ASMA – Uso excessivo de bombinha aumenta risco de crise, alerta estudo.

Embora seja importante para aliviar sintomas, medicação pode levar a episódios de exacerbação se utilizada de forma inapropriada, conclui pesquisa global.

TIEMI OSATO*

Em artigo publicado no periódico European Respiratory Journal, pesquisadores mostram que o uso excessivo de Saba — popularmente conhecido como “bombinha” — está associado a resultados clínicos menos satisfatórios e a uma maior taxa de exacerbações graves em pessoas asmáticas. A conclusão é fruto do programa Sabina III (SABA Use in Asthma), que é financiado pela AstraZeneca e analisou o uso da terapia inalatória em 8.351 pacientes acima de 12 anos.

Com o objetivo de obter uma perspectiva global sobre as prescrições de Saba e seus resultados clínicos, a equipe internacional de pesquisa recorreu a dados de consultas com especialistas e também da atenção primária à saúde de 24 países espalhados por cinco continentes. Do total, 76,5% dos participantes tinham asma moderada para grave, 24,3% receberam prescrições para uma ou duas bombinhas e 38% obtiveram recomendações para três ou mais.

No Brasil, onde, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, existem cerca de 20 milhões de asmáticos e o SUS registra aproximadamente 350 mil internações anuais por asma. Foto: NIAID /Flickr)

 

Ao longo de 12 meses, 45,4% dos indivíduos acompanhados relataram pelo menos uma exacerbação severa; enquanto que, para 13,1% dos voluntários, esse índice foi de, no mínimo, três episódios. Essas ocorrências consistem em uma alteração do quadro prévio do paciente. Os severos exigem ação urgente para prevenir hospitalização ou morte e os moderados são eventos incômodos e sugerem a necessidade de mudança no tratamento, mas não são tão críticos.

Os pesquisadores notaram que, na comparação com as prescrições de um a dois Sabas, as recomendações superiores a três Sabas estavam ligadas a maiores taxas de exacerbação grave e a uma menor probabilidade de ter a asma controlada (ainda que parcialmente). No caso do uso de três a cinco cânisters por ano, por exemplo, observou-se uma elevação de 40% nas ocorrências de exacerbações graves.

“O Saba não mata as pessoas, mas ele não as protege de morrerem”, diz, em entrevista a GALILEU, o médico alergista e pneumologista Álvaro Cruz, que é professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e não esteve envolvido no Sabina III. Membro do Conselho Diretor da Iniciativa Global contra a Asma (Gina), Cruz explica que a bombinha, conhecida pelo nome técnico de “beta 2 agonista inalatório de curta ação”, não é prejudicial ao organismo. O problema, porém, é que ela não tem a capacidade de tratar a doença crônica.

Trata-se de um broncodilatador, classificado como medicação de resgate ou de alívio, que tem um rápido efeito para amenizar sintomas relacionados à contração dos brônquios (que levam ar aos pulmões), mas não ataca a inflamação dessas estruturas. “O Saba alivia temporariamente os sintomas, o que é muito importante, mas não é um tratamento”, declara Cruz, lembrando que os principais medicamentos para controle de asma atualmente são os corticosteróides inaláveis, disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Os resultados do Sabina III reforçam uma diretriz emitida em 2019 pela Gina, segundo a qual a utilização isolada de broncodilatadores por asmáticos não é ideal. A entidade internacional define ainda que, para a doença controlada ou parcialmente controlada, o emprego de Saba não deveria ultrapassar dois cânisters por ano.

Diante disso, os autores do artigo destacam que o trabalho aponta para a necessidade de aprimorar o atendimento a asmáticos, reduzindo o uso exagerado de bombinhas (ou seja, acima de três canisters), e confirma os altos níveis de prescrição de Saba no mundo. Esse número, que varia de 7,6% a 79,4% entre os países incluídos na pesquisa, é de 63% para os participantes do Brasil.

Estudo SABINA III mostra que prevalência de prescrições para mais de 3 SABAS varia conforme o país. Em azul claro, as prescrições para mais de três cânisters por ano. Em azul escuro, prescrições para mais de 10 (Foto: Reprodução/European Respiratory Journal).

Na avaliação de Álvaro Cruz, a porcentagem não implica necessariamente que a aplicação no nosso país é inapropriada, mas sugere que o tratamento dos pacientes deve ser revisto. “A maioria dos brasileiros no Sabina são acompanhados por especialistas, então esse é um indicador de que a asma não está controlada. Não é necessariamente um uso que traz um risco maior como nas situações em que o indivíduo utiliza somente o Saba”, esclarece.

No Brasil, onde, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, existem cerca de 20 milhões de asmáticos e o SUS registra aproximadamente 350 mil internações anuais por asma, o pneumologista chama atenção para a importância de capacitar os profissionais da atenção primária e de emergências. Isso porque muitas vezes as pessoas vão às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), recebem um suporte para aliviar a crise e voltam para a casa.

“Normalmente, elas saem sem uma orientação de como fazer acompanhamento, e a gente sabe que pacientes que sofrem com uma crise têm um risco grande de ter outra”, comenta Cruz. Por meio da Fundação ProAR (Programa para o Controle da Asma na Bahia), da qual é diretor executivo, o médico tem realizado atividades de capacitação voltadas a integrantes da atenção primária e da saúde da família para que saibam diagnosticar e tratar a doença crônica da maneira mais adequada.

FONTE: Revista Galileu

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