APROPRIAÇÃO – Bandeiras de Israel em ato bolsonarista preocupam entidades judaicas.

“A comunidade judaica brasileira é plural, composta por cerca de 120 mil pessoas. Existe judeu rico e judeu pobre, judeu branco e judeu negro, judeu de direita e judeu de esquerda. Daí que as reações em relação à presença da bandeira de Israel nesses atos variam muito”, ressalta o assessor especial do Instituto Brasil-Israel, cientista social e mestre em Letras pelo programa de Estudos Judaicos e Árabes da USP, Daniel Douek.

Lucas Neiva**

Além do discurso proferido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a presença de um grande número de bandeiras de Israel portadas pelos manifestantes foi um dos aspectos de maior repercussão na passeata organizada na Avenida Paulista no último domingo (25). O gesto, apesar de já esperado por entidades de representação judaica no Brasil, foi visto com preocupação diante da apropriação de um de seus principais símbolos.

Em nota, o Instituto Brasil-Israel se pronunciou sobre a utilização de bandeiras israelenses pelos manifestantes. Para a entidade, o ato é parte de uma “instrumentalização da imagem de Israel pela extrema-direita brasileira, baseada na perspectiva imaginária de um país conservador, branco e cristão”. Essa representação “é contrária à realidade de uma sociedade composta por uma população diversa, com rachas internos difíceis de resolver, muito machucada pela guerra”.

Daniel Douek, assessor especial do Instituto Brasil-Israel, cientista social e mestre em Letras pelo programa de Estudos Judaicos e Árabes da USP, reforça o entendimento de que o uso das bandeiras “tem menos a ver com uma agenda da comunidade judaica do que com apoiadores de Bolsonaro, especialmente evangélicos, pelo lugar que o país ocupa em sua doutrina religiosa”.

Entidades de representação judaicas temem apropriação de símbolos nacionais pela extrema-direita brasileira. FOTO:Reprodução/MEMO 

O movimento Judeus Pela Democracia também entende o gesto dos manifestantes como uma apropriação por parte da ala evangélica. “O apoio incondicional de evangélicos à Israel bíblica e a aproximação pela extrema-direita a uma Israel belicista e imaginariamente conservadora ajudam a explicar. Some-se a isso o uso maniqueísta da guerra e temos o resultado mais do que óbvio”, aponta o grupo.

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As bandeiras, conforme acrescenta Daniel Douek, acabam sendo apropriadas também para representar um símbolo de oposição à atual conjuntura política. “Há desde um contraponto à esquerda, que exibe bandeiras da Palestina em suas manifestações, até a percepção de que o Estado de Israel representaria os valores conservadores que esses grupos reivindicam para o Brasil”.

A realidade da comunidade judaica, porém, ele explica que diverge do imaginário bolsonarista. “A comunidade judaica brasileira é plural, composta por cerca de 120 mil pessoas. Existe judeu rico e judeu pobre, judeu branco e judeu negro, judeu de direita e judeu de esquerda. Daí que as reações em relação à presença da bandeira de Israel nesses atos variam muito”, ressaltou.

Douek acredita que o processo de apropriação tende a se intensificar com o avanço da polarização na política brasileira e do enfoque sobre a guerra no Oriente Médio. O movimento Judeus pela Democracia lamenta que isso aconteça nas mãos de um movimento contrário à ordem democrática. “É triste ver que as evidências já divulgadas do golpismo do governo Bolsonaro não desmobilizaram a parcela conservadora, religiosa, militarista e potencialmente antissemita da população brasileira”.

***LUCAS NEIVA Repórter. Jornalista formado pelo UniCeub, foi repórter da edição impressa do Jornal de Brasília, onde atuou na editoria de Cidades.

FONTE: Congresso em Foco.

FOTO DE CAPA:Rovena Rosa/Agência Brasil.

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