DOU­TRI­NA ES­PÍ­RITA: O PODER DO MEDO

Roberto Cury

Contaram-me, certa feita, um conto pequenino, mas, extremamente significativo. Vou procurar lembrá-lo integralmente:
“A Peste dirigia-se para Damasco, na Síria, e passou velozmente junto à tenda do chefe de uma caravana no deserto.
– Aonde vais com tanta pressa? Perguntou-lhe o chefe.
– A Damasco. Penso cobrar um milhar de vidas.
No regresso de Damasco, a Peste passou de novo junto à caravana.
Então, o chefe disse-lhe:
– Eu já sei que cobraste 50 mil vidas, não o milhar que havias dito!
– Não, respondeu-lhe a Peste.
Eu só cobrei mil vidas.
As restantes levou-as o Medo.”
Esse pequeno conto demonstra que o Medo é capaz de levar medrosos à desencarnação.
Muitas vezes o Medo é difundido entre os encarnados através de gente que se põe medrado nesse sentimento por qualquer coisa. E não é só por falta de coragem, mas, por pura insegurança, ou por ignorância, ou ainda por ausência ou preguiça de raciocinar.
Eu me lembro que tive medo e nem dormi uma noite, porque durante o dia, quando passara o féretro de uma pessoa que desencarnara na nossa cidadezinha do interior paulista, as minhas tias católicas carolas e sem se importarem comigo criança, ficaram dizendo que as voltas do corpo extinto que sobraram fora das ripas que formavam a base do caixão pobre coberto de um tecido roxo transparente de tão fino, eram em razão do peso de sua consciência e que, por isso, durante a noite viria ele assombrar os pequeninos. Meus 6 anos balançaram e eu não dormi naquela noite.
Daí em diante, pequeno, ainda, aprendi a usar o raciocínio. Não levei muito tempo para raciocinar que um corpo morto não teria como vir assombrar ninguém jamais.
Nunca mais tive medo de defunto.
Jamais me classifiquei como destemido, mas, depois desse incidente, passei a usar sempre a razão e, por isso, sou destemeroso.
Não brigo, nem gosto de brigas. Também não me envolvo em polêmicas porque as acho desnecessárias e de grande eficiência para gerar ódios, rancores e mágoas.
Entretanto, não me posiciono pusilânime diante de argumentação alguma. Se no meu entender meus argumentos forem razoáveis, defendo-os até à exaustão ou até que sinta que a discussão está chegando ao limiar daquelas confusões que podem causar danos irreparáveis na amizade, no respeito entre os discutidores, ou, ainda, no descambar para os desacertos dos contraditórios.
O que é Medo?
No conceito de Adenauer de Moraes, no livro Psicologia e Espiritualidade, “o medo é a reação natural do organismo diante de uma ameaça real ou imaginária. O próprio instinto de conservação leva o indivíduo a se preservar diante de certos perigos. (Educação dos Sentimentos)”.
Ainda Adenauer: “É uma das 5 emoções básicas (medo, ira, tristeza, alegria e afeto). São elementos psíquicos que se apresentam à consciência pela falta de segurança e equilíbrio interno.”
Portanto, o medo, esse sentimento tão terrível para tanta gente, tem como causa principal, a falta de segurança daquele que o sente. Outras vezes, é fruto de desequilíbrio interno, ou seja, na instabilidade espírito – emocional, ou numa auto-obsessão, ou, ainda na sugestibilidade provocada por pessoas, por espíritos brincalhões ou até de má conduta.
Um escrito de origem desconhecida, provavelmente lusitano, em face do estilo e utilização das palavras, ensina: “O medo é uma emoção básica, que coloca o nosso organismo em sobre – alerta e o prepara para fugir e/ou defender-se perante a percepção de perigo. A generalidade das crianças passará por algum sintoma de medo durante a sua infância, em especial as raparigas (mocinhas) que, no entanto, têm uma maior facilidade em ultrapassá-lo. Esta maior facilidade estará, provavelmente, ligada a uma maior capacidade em exteriorizar sentimentos e emoções que, em consonância com a ajuda dos pais, lhes possibilita uma melhor compreensão dos seus sentimentos, e leva a uma procura mais eficaz de estratégias para lidar com os mesmos.”
Algumas vezes, os cuidados e a necessidade de prevenir-se contra certos perigos, são confundidos com o medo.
Pois bem, se assim entender alguém que se separe esse medo que é o bom medo, o dos cuidados preventivos daquele medo que é destrutivo e sobretudo é importante lembrar-se de que ele, o medo, é inspirado exatamente na falta de confiança em Deus.
Há pais que infundem o medo nos pequeninos por várias razões. Dentre elas, a total ausência de confiança no Criador, o despreparo para a paternidade, a incompreensão dos deveres de orientação sadia, real e verdadeira, a falta de conhecimentos e o desinteresse no aprendizado, a postura egoística de que pai é pai, filho é filho e o pai diz e o filho só tem de ouvir.
Novamente Adenauer, ob. cit. “O medo pode se apresentar em forma de ciúme (filho doentio da insegurança emocional), da inveja (tormento do mesmo conflito de insegurança), do ódio (incapacidade de compreender e de desculpar), do despeito (ausência do critério de valorização). (Conflitos existenciais –Joanna de Angelis)
Circuito do Medo Ruído ou ameaça→Ouvidos→Tronco cerebral → Tálamo→Amígdalas e Hipocampo →Áreas do cérebro ↓ Hormônios Acelera o coração, aumenta a pressão, palidez cutânea, contração muscular, dilatação das pupilas.
Quem aciona estas alterações?
Por que temos medo?
Causas.
Por que o Espírito tem tanto medo? O medo é gerado devido as faltas cometidas durante várias experiências reencarnatórias.
Ele vem após um insucesso, um erro ou um estado de punição, coerção ou imposição. Ele é o efeito de inúmeras causas que o ligam aos nossos insucessos ou ilusões que causaram danos morais para o Espírito.
É um sentimento gerado a partir da invigilância do pensamento.
Os medos são típicos do ser humano que ainda se encontra em processo de iluminação interior. Eles são muitos e suas causas diversas. Foram em sua maioria, estruturados desde o período em que éramos seres primitivos e habitávamos as cavernas.”
O medo é algo que faz parte da vida dos seres humanos. É ele quem nos dá o alerta de perigo, fazendo com que nossas ações sejam baseadas no bom senso. O medo em excesso pode neutralizar o nosso potencial, por esse motivo é que devemos aprender a lidar com esse sentimento.
Com as crianças isso nem sempre é possível. Pelo fato de se sentirem completamente inseguras e por terem uma imaginação mais fértil do que os adultos, elas apresentam uma maior dificuldade para superar o medo. Os pais precisam orientar seus filhos com relação ao assunto, dando a eles todo o necessário para que possam se sentir mais seguros.
Além disso, é fundamental que eles recebam apoio para enfrentar essa situação. Por exemplo, caso o seu filho tenha medo do escuro, fique com a luz apagada alguns minutos e mostre a ele que não há nada a temer. Aos poucos ele vai adquirindo mais confiança, e com o tempo, saberá encarar os seus problemas sozinho.

Ainda nos valemos dos ensinamentos de Adenauer de Moraes, para encerrar este artigo: “Quando nos encontramos sob o domínio do medo de que algo nos aconteça, mesmo diante de ameaça real da ocorrência de um fato desagradável, é preciso termos em mente o seguinte:

1.Nada me ocorrerá que não seja útil para o meu progresso.
2.Acredito nas possibilidades favoráveis quando enfrento situações adversas.
3.Enfrento , de forma progressiva o objeto causador do medo.
4. O medo que sinto não vem do objeto , mas de meu mundo interior
5.Devo ter consciência das influências espirituais favoráveis ao meu sucesso , como também não devo fixar-me nas desfavoráveis.
6.Diante do medo de qualquer natureza é preciso calma e segurança , a fim de manter a mente em equilíbrio para poder enfrentá-lo.
Por fim, se a situação apresenta-se perversa e sem saída libertadora, considera com alegria, qual o mal que te pode acontecer, se somente ele atingirá o corpo frágil, ensejando que o Espírito imortal avance totalmente livre na direção da Grande Luz!
E não temas nunca!”

Con­to
PEQUENA FÁBULA ORIENTAL

Autor: Antônio F. Rodrigues

Um dia, estando o Sultão em seu palácio em Damasco, um belo rapaz, que era seu guardião, apareceu-lhe todo agitado, dizendo que tinha de partir imediatamente para Bagdá e implorando ao soberano que lhe emprestasse o mais veloz cavalo de sua cavalaria.
Surpreso, o Sultão perguntou-lhe por que tinha ele tanta pressa de ir para Bagdá.
– Porque – respondeu o jovem -, ao passar agora mesmo pelos jardins do palácio, vi a Morte ali postada. Quando ela me avistou, estendeu os braços, como a ameaçar-me. Não há tempo a perder. Tenho de fugir-lhe!
O Sultão deu ao aflito rapaz consentimento para que usasse o melhor cavalo do palácio. Tendo ele partido, o soberano, indignado, desceu aos jardins e ali encontrou a Morte.
– Como se atreve a fazer gestos ameaçadores ao meu guardião? – gritou ele.
A Morte, atônita, respondeu:
– Asseguro a Vossa Majestade que não o ameacei. Ergui apenas os braços, de surpresa, por vê-lo aqui. Tenho um encontro marcado com ele esta noite, em Bagdá…
Será que conseguimos fugir dos nossos compromissos? Somos donos de nossa própria vida terrena, ou como ela é passageira, não seria interessante bem aproveitá-la sendo úteis ao nosso próximo?

 

 

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