Crônica – Reminiscências com Seo Marcelino Cruz.

Roberto Naborfazan

No dia 9 de janeiro último estive na loja Maçônica “Obreiros da Arca Real 2926”, na Vila Lucy, em Goiânia, para participar das comemorações de mais um natalício do venerável Jefferson Borges de Siqueira.

Irmãos reunidos em fraterna festividade, muita comida gostosa, bebidas geladas e prosas divertidas entre muitas gargalhadas e um jogo de truco.

Natural de Firminópolis, Jefferson Borges é responsável pela contabilidade de uma das maiores empresas do ramo de autopeças do estado de Goiás.  Casado com Vanessa de Paula, pai de Marianna e Lara, é um amigo/irmão  com mais de duas décadas de amizade. Não poderia deixar de prestigia-lo.

Revi Luis da Silva Mendes, o Piry, fundador de um dos mais tradicionais bares da capital, no Setor Jardim América, o Bar do Piry, ainda hoje sob o comando de seus familiares, cabra que não perde no truco nem que a vaca tussa. Em parceria com Eraldo Soares, diretor do Colégio Expovest, levamos várias tundas seguidas.

Mas o que me fez exercitar a memória, revivendo momentos e personagens de minha infância na Campininha da flores, hoje Bairro de Campinas, foi a longa e proveitosa conversa som Seo Marcelino Pereira Cruz, um nordestino goiano, natural de São Domingos, que veio ajudar Pedro Ludovico Teixeira a construir a nova capital.

Seo Marcelino me falou de sua amizade com Licardino Ney, líder destemido daquela época, que minha avó materna, Mariolis Naborfazan, nos ensinou a chamar por vovô Licardino.

Enquanto seo Marcelino narrava entusiasmado os bastidores políticos de um período que revolucionou a história de Goiás, me vi criança, pedindo a benção ao vovô Licardino, um senhor com semblante ao mesmo tempo bondoso e austero, naquela casa que se destacava na Praça Joaquim Lúcio, no lado oposto ao Cine Caiçara, cujo prédio pertencia a minha avó. Era inicio dos anos 70, Campinas

Com Seo Marcelino e Jefferson Borges em tarde de confraternização e boa prosa.
Com Seo Marcelino e Jefferson Borges em tarde de confraternização e boa prosa.

ainda era das flores, nem no pior pesadelo se poderia imaginar o caos em que se transformou.

Na Goiânia daquela época, que seo Marcelino nos trás no filme de suas lembranças, diversão era nadar no Lago das Rosas, assistir um filme no cine Eldorado, comer um frango assado com a famosa maionese do Grego, ali na rua 06, ao lado do café da esquina. As avenidas Bahia, em Campinas e a P 16, no setor dos funcionários, abrigavam o que se denominava na época de “zona do baixo meretrício”, onde o populacho se misturava aos poderosos nos romances de uma noite.

“Trabalhava como garçom a noite e como encanador na Saneago durante o dia, abrindo valetas nas ruas e instalando as primeiras redes de água na cidade. Como garçom conheci muita gente importante, como tinha paciência em servi-los, muitos me ajudaram a crescer profissionalmente , com isso pude colaborar bastante nos primeiros passos de Goiânia” me contou  o velho pioneiro.

Uma tarde de muitas recordações brotadas da lucidez de Seo Marcelino, que aos 79 anos consegue abrir arquivos na memória com clareza e coordenação dos fatos. Ao ouvir o elogio que faço sobre isso, ele ainda me faz uma última confidência, com um olhar maroto e sorriso aberto “minha família me levou para consultar com desses médicos para velho que está com aquela doença que faz esquecer as coisas (Alzheimer), depois de alguns minutos de conversa ele me disse – o senhor está com a memória melhor que a minha”.

Felicidades, mano Jefferson, e obrigado por proporcionar tarde tão agradável. Muita luz em sua vida, Seo Marcelino, o senhor é referência de sucesso para nossa sofrida gente do nordeste goiano.

 

Share

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *