para arrependimento é noham. É usada para indicar tanto o arrependimento humano quanto o arrependimento de Deus no Antigo Testamento.
É do conhecimento de todos que a Bíblia fala do arrependimento de Deus. Mas como o arrependimento de Deus deve ser entendido? Será que o arrependimento humano serve de parâmetro para o arrependimento de Deus? O arrependimento de Deus é o mesmo dos homens? Deus realmente se arrepende?
Antes de responder a estas perguntas, é preciso observar, primeiramente, que a Bíblia trata do arrependimento de Deus nas seguintes passagens:
Gênesis 6.5-7 (Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra, e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse o SENHOR: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis, e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito);
Êxodo 32. 12 (Por que hão de dizer os egípcios: Com maus intentos os tirou, para matá-los nos montes e para consumi-los da face da terra? Torna-te do furor da tua ira e arrepende-te deste mal contra o teu povo);
I Samuel 15.10,11,35 (Então, veio a palavra do SENHOR a Samuel, dizendo: Arrependo-me de haver constituído Saul rei, porquanto deixou de me seguir e não executou as minhas palavras…O SENHOR se arrependeu de haver constituído Saul rei sobre Israel);
2 Samuel 24.16 (Estendendo, pois, o Anjo do SENHOR a mão sobre Jerusalém, para a destruir, arrependeu-se o SENHOR do mal e disse ao Anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, retira a mão…);
Jeremias 18.7,8 (No momento em que eu falar acerca de uma nação ou de um reino para o arrancar, derribar e destruir, se a tal nação se converter da maldade contra a qual eu falei, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe);
Joel 2.13 (Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal);
Jonas 3.10 (Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez).”
o Pr. Josivaldo coloca a sua preocupação tentando “justificar” que Deus não se arrepende nunca, mas, que as expressões bíblicas se referem à desobediência e ao erro das ações humanas.
Embora respeitemos a capacidade intelectual do autor evangélico, discordamos, frontalmente, das suas opiniões que tentam negar o arrependimento de Deus ínsito na Bíblia. Não há como negar a redução da Onipotência Divina e até a perda da Perfeição, pois se Deus se arrependeu de qualquer dos Seus Atos Criativos, então é Imperfeito como imperfeitos são os homens. Eis aí os versos do poema: ” O homem é Deus, E Tu, Deus és homem! O homem é o vilão, Ladravaz de Tuas Essências.” Pois não é que o homem se erigiu deus e Deus se tornou homem? Pois não é que Deus perdeu toda a Sua Essência e o homem roubou-lhe as características divinas?
E o Deus que se arrepende de qualquer de Suas Ações, é um deusinho incapaz de saber o que está fazendo e ao desconhecer os resultados da Criação e as atitudes da criatura, mostra, insofismavelmente, a fragilidade e a inconsequência próprias dos homens, perdendo totalmente o domínio de Si mesmo e, lógico, seria um deus do acaso e o acaso teria como resultado o naufrágio de todo o Universo, com todos os seus mundos, habitados ou não, planetas, satélites, estrelas, sóis. cometas.
Eis, novamente, o homem exercendo o Poder Temporal acima do Poder Espiritual – o homem deus, tomando de Deus Sua Onipotência, erigindo-se no supremo juiz das ações dos homens comuns submetendo-os à intolerância religiosa e aos interesses mesquinhos da matéria – a Santa Inquisição. E o pior: o clero exercendo o poder inexorável de condenar à morte e de executar a sentença cruel, além de reduzir a família do indigitado à extrema miséria, tomando-lhe os bens e expondo-a à execração pública.
Nos tempos modernos encontramos epítetos assombrosos oriundos da mente humana, novamente submetendo Deus aos seus interesses pessoais, econômicos e morais. “Deus é fiel”, surgido nos meios ditos evangélicos e, por eles tentam justificar que Deus é fiel às Suas Promessas feitas ao homem. Ainda que fosse assim, Deus está submetido ao homem, porque o homem teria o direito de exigir o cumprimento das divinas promessas.
O outro epíteto discriminador e execrável encontramos em vários automóveis: “Presente de Deus”.
Ora eu que não ralasse, que não trabalhasse para ver se ganharia algum carro da Providência Divina. Com todo o respeito, mas, até hoje não descobri qual a marca da fábrica automobilística de Deus. Quando questionados, tentam dizer que o trabalho, que gera a riqueza, seria o meio pelo qual estaria Deus presenteando o homem com o veículo que traz o dístico.
Por que Deus privilegiaria uns em detrimento de outros? As oportunidades sim, fazem parte da Bondade da Providência Divina, mas, elas são iguais para todos e o trabalho desenvolvido pelos homens é que distingue uns dos outros. Então, aquele que trabalha com afinco e dedicação, gera riquezas que lhe proporciona adquirir os bens materiais de acordo com seus interesses e suas necessidades. Não há, pois, como falar em carro presente de Deus.
É hora, então de encerrarmos este articulado e o fazemos, colando aqui os últimos versos do poema Deus:
E Tu, Deus, que nos Criaste a Tua imagem e semelhança.
Divina Graça, Senhor Sublime, Te aquietas e deixa-nos quedar
Nas nossas próprias delivrances.
Quebramo-nos nas vilanices, Apoquentamo-nos por tão pouco,
Acinzentamo-nos nas turrices, Vivemos somente pavonices,
E nos perdemos nas burrices…
Se um dia quisermos e quando depararmo-nos com nossas empáfias,
Sentiremos o Teu olhar profundo, Terno, meigo, belo e amoroso
E, chorando, correremos para deitarmo-nos no Teu Regaço,
Aquietarmo-nos no Teu Cafuné, Acomodando-nos no Teu Abraço…
Assim Deus, Senhor da Vida, Luz sem sombras… Luz,
Calor que não queima, acaricia, Veremos que És Incomparável,
Único Pai, Bondade e Justiça e nós, nada somos sem Ti,
Não passamos do Teu Espectro, Pálida imagem, Descorada semelhança,
Da Grandeza Ímpar…
Depois, não mais perguntaremos, Quem És Tu, Deus de Amor, És Deus.