Denúncias da Lava Jato: Prisão de Vaccari força PT a rever estratégia
Por Vasconcelo Quadros*
Depois de afastar tesoureiro preso em mais uma etapa da operação, partido se viu obrigado a mudar plano jurídico de montar ofensiva contra delatores
Pego de surpresa pela prisão de seu tesoureiro, João Vaccari Neto, o PT se viu obrigado a sepultar sua principal estratégia para responder às acusações de recebimento de propina da Petrobras, que era partir para uma ofensiva jurídica contra os delatores da Lava Jato.
Vaccari foi afastado do cargo de tesoureiro no fim da tarde de ontem, após o partido entender o agravamento da crise e das denúncias contra ele tornou insustentável sua permanência na direção partidária. O PT ainda define exatamente como responderá ao novo cenário – a direção segue reunida hoje, em São Paulo, e deve tomar decisões como a substituição do tesoureiro e a revisão do modelo de financiamento da legenda.
Mas uma das preocupações do partido, neste momento, é garantir queVaccari não se sinta “abandonado”, apesar do afastamento. O partido teme que o tesoureiro, a quem a força-tarefa também poderá propor a delação premiada, possa decidir não cair sozinho.
Dentro da estratégia que estava sendo desenhada pelo PT, o advogado Luiz Bueno de Aguiar entrou na semana passada com duas propostas de interpelação, uma cível e outra criminal, para forçar o ex-chefe de serviços da Petrobras Pedro Barusco a confirmar as declarações e apontar nomes das pessoas que teriam recebido os US$ 200 milhões em propina destinados ao PT.
As duas interpelações foram protocoladas na Justiça do Rio de Janeiro, uma no Fórum Central e a outra na Barra da Tijuca, domicílio de Barusco. O advogado cumpria uma determinação do presidente nacional do PT, Rui Falcão, que fez questão de convocar uma entrevista coletiva em fevereiro para anunciar uma ofensiva jurídica para processar civil e criminalmente todos os acusadores de Vaccari e do PT.
O alvo principal era Barusco, que afirmara tanto no depoimento prestado na delação premiada quanto na CPI da Petrobras, na Câmara, que o tesoureiro era quem administrava a propina. Ele revelou que repassava ao PT o dobro do que embolsava – algo em torno de US$ 100 milhões de cuja fortuna abriu mão e se dispôs a abrir o jogo a Polícia Federal e ao Ministério Público Federal para ganhar redução da pena.
Falcão disse à época que as acusações eram falsas, chamou Barusco de bandido e afirmou que havia uma clara tentativa de criminalizar o PT. Ele também encaminhou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pedido de sindicâncias para apurar vazamentos seletivos de informações sigilosas e questionando a linha de investigações da Polícia Federal, sugerindo que não houve nenhum interesse das autoridades em apurar o período do governo Fernando Henrique no escândalo da Petrobras, lembrando que Barusco afirmara que havia propina nos contratos desde 1993. A ofensiva poupava o juiz Sérgio Moro e os procuradores da força tarefa paranaense.
Antes da prisão de Vaccari, a estratégia clara do PT era desconstruir a delação premiada, peça de investigação que levou o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF) a determinar abertura de inquérito contra o tesoureiro e outros 49 políticos, senadores, deputados, ex-governadores e ex-ministros.
Na semana passada, durante depoimento à CPI, Vaccari repetiu, em meio às evasivas, que as declarações de Barusco não eram verdadeiras e, seguindo orientação dos advogados, tornou um bordão a afirmação segundo a qual, “delação não é prova”. O PT acreditou que o depoimento da semana passada foi satisfatório e chegou a comemorar com alívio seu resultado. *IG Brasília