ARTIGO – Fanáticos por políticos, esquecidos pelo progresso. Política de espetáculo, povo de plateia.
Enquanto a população se divide em idolatrias e rivalidades políticas, os eleitos discutem apenas seus próprios interesses, deixando de lado obras e benefícios para o povo, ignorando as verdadeiras demandas da sociedade.
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Chegando o Carnaval 2025, grande parte da população brasileira se preparando para a grande festa onde a bagunça é institucionalizada e a folia é lei. No entanto, a bagunça e a folia não se limitam aos desfiles, aos clubes e as ruas, onde o povo se aglomera com muito samba, suor, cerveja e outros bichos.
Há ainda os retiros espirituais de várias tendências religiosas, os que preferem o recolhimento, e há os políticos brasileiros, principalmente na Câmara dos deputados, que aproveitam a letargia provocada pela festa de Momo no povo, para expandir os benefícios que só a eles interessam. E, como disse o poeta Antonio Almeida, em música imortalizada por Nelson Gonçalves – e os outros que se danem futebol clube.
Mas esse povo que reclama, principalmente em redes sociais, de preços altos, da falta de escolas, da má qualidade do transporte público, da falta de segurança, e tantas outras mazelas, é o mesmo povo que só vai para as ruas para gritar nomes e idolatrar políticos de diferentes partidos e ideologias, e raramente para cobrar os deveres e obrigações desses políticos, que é trabalhar pelo bem desse mesmo povo.
Que eu me recorde, a única vez que vi o povo nas ruas, unido no mesmo objetivo, n’uma causa de interesse da população brasileira quase que como um todo, foi em 1984, na Campanha para as Diretas Já.
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Depois disso, as manifestações do povo estão sempre ligadas aos interesses partidários, aos interesses de políticos de esquerda, centro ou direita, e nunca na cobrança por melhorias para o próprio povo.
Atento e sagazes, os políticos, em sua grande maioria, alimentam essa “rivalidade” com agressões verbais mútuas, em um jogo de cena para seus eleitores seguidores, transformados em verdadeiros fantoches, incentivando-os ao debate sobre quem é mais desonesto, enquanto o dinheiro suado do povo é gasto em maracutaias, em conchavos e em desvios milionários.
Em dois exemplos recentes, assisti com muita tristeza, em 2018, pessoas dormindo em barracas por meses, sob sol e chuva, entoando mantras e exigindo a liberdade de Luiz Inácio Lula da Silva, na porta da Polícia Federal em Curitiba. Eram robustas as manifestações por todo o Brasil realizadas pelos adoradores do, na época, ex-presidente.
Depois, um delírio coletivo levou milhares de brasileiros a ficarem sob sol e chuva na porta de quartéis em vários estados e em Brasília, até cometerem a insanidade de ocupar a rampa e a laje de cobertura do Palácio do Congresso Nacional, e depois invadir e vandalizar o Congresso, o Palácio do Planalto e o Palácio do Supremo Tribunal Federal no dia 08 de janeiro de 2023, defendendo os interesses de Jair Messias Bolsonaro e sua trupe, n’uma tentativa frustrada de um golpe contra a democracia.
Essa gente, que se diz O POVO, tanto de um lado, quanto do outro, não se aglomera, com grandes manifestações, por ruas e praças deste Brasil varonil, exigindo, por exemplo, a construção imediata de 50 mil km ferrovias por todo o país; para a construção e manutenção de 30 mil escolas, creches e hospitais divididas pelos 5.570 municípios brasileiros, com equipamentos e profissionais especializados em cada unidade. Ou, para apontar apenas mais uma das grandes necessidades desse próprio POVO, a construção imediata de 100 mil casas para pessoas que ganhem de 100 a 10 mil reais, em cada um dos 26 estados e também no distrito federal.
Esse POVO, que tanto quer melhorias, que vai as ruas se arriscar a consequências dolorosas como penas de prisão altas, para defender POLÍTICOS, se acovarda em seus debates de botecos, feiras, igrejas e outros cantos, na hora de exigir esclarecimentos sobre o porque dos salários (mais penduricalhos) tão elevados para membros do legislativo, executivo e judiciário brasileiro, com sobras para parentes e aderentes desses seres que se acham superiores, enquanto o trabalhador comum recebe migalhas por seu labor sofrido.
Esse mesmo POVO, ao mesmo tempo que grita nomes de políticos e defende bandeiras partidárias, deixa cair suas lágrimas dos olhos cansados de ver tanta desigualdade, entre sorrisos embriagados por samba, suor e cerveja, enquanto seus ídolos estão nos bastidores discutindo como alinhar leis para que possam se locupletarem com o dinheiro do erário de forma “limpa e oficial”.
Para ilustrar esse minha análise solitária, vou replicar abaixo a reportagem feita pelos jornalistas Luiz Felipe Barbiéri e Paloma Rodrigues, e publicada no site do g1 nesta terça-feira, 18.
Peço atenção aos nobres leitores sobre as pautas que os deputados federais, eleito pelo POVO, estão trabalhando neste início de ano legislativo na Câmara, e façam seus comentários apontando qual delas é, realmente, de interesse do POVO.
Diz o texto, na íntegra:
Nestes primeiros dias do ano Legislativo, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu votar projetos de consenso e sem polêmica. É a chamada pauta “light”. Mas essa atitude não mostra o que realmente importa para os deputados e está sendo discutido nos bastidores:
– Liberação das emendas parlamentares nos moldes defendidos pelo Congresso
– Comando dos ministérios
– Disputa pelas comissões temáticas na Câmara
– Anistia aos golpistas do 8 de janeiro
Esses temas devem aparecer nas discussões públicas depois do Carnaval, segundo líderes partidários. Até lá, o ritmo do Congresso seguirá morno.
Emendas para 2025
O Orçamento deveria ter sido votado no final do ano passado, mas os parlamentares estavam (e continuam) insatisfeitos com o ritmo de liberação das emendas, o que travou o acordo para a análise do projeto.
Líderes da oposição e mesmo da base governista afirmam que não há disposição em suas bancadas partidárias para tratar de projetos de maior impacto enquanto não ficar claro como será o ritmo de pagamento de emendas.
“Temos que sentar e conversar com Dino [Flávio Dino ministro do STF]. Uma coisa [votar o Orçamento] está atrelada à outra [emendas]”, afirmou o deputado e líder do Republicano Gilberto Abramo (MG).
Outro ponto que incomoda sobre as emendas são as regras impostas por Dino. Parlamentares dizem concordar com a “transparência” na indicação e execução das verbas, mas querem um “ajuste fino” nas determinações do ministro.
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Reforma ministerial
Neste início de ano, mais um ingrediente entrou na conta para a votação do Orçamento: a reforma ministerial do governo Lula, que promete abrir mais espaço para partidos de centro na Esplanada, mas que ainda não saiu do papel.
O tema da reforma ministerial tem sido colocado em debate por presidentes e líderes de partido sedentos por maior representatividade no governo.
A bancada do PSD na Câmara quer trocar o Ministério da Pesca por uma pasta de mais expressão e orçamento. Uma pasta cobiçada pelo grupo é a do Turismo, que está nas mãos do União Brasil. O partido, por sua vez, já manifestou a vontade de manter o comando do ministério, chefiado por Celso Sabino.
O PDT e o PSB também cobram mais espaço no governo sob argumento de fidelidade nas votações.
As discussões têm mobilizado os parlamentares. Na semana passada, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, participou de um jantar com deputados do PDT.
Comissões
Outra discussão que tem movimentado os bastidores da Câmara é a definição sobre as presidências das comissões temáticas.
A mais importante delas, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), é cobiçada por União Brasil e MDB, que tinham a expectativa de assumir o colegiado por conta de um acordo fechado ainda durante a gestão de Arthur Lira (PP-AL). Mas o PL não quer abrir mão do seu direito à CCJ por ter a maior bancada de deputados da Câmara.
Segundo o líder do partido na Casa, Sóstenes Cavalcante (SP), o PL só abrirá mão de presidir o colegiado se receber uma contrapartida a altura. “Nossos gestos já se esgotaram”, disse.
A bancada do PL também tem conflitos internos. Os deputados mais à direita da sigla buscam o comando de comissões consideradas mais ideológicas ou mais alinhadas aos interesses do grupo, como a Comissão de Relações Exteriores.
O PSD quer as comissões de Turismo e Minas e Energia. O PDT avalia que ficará com a Comissão de Indústria.
Os partidos, no entanto, ainda aguardam as definições de PL e PT. Por terem as maiores bancadas, as duas siglas podem escolher as primeiras comissões é só então os demais devem definir as pedidas.
“Enquanto PL e PT não se ajustarem lá em cima, é difícil a gente se ajustar lá embaixo”, afirmou Abramo. O Republicanos, por enquanto, tem o interesse de manter as comissões de Comunicação e Viação e Transporte, mas pode reivindicar outro a posto e depender dos acordos costurados entre as legendas.
Anistia aos golpistas
Sobre o tema, o impasse persiste. O PL articula formas de o projeto ser mais palatável a mais deputados e, assim, angariar votos suficientes para sua aprovação.
A opção analisada no momento é buscar a anistia aos presos do 8 de janeiro pelos três principais crimes a que foram acusados (associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado), mas mantendo as condenações por dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado, cujas penas são apenas de detenção, não de prisão.
A oposição insiste que nunca será possível estabelecer um acordo na Casa para votação da pauta e que, por isso, o projeto deve ir ao plenário e ser decidido no voto.
A base governista resiste à ideia e é contrária a qualquer possibilidade de o projeto sequer entrar em votação.
Assim termina o excelente resumo feito pelos profissionas do G1.
E também assim, percebemos que a letra de HOMENAGEM AO MALANDRO, feita por Chico Buarque de Holanda em 1978, está cada vez mais atual: Agora já não é normal, o que dá de malandro regular, profissional. Malandro com aparato de malandro oficial. Malandro candidato a malandro federal, malandro com retrato na coluna social, malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal…
***Roberto Naborfazan é editor-chefe do Jornal O VETOR. Observador da política partidária brasileira, fez especialização em jornalismo comunitário por meio da Reinan International Center de Tsuruga-Shi, Fukui-Ken – Japão
FOTO DE CAPA: Reprodução do Twiter