Banco Genético em Goiás identifica suspeito de crime

Letícia Santana
Fotos: Julimar de Brito

Em uma parceria entre os governos federal e estadual, a Polícia Técnico-Científica de Goiás conta com um Banco Genético desde maio deste ano. Este Banco tem a função de armazenar dados genéticos de presos condenados por crimes hediondos, como estupro e homicídio, e compartilhá-los com o Banco Genético Nacional. Através desse cadastro é possível identificar criminosos e agilizar as investigações criminais não só no Estado, como em todo o País.

Perita Mariana Flávia da Mota
Perita Mariana Flávia da Mota

Foi por meio desta tecnologia, um software desenvolvido pelo FBI, que um suspeito de estupro, ocorrido em 2010 em Goiás, foi identificado nesses últimos dias. A perita criminal e administradora do Banco de Dados de Perfis Genéticos de Goiás, Mariana Flávia da Mota, explica o caso: em 2010 uma adolescente sofreu um crime sexual no Estado e registrou a ocorrência. Após investigação, o suspeito do crime fez os exames de identificação, mas foi constatado que ele não era o autor do estupro, sendo excluído das suspeitas.

O caso ficou sem solução de 2010 a 2015. Após investigação, outro suspeito, que já estava preso desde 2012 por outro crime, teve o material genético coletado. Ao comparar o material genético do suspeito com os vestígios encontrados na vítima colhidos à época do estupro, foram constatados materiais genéticos coincidentes, sendo o caso resolvido. 

Titular da Delegacia da Mulher, Ana Elisa Gomes
Titular da Delegacia da Mulher, Ana Elisa Gomes

Segundo a titular da Delegacia da Mulher, delegada Ana Elisa Gomes Martins, que estava na investigação do caso, acredita-se que este mesmo homem tenha feito mais 20 vítimas. “Provavelmente outros exames e comparações serão identificados em outras práticas criminosas de estupro”.

Ela destaca a importância dessa nova tecnologia para as investigações da Polícia Civil. “Sabemos que crimes de estupro são difíceis de serem investigados, porque são cometidos em lugares ermos, sem testemunhas, sem iluminação, a vítima sob ameaça, com armas de fogo e dificilmente consegue ter nitidez sobre esse agressor. Com este Banco, não temos dúvida que outros agressores serão identificados. Por isso é importante destacar que a vítima que passar por essa situação, procure a Delegacia da Mulher”.

Primeira vez no País
Segundo Mariana, este é o primeiro caso resolvido em Goiás e no Brasil em que houve coincidência entre um vestígio e um condenado. Até hoje as coincidências – chamadas de match pelos profissionais da área – aconteceram entre vestígio e vestígio.

“Por exemplo, a pessoa comete um crime sexual em um lugar e em outro, você vê que é a mesma pessoa pelos vestígios, mas não sabe quem é. Ou a pessoa cometeu um furto, deixou uma “bituca” de cigarro e deixou um boné na outra cena, os vestígios coincidem, já sabe que foi a mesma pessoa, mas não sabe quem é pessoa. Por isso, dar a autoria é a primeira vez. No Sul também já teve, mas com condenado é a primeira vez”, explica Mariana.

Como é o passo a passo?
A perita criminal Mariana explica que quando ocorre, por exemplo, um crime sexual, a vítima deve ir à delegacia registrar a ocorrência. A delegacia a encaminha ao Instituto Médico Legal (IML) e lá é feita a coleta da amostra, que é o vestígio, como, por exemplo, o sêmen que o agressor deixou em alguma parte do corpo ou na roupa da vítima.

DSC_1647
Laboratório de Biologia e DNA Forense

O material coletado é encaminhado ao Laboratório de Biologia e DNA da Polícia Técnico-Científica, onde primeiramente é realizada a pesquisa de espermatozoide e PSA (proteína). Depois são feitos exames como de sangue, de pelo, enfim, uma triagem, antes de realizar o exame de DNA. Enquanto isso, a delegacia está investigando o caso e é a responsável por encaminhar o suspeito ao laboratório para fazer perfil genético dele. “E a gente faz a comparação se é ou não é”, explica.

Segundo a lei 12.654/12, os condenados por crimes são submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA. Mas quando está na condição de suspeito não há obrigação em doar o material genético.

Mariana ressalta também que nos casos em que o suspeito está sendo investigado e o juiz entende que o perfil genético dessa pessoa é necessário para a investigação, a lei também permite. “Boa parte doa porque não doar é uma prova que ele está produzindo contra ele mesmo. Tem casos de recusa, mas é mais difícil”, diz Mariana.

Em Goiás, há 103 perfis genéticos no Banco. De condenados, são 29. “O trabalho está iniciando agora. Uma população carcerária que se enquadra na lei 12.654/12 é de, aproximadamente, de 3 mil pessoas. Só estamos começando e já estamos tendo resultados”.

Outro caso
Conforme explicou Mariana, este é o primeiro caso em Goiás que tem a identificação do suspeito por meio do banco genético. Mas outro caso no Estado já foi resolvido anteriormente com a coincidência de vestígios, solucionando um crime interestadual.

Superintendente da Polícia Técnico-Científica, Rejane Barcelos.
Superintendente da Polícia Técnico-Científica, Rejane Barcelos

Em 2013, uma mulher foi estuprada em Luziânia. No início do ano, o DNA do acusado foi incluído no banco genético em Goiás. Assim descobriu que o mesmo homem havia estuprado outra mulher no Pará, em 2012, crime que até então não tinha encontrado o suspeito e só foi possível graças às informações enviadas tanto por Goiás como pelo Pará para o Banco Nacional. “Ocorreu a coincidência entre os vestígios das vítimas de cá e de lá, mas como aqui foi apontado como suspeito e incluído, nós resolvemos o crime do Pará”. Para a superintendente da Polícia Técnico-Científica, Rejane Barcelos, a capacidade de resposta com esse recurso tecnológico será ainda maior.

Share

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *