BIOMA AMEAÇADO – Tamanduá-bandeira é atropelado na GO-118 e tragédia expõe devastação do Cerrado. Vídeo.
Acidentes com animais silvestres se tornam cada vez mais comuns na região da Chapada dos Veadeiros. A destruição do habitat natural obriga a fauna a cruzar rodovias em busca de sobrevivência.
Roberto Naborfazan
Alto Paraíso de Goiás (GO) — Na noite da última sexta-feira, 13, por volta das 21h40, a equipe da Polícia Rodoviária Estadual (CPR-348) foi acionada para atender mais uma ocorrência envolvendo atropelamento de animal silvestre na GO-118, no trecho entre São Gabriel e São João d’Aliança, já no município de Água Fria de Goiás. A vítima, desta vez, foi um tamanduá-bandeira, espécie típica do Cerrado brasileiro e ameaçada de extinção.
A guarnição, composta pelo Sub-Tenente Barros, 2° Sargento De França e 3° Sargento Saulo, encontrou o animal já sem vida na pista. Segundo relato da condutora do veículo VW/UP Take MA, K. de S. S., 21 anos, que estava acompanhada da passageira L. do N. de S., 34 anos, elas seguiam no sentido São Gabriel / São João D’Aliança quando visualizaram o que pensaram ser um saco preto no meio da pista. Ao se aproximarem, perceberam que se tratava de um animal, mas não houve tempo para desviar. O tamanduá já havia sido atingido anteriormente por outro veículo e estava morto, quando foi atropelado novamente.

O impacto causou danos ao para-choque do carro, que foi liberado no local. A Polícia Rodoviária realizou os procedimentos de praxe e retirou o corpo do animal da pista, evitando novos riscos aos motoristas.
Cenário cada vez mais comum
Infelizmente, essa não é uma ocorrência isolada. Acidentes com animais silvestres tornaram-se frequentes ao longo da GO-118, especialmente no trecho que atravessa municípios da região da Chapada dos Veadeiros, como São João d’Aliança, Alto Paraíso de Goiás e Teresina de Goiás.
Espécies como onças, lobos-guará, cobras, veados-campeiros e tamanduás são vítimas constantes. Muitas delas fazem parte da fauna ameaçada do Cerrado — o segundo maior bioma brasileiro, mas também um dos mais devastados.



A principal causa apontada por especialistas e ambientalistas é a devastação do habitat natural. O desmatamento acelerado, aliado à expansão agrícola desordenada, tem reduzido o espaço de sobrevivência da fauna local. Sem alternativas, os animais são forçados a cruzar rodovias para buscar alimento, abrigo ou território, resultando em atropelamentos fatais.
O papel da Polícia Rodoviária: além da segurança, a preservação
Em meio a esse cenário alarmante, o trabalho da Polícia Rodoviária Estadual tem sido vital não apenas na segurança do tráfego, mas também na tentativa de proteger a vida animal. Os agentes que patrulham a GO-118 são constantemente chamados para atender esse tipo de ocorrência, muitas vezes encontrando animais feridos e, quando possível, acionando redes de resgate e reabilitação.
Agente da Polícia Rodoviária estadual retira corpo de tamanduá-bandeira no meio da pista. Veja no vídeo abaixo.
Segundo os policiais da CPR-348, o número de atropelamentos tem aumentado, principalmente no período noturno, quando a visibilidade é menor e muitos animais estão em atividade. Eles destacam que, apesar dos esforços, faltam campanhas de conscientização, sinalização adequada nas áreas de travessia de fauna e passagens seguras sob ou sobre as rodovias.
Um alerta que vem do Cerrado
A morte do tamanduá-bandeira na GO-118 é mais um alerta sobre a urgência de proteger o Cerrado — bioma conhecido como “berço das águas”, por abrigar nascentes que alimentam bacias como a do São Francisco, Tocantins e Paraná. Com mais de 50% da vegetação nativa já destruída, o Cerrado pede socorro.
É preciso investir em infraestrutura de proteção ambiental nas estradas, ações de educação ambiental para condutores e comunidades e, principalmente, em políticas públicas que combatam o desmatamento e incentivem a preservação das áreas naturais.
Reflexão final
O Cerrado está morrendo aos poucos — e junto com ele, seus animais. A GO-118, importante rota turística e de escoamento agrícola, tornou-se também uma estrada de perdas. Perdas silenciosas, de vidas que não podem pedir socorro.
Enquanto a natureza for vista como obstáculo ao progresso, atropelamentos como o do tamanduá-bandeira seguirão se repetindo. E cada corpo deixado na pista é uma cicatriz a mais no solo de um bioma que clama por equilíbrio.