DEVOLVA MEU SÃO JOÃO – Flávio José: não vem de hoje a tensão entre as estrelas do forró de raiz e os sertanejos.

Paraibano conhecido como o Rei do Xote não foi o único a reclamar da desvalorização do estilo no Maior São João do Mundo, em Campina Grande: em 2017, Elba Ramalho também deu sua bronca no festival.

REDAÇÃO

Uma das atrações mais assíduas do Maior São João do Mundo, festival de música em Campina Grande (PB) que este ano deve durar 31 dias, o cantor e acordeonista paraibano Flávio José, ganhou o noticiário na última sexta-feira quando reclamou nas redes ter tido o seu tempo de show diminuído em meia hora para o que o da atração seguinte, o astro sertanejo Gusttavo Lima, fosse ampliado.

— Infelizmente, são essas coisas que os artistas da música nordestina sofrem — disse, ainda no palco, o artista de 71 anos, que é conhecido como o Rei do Xote e que não foi o primeiro nome da música tradicional da região a reclamar de desprestígio no festival.

Flávio José é uma das maiores expressões da música nordestina, um dos forrozeiros mais tocados nas emissoras de rádio do Nordeste, principalmente na Paraíba, em Pernambuco, no Ceará e no Rio Grande do Norte. FOTO: Reprodução

Em 2017, a cantora (nascida em Campina Grande) Elba Ramalho, uma das maiores estrelas da MPB surgidas no Nordeste, também reclamou da desvalorização do forró de raiz, pé de serra, em um festival criado em 1983 justamente em torno desse tradicional estilo musical.

— Eu não toco na Festa de Barretos, Dominguinhos também não cantava. A festa é deles, é dos sertanejos — queixou-se a cantora, levando em consideração que, há alguns anos, artistas sertanejos como Marília Mendonça e Luan Santana haviam se tornado as atrações principais do evento na Paraíba. — Aí, quando chega aqui no São João, em Campina Grande, não ter o Biliu de Campina, não ter Alcymar Monteiro, eu reclamei bastante. Quando chega o São João, se você não tem forró… eu não quero ir a uma festa que não tenha forró!

Elba Ramalho, uma das maiores estrelas da MPB surgidas no Nordeste, também reclamou da desvalorização do forró de raiz, pé de serra, em um festival criado em 1983 justamente em torno desse tradicional estilo musical.

Ainda em 2017, Joquinha Gonzaga (sobrinho de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião), e Chambinho do Acordeon (conhecido por interpretar Gonzagão no filme “Gonzaga: De pai para filho”, de Breno Silveira) criaram a campanha  Devolva meu São João pela valorização do forró nas grandes festas juninas do Nordeste — e principalmente na de Campina Grande, que sempre disputou com a de Caruaru, em Pernambuco, o título de Maior São João do Mundo.

Gigante do forró

Longe de ser um desconhecido, Flávio José é uma das maiores expressões da música nordestina, intérprete de sucessos como “Que nem vem vem”, “Caboclo sonhador”, “Terra prometida” (todas de Maciel Melo), “Espumas ao vento”, “Me diz amor” e “A natureza das coisas” (de Accioly Neto). Algumas dessas músicas ganharam o país na voz de astros como Elba Ramalho, Fagner e Beto Barbosa.

Nascido na cidade de Monteiro, Flávio começou a tocar sanfona aos 5 anos, após assistir a um show de Luiz Gonzaga. Aos 10, formou um trio de forró com dois irmãos. Passou pela orquestra de Sertânia, na Paraíba, e aos 17, entrou em uma banda baile, Os Tropicais de Monteiro.

Ao mesmo tempo, o cantor trabalhava no Banco do Brasil, e conciliava a carreira artista com a de funcionário público. Ele chegou, inclusive, a ser chamado pelos colegas de trabalho de “o cantor dos 300 km”, pois não podia sair para lugares mais distantes, por causa do emprego.

Um dos forrozeiros mais tocados nas emissoras de rádio do Nordeste, principalmente na Paraíba, em Pernambuco, no Ceará e no Rio Grande do Norte, Flávio José chegou aos anos 1990 com agendas cheias todos os meses — e no período junino, mal podia respirar.

Nos shows em praças públicas, o forrozeiro paraibano chegava a reunir entre 20 mil e 40 mil pessoas no São João, em cidades como Campina Grande e Itaporanga (PB), Senhor do Bonfim e Paulo Afonso (BA) e Areia Branca (SE).

Após o incidente de sexta-feira em Campina Grande, o secretário de Turismo da Bahia, Maurício Bacelar, convidou Flávio José para se apresentar na Bahia durante o São João. Bacelar alegou que “é na Bahia que o forró, maior manifestação cultural do povo nordestino, tem a sua maior expressão”.

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