DOUTRINA ESPÍRITA – A INGRATIDÃO DOS FILHOS
Roberto Cury – Fale Cononosco: robcury@hotmail.com – Visite nosso blog de artigos espíritas: www.robertocury.blogspot.com
“A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo, e revolta sempre os corações virtuosos. Mas, a dos filhos para com os pais tem um sentido ainda mais odioso.” Santo Agostinho. ESE, cap.XIV, item 9.
Pediram-me que escrevesse sobre a ingratidão dos filhos para com os pais.
A princípio recusei o tema, porquanto tenho filhos maravilhosos que jamais faltaram com o respeito, nem com a consideração, jamais criticaram qualquer das minhas atitudes, até mesmo aquelas com as quais não concordaram, muito menos deixaram de me socorrer em todas as vezes em que estive doente ou que deles necessitei.
Quando tive de ir aos Estados Unidos com Anelise que estava com câncer, Marileila, apesar de ter apenas 15 anos, na época, compreendeu que todas as atenções deviam ficar como ficaram com sua irmã doente. Jamais me esqueci de sua abnegação e de seu desprendimento, que sempre perduraram, mesmo depois da partida de Anelise para o Mundo Espiritual.
Os rogos de que escrevesse sobre esse assunto, vieram em vozes de outros cantos e como insistia na recusa, inquiri nosso amigo Jesus Cristo, através de uma prece, se eu não estava sendo omisso. Então senti que o Alto me falava nos refolhos de minha alma imortal, respeitando o meu livre arbítrio, descortinava-me a estrada a ser percorrida por tanta gente que suspirava nas alegrias em que os filhos foram gratos ou que chorava nas tristezas quando pagaram com ingratidão todo o bem que seus pais lhe fizeram.
Roguei aos céus que me inspirassem para que não cometesse qualquer injustiça com nenhum filho ou com os pais que haveriam de ler este meu escrito.
Lembrando de que Jesus, na cruz, no último suspiro, fez soar sua voz: “Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”, roguei, ao Mestre, me permitisse expor com clareza e concisão, para que pudesse escrevinhar sem derivações pelos caminhos da parcialidade e que não viesse ofender nenhuma das partes, ao discorrer sobre a ingratidão dos filhos.
Foi então que na análise do tema encontrei opiniões diversas de escritores, filósofos e gente famosa, que tentarei alinhar, de forma que o assunto possa ser entendido por qualquer pessoa sem maiores esforços.
Assim, volto ao item 9, do capítulo XIV, do ESE (Evangelho Segundo o Espiritismo), já citado acima em que Santo Agostinho repugna a ingratidão dos filhos para com os pais, taxando-a com “sentido odioso” e adverte: “desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior. É necessário aplicar-se em estudá-los. Todos os males têm sua origem no egoísmo e no orgulho”.
Ester Castro, em artigo colhido na internet, afirma: “A ingratidão de um filho é um câncer na alma”. Ela continua, desfilando sua amargura: “Não importa o caminho escolhido, se está feliz ou não, JAMAIS esqueça de onde veio. Não aja como se tivesse nascido de chocadeira bradando aos quatro ventos que não precisa mais de pai e mãe (ainda precisando) e que chegou até onde está pelos próprios méritos.” Encerra: “E tenha mais uma certeza. Se amanhã a vida te colocar na pior, os únicos dotados de todo o amor incondicional do mundo que irão lhe estender a mão, serão aqueles aos quais você agora tanto menospreza. Acredite, o tempo é mestre em pregar essas ironias…”
Suely Macedo, da Escola Sá Pereira, lamenta: “Não sei porque meus filhos são tão grosseiros comigo; dei amor, carinho e atenção , hoje sofro por ser tão magoada por eles.”
Joanna de Ângelis e Divaldo Pereira Franco, na sua obra S.O.S Família, definem ingratidão e ingrato:
“– A ingratidão – chaga pestífera que um dia há de desaparecer da Terra – tem suas nascentes no egoísmo, que é o remanescente mais vil da natureza animal, lamentavelmente persistindo na humanidade. O ingrato, isto é, aquele que retribui o bem com o mal, a generosidade com a avareza, a simpatia com a aversão, o acolhimento com a repulsa, a bondade com a soberba, é sempre um atormentado que esparge insatisfação, martirizando quantos o acolhem e socorrem. O homem vitimado pela ingratidão supõe tudo merecer e nada retribuir, falsamente acreditando ser credor de deveres do próximo para consigo, sem qualquer compensação de sua parte.”
Parece cruel e seria se olharmos apenas pelo prisma unilateral dos pais que passam pela ingratidão dos filhos. Há pais que, infelizmente, não cumprem com os deveres a eles confiados por Deus.
É preciso, portanto, analisarmos também como pensam os filhos e qual visão têm dos pais.
Nesse convite que Deus nos faz por meio de nossa família, devemos estar conscientes que é um convite a nós, Espíritos. Um convite à paciência, à calma, e à fé em saber que a morte não existe, e que a consciência pré-existe ao corpo que a abriga. O Espírito então que nos chega por filho é um Espírito pré-existente, que carrega suas dúvidas, apreensões e conquistas, e cabe a nós orientá-los adequadamente para que sigam o caminho do bem. Quando os Espíritos nos falam sobre a ingratidão, nos situam, antes, nesse contexto: o do Espírito. Nos mostram o quanto de dúvidas e de dor é para um Espírito reencarnante estar junto àqueles que outrora odiou, o quanto é difícil para o espírito ainda imaturo aceitar a responsabilidade de uma paternidade ou maternidade o que explica por vezes a instabilidade emocional e moral dos pais, em suas ainda pequenas conquistas morais. Nesse convívio de pais e filhos o amor de Deus é presente de maneira muito especial, porque permite que os sentimentos se interpenetrem na maternidade e na paternidade havendo uma troca imensa de energias e aprendizados entre os Espíritos que se reencontram. Saber respeitar e entender as opções, ter fé no futuro e agir com perseverança e respeito para com a consciência que está sob sua guarda, mas não lhe pertence – eis o dever dos pais. Reconhecer sua posição de respeito e dedicação e necessidade de andar de mãos dadas com aqueles que abriram muito mais do que a porta da casa, mas a porta de seus corações para recebê-los: eis o dever dos filhos. Entendermo-nos como Espíritos e nos respeitamos, sustentando as sagradas lições da maternidade que permitem renovação de caminhos, eis o dever de todos. Na ingratidão dos filhos, portanto, reside um pouco da responsabilidade de cada um de nós, enquanto sociedade que deve fazer-se sensível ao sofrimento e ativo à renovação de todos aqueles que, sempre filhos e algumas vezes pais, nos cruzam os caminhos da vida, reclamando auxílio.
Maquiavel, dispara: “Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha.”
A gratidão! Ah! o que significa gratidão?
Para Augusto Branco: “A gratidão é a maior medida do caráter de uma pessoa. Uma pessoa grata é uma pessoa fiel, não te abandona, está sempre contigo. Nela você sempre pode confiar.”
Já Epicuro: “As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo.”
Morel Felipe Wilkon: “Por que devemos agradecer? É o sentimento de gratidão que nos conecta com o poder de Deus. O poder infinito que emana de Deus é aproveitado por nós se nós estivermos receptivos.” E continua, inclusive os grifos são dele: ” Mas a gratidão eu conheço bem. A gratidão é o sentimento que desencadeia o reconhecimento da necessidade da reforma íntima. Porque a gratidão dá, a quem a sente, amostras grátis de felicidade. Quando você sente gratidão você está concentrando sua atenção em Deus e nas bênçãos que Ele lhe presenteia todos os dias da sua vida, como um pai generoso e bom. ”
Cristina Brito, Mestra em Letras- Português/Inglês e suas respectivas literaturas, explana: “A maior felicidade de uma mãe é ter o colo para dar ao seu filho, é ter como sustentá-lo e amor suficiente para acalentá-lo. Ser mãe é uma dádiva. Pena que as coisas não permanecem, tão linda a criança quando aos 3 anos te enche de beijos, penteia os teus cabelos e te acha a mãe mais linda do mundo. Infelizmente quanto mais cresce mais mudam, mais se distanciam daquilo que a gente ensina, e lhes dá que é o amor. Mas o amor de mãe continua! A alma ferida, o rosto queimado pelas lágrimas, e quando olhamos aquele ser humano por quem dedicamos tantos dias e tantas noites em claro, o vemos nada mais e nada menos que um bebê, que uma criança que ainda precisa de nós.”
E Sol Toledo – da Fundação Toledo de Ensino Superior: “Agradeço hoje ao meu pai e a minha mãe por tudo que sou e pelo carinho e amor que sempre me deram.”
Então estabelece-se gratidão e ingratidão digladiando-se entre os pensadores, e, também na vida prática, como: “Ingratidão é uma forma de fraqueza. Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato. Johann Goethe.”
“A gratidão de quem recebe um benefício é bem menor que o prazer daquele de quem o faz. Machado de Assis.”
“O indivíduo infiel é tão perigoso como o mentiroso. Ambos são fracos, ingratos e constroem castelos sem fundações.Textos Judaicos.”
“Expresse gratidão com palavras e atitudes. Sua vida mudará muito de modo positivo. Masaharu Taniguchi.”
E entre famosos filósofos de antes de Cristo: “Os homens apressam-se mais a retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança, um prazer. Tácito.” “Quem acolhe um benefício com gratidão, paga a primeira prestação da sua dívida. Sêneca.”
Christiano Torchi , in Reformador online de Junho 2012, conceitua gratidão e ingratidão com muita propriedade, explicando, detalhadamente: “As regras de etiqueta social ditam normas que a pessoa deve seguir, no caso de ser beneficiada com algum obséquio. A retribuição e a gentileza fazem parte do conjunto de preceitos dessa cartilha de bons modos. A gratidão, porém, é uma virtude moral que transcende a simples retribuição por bons modos expressos em regras de conduta social que dão o verniz da civilização.
Já a ingratidão, antípoda da primeira, é uma doença da alma que denota o atraso moral em que nos encontramos. Filha do egoísmo, é causa de muitas frustrações e decepções para os corações humanos. Os Espíritos superiores recomendam que ante a ingratidão conservemos o equilíbrio, pois o ingrato é um enfermo digno de piedade a nos testar a abnegação e a perseverança na prática do bem.” (grifos nossos).
Eis que concerne nos conscientizarmos de que nossa vida deve sempre se pautar pela gratidão que nos torna receptivos às bênçãos de Deus. Tudo o que queremos que a vida nos oportunize chega-nos mais rápido quando somos gratos. Gratos a quê? Gratos à vida, à luz e ao calor do Sol, ao verde das árvores, às flores que embelezam e perfumam, aos pássaros que nos contam com seu canto mavioso que a vida é alegre e boa; gratos a Deus, aos nossos pais, ao marido ou ao namorado ou à esposa ou à namorada, aos nossos antepassados, aos espíritos amigos; gratos às dificuldades que geram excelentes aprendizados, ao passado que nos trouxe até aqui, ao futuro que estamos construindo; gratos ao ar que respiramos, às roupas que vestimos, à música que nos encanta, ao livro instrutivo que lemos com satisfação. Em tudo há motivos pra sermos gratos. Por tudo então, agradeçamos ao nosso Pai Celestial para que a felicidade more, definitivamente, no coração de cada um de nós.