DISTRITO DE SÃO JORGE – Compromisso de calçamento das ruas completa vinte anos. Comunidade cobra conclusão.

Portal de entrada para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, distrito de São Jorge sofre com politicagens, desperdício de dinheiro público e dano ambiental.

Roberto Naborfazan

Terraplanagem, meio-fio e sargeta instalados. Andamento das obras geram desconfiança da comunidade.

O distrito de São Jorge, município de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, é referencia para quem visita as belezas naturais da região. O vilarejo aconchegante é a porta de entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e vários outros encantadores atrativos, como cachoeiras e cânions.

Variados tipos de pousadas, hotéis e restaurantes abrigam e alimentam numerosa quantidade de turistas de todo o mundo que visitam, durante todo o ano, a região.

No entanto, mesmo com todo movimento financeiro e os lastros publicitários positivos que essa frequência de pessoas provocam, o distrito de São Jorge continua sendo usado como instrumento de barganhas políticas e ferramenta eleitoreira pelos gestores estaduais.

O calçamento de suas ruas com bloquetes de cimento é um exemplo claro dessa utilização peçonhenta da Vila de São Jorge, sua comunidade e seus visitantes.

São vinte anos de promessas, mentiras e enrolações. O debate para esse calçamento começou ainda nos tempos das instalações da organização não-governamental WWF Brasil em Alto Paraíso. Lideranças políticas e comunitárias, aliadas a sociedade civil organizada, buscaram apoio para o projeto junto ao governo do estado, que sinalizou positivamente para a realização da obra.

Em 2015, principais autoridades do governo estadual assumiram compromisso com a conclusão da obra.
O que se viu, no entanto, foram erosões, buracos e o sumiço da empresa.
Fábrica de Bloquetes na época. Hoje no local só resta o vazio do abandono.
Depois de abandonados nas ruas e virar esconderijo de animais peçonhentos, os bloquetes desapareceram. Ninguém sabe onde foram parar.

Muitos dos personagens políticos daquela época permanecem no cenário, arrotando vantagens e assegurando sua conclusão. Sem o menor pudor, criam cortinas de fumaças e não explicam onde foi parar o dinheiro destinado para a obra ao longo desse tempo.

No período pré-eleitoral, em 2014, grandes placas, tipo outdoors, foram colocadas na entrada da Vila e no trevo de acesso, em Alto Paraíso, alardeando o calçamento com bloquetes das vias urbanas e instalação de galerias pluviais de São Jorge, ao custo de R$2.932.972,46 (Dois milhões, novecentos e trinta e dois mil, novecentos e setenta e dois reais e quarenta e seis centavos). A realidade, no entanto, é outra.

Uma empresa contratada na época, deu inicio a obra e depois desapareceu, deixando enormes buracos que seriam para as galerias, mas se tornaram entraves para movimentação da comunidade. A enxurrada, provocada pela chuva, passou a levar lama com muita areia para a nascente do Rio Preguiça, provocando dano ambiental. A fábrica de bloquetes foi abandonada e o pouco que foi fabricado ficou coberto por matagal, se tornando criadouro de mosquitos da dengue e animais peçonhentos, até ganhar destino ignorado. Em resumo, todo o trabalho perdido e o dinheiro do povo jogado, literalmente, na lama.

Em 2015, durante a inauguração da pavimentação da Estrada Parque Divaldo William Rinco (GO 239), no trecho entre Alto Paraíso e o Distrito de São Jorge, o então governador do estado, Marconi Perillo, acompanhado do hoje governador, José Eliton, do deputado federal Giuseppe Vecci, do presidente da AGETOP, Jaime Rincon e diversas outras autoridades do governo estadual, citou a Estação de Tratamento de Esgoto, o calçamento das ruas em São Jorge, as obras de pavimentação urbana e a conclusão e liberação do Aeroporto de Alto Paraíso como compromissos de sua gestão.

Um fato marcou a data, um cidadão, cansado de promessas sobre o calçamento, ficou durante todo o evento com um bloquete de cimento sobre o cabeça, o que irritou o governador, que olhando para o cidadão disse “Eu quero deixar claro que não estou aqui em campanha. Eu já sou governador e tenho três anos e meio de mandato. Portanto, não estou aqui prometendo nada em troca de votos. Estou dizendo que vou fazer e, como sempre fiz, cumprirei meu compromisso” bradou Marconi Perillo, aplaudido de perto por José Eliton. Três anos se foram e nenhuma das obras foram realizadas.

Do pomposo outdoor, instalado em 2013, exaltando o volumoso recurso investido na obra de calçamento…
Só restou o dano ambiental causado ao Rio Preguiça com o escoamento de cascalho e areia para o seu leito, junto com as águas das chuvas.

No início deste ano, estiveram no distrito de São Jorge o deputado federal Giuseppe Vecci, a então superintendente da SECIMA, Jacqueline Viera e o Superintendente do Desenvolvimento Regional, Pedro Ivo, que, na presença do prefeito Martinho Mendes, vereadores, secretários municipais e pessoas da comunidade local, apresentaram os diretores da empresa F.E Máquinas como novos responsáveis pela realização do calçamento de 21.667 M² de ruas e a instalação de 5.972 lineares de meios-fios com sargetas.

Cinco meses se passaram. A F.E Máquinas realizou a terraplanagem de todas as ruas do distrito, paralisou por causa das chuvas, e as águas da enxurrada destruíram todo o trabalho, que teve que se refeito, mas está paralisado.  Do montante a ser feito de meios-fios e sargetas, menos de duzentos metros foram concluídos, entre paralisações e retorno da obra, ou seja, mais uma vez corre-se o risco de chegar o período de eleições com a obra iniciada e não acabada. O enredo seguinte a população já conhece, depois das eleições, não aparece ninguém para dar explicações, e mais dinheiro do povo escoará pelo ralo da inércia e da tentativa de aditivos.

Em seu início, o governo do estado assumiu que faria 70% da obra, com 30% de contrapartida da prefeitura de Alto Paraíso de Goiás. A prefeitura vem cumprindo rigorosamente com sua parte e cobrando insistentemente, com apoio da Câmara de vereadores, que o estado faça o que lhe cabe. Parte da sociedade, no entanto, não compreende isso, e atira toda a responsabilidade da não conclusão das obras nas costas do prefeito e dos vereadores, gerando desgaste políticos e pessoais aos integrantes dos poderes municipais.

Segundo o representante da prefeitura de Alto Paraíso no distrito de São Jorge, Valdivino Pereira do Rosário (Divino), a cobrança da comunidade é sempre muito forte “Como representante da prefeitura, estamos atentos ás necessidades da comunidade e as levamos ao conhecimento do prefeito e secretários de cada pasta, que vão nos atendendo dentro das possibilidades e limitações financeira do município. No caso do calçamento, no entanto, ficamos de mãos atadas, porque a empresa foi contratada pelo governo do estado e o prefeito nada mais pode fazer que cobrar agilidade nos gabinetes em Goiânia”, argumenta.

Representante da prefeitura de Alto Paraíso no distrito de São Jorge, Valdivino Pereira do Rosário (Divino) – Empresa foi contratada pelo governo do estado e o prefeito nada mais pode fazer que cobrar agilidade nos gabinetes em Goiânia.

Um senhor de 78 anos, pioneiro do distrito, diz que não quer seu nome divulgado “hoje em dia, meu filho, a gente fala uma coisa e o povo entende outra, logo o nome da gente tá meio de conversas. Essa enrola dessa obra não é de hoje, entra governo e sai governo e nada. Só conversa prá ganhar voto e o povo ainda acredita. Os graúdos lá de cima já sumiram com o dinheiro da outra vez e tô achando que vão sumir de novo e a obra não sai”, diz o ancião, com seu palavreado humilde, mas com a convicção de quem sabe o que está falando.

Vereador Canela”Acompanho este processo desde seu início e estou decepcionado com o andamento das obras”.

Nativo da região, morador e forte liderança no distrito de São Jorge, o vereador Alcenadir da Costa Nobre, o Canela, afirma que está decepcionado com o andamento das obras “Acompanho esse processo de calçamento das ruas de São Jorge desde a gestação da ideia, nos tempos da WWF Brasil, no Projeto Veadeiros. É um sonho antigo, pois mesmo que ainda não tenhamos a coleta regularizada de efluentes líquidos (águas das chuvas, por exemplo), o calçamento irá minimizar a chegada de cascalho e areia no Rio Preguiça e acabar com as erosões nas ruas de nosso distrito. Com tantas promessas não cumpridas, a comunidade se sente enganada, pois não há mais a quem recorrer. Sofro isso como cidadão, mas também como vereador e representante do povo, que nos cobra diariamente e nada nos resta fazer se não pressionar nossos deputados e senadores representantes para que apertem o governo do estado, que por sua vez deveria agir com mais celeridade nesse compromisso de tantos anos e de tamanha importância, afinal somos uma das vitrines turísticas do estado e do País. Quando o governo do estado vem aqui e anuncia a realização da obra, parece que o dinheiro já está na conta e que nós, prefeito e vereadores, é que não tomamos providência. Mas a realidade é outra, na hora de pagar, a burocracia e o desinteresse emperram tudo, quem fez as promessas some e nós ficamos aqui com o desgaste político e pessoal” desabada o vereador.

Procurado pela reportagem de O VETOR, o representante da empresa F.E Máquinas, Humberto Henrique, disse que o serviço já realizado de terraplanagem e colocação de meio-fio e sargeta ainda não foram pagos pelo governo do estado, mesmo com a medição já enviada ao órgão competente, mas que mesmo assim a obra continua sendo realizada.

A reportagem não conseguiu contato com o Superintendente do Desenvolvimento Regional, Pedro Ivo. A alegação é de que ele estaria de férias.

Share

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *