DOUTRINA ESPÍRITA – O TEMPO E O VENTO.

Roberto Cury

Quisera saber o que é o tempo e o que tem o vento com o tal do tempo.

Diz Aurélio Buarque de Holanda que tempo é uma época, um período e o vento uma corrente de ar resultante de diferenças de pressão atmosférica por variações de temperatura.

Pois não é que o tempo e o vento se relacionam de tal forma que culminam por dirigirem as encarnações dos seres humanos! Impressionantemente, as pessoas encadeiam os seus dias e quefazeres fundados no tempo e no vento que sopra segundo os ideais e também as ideias de cada um. Como assim?

Cada instante do ser humano representa um tempo. Ora ele se encontra num mundo e de repente já se acha em horizontes outros que não aquele inicial. Em outras palavras: Estava numa cidade e mais tarde, naquele mesmo dia, depois de viajar, encontra-se em outra urbe bem mais distante da inicial. Assim, viaja, também, o pensamento numa rapidez indescritível que nem a luz consegue acompanhar a velocidade do mesmo.

E o pensamento é exclusivo daquele que pensa. Ninguém, além do próprio autor, consegue penetra-lo, nem viajar com ele. E o vento?

O vento corre pelas cercanias das cidades, voluteia entre as nuvens, forma caracóis assombrosos nos vendavais ou cones de alturas e velocidades indescritíveis nos tornados, arrebentando casas, levando ,de roldão, árvores, animais, veículos e tudo que esteja à sua frente. Açoita as faces, paredes, vidraças, nas tempestades de areia nos desertos e de águas, nos campos e nas cidades.

O vento modifica vidas, empobrecendo muitos e enriquecendo alguns que se aproveitam das misérias e das agruras humanas. Mas, tanto o tempo quanto o vento são indispensáveis para o progresso e para o sucesso dos encarnados.

Josué nascera nos idos de 1930. Em tenra idade ouvira sobre os estrondos da Grande Guerra que vinha, desde 1939, ceifando vidas na Europa, na Ásia e em alguns lugares da América, da Oceania e da África. O Eixo guerreando contra os Aliados. Centenas de milhares de jovens perecendo nos campos de batalha, nas cidades… mortandade cruel de vidas destruindo sonhos de crescimento, de evolução, de sentimentos e de amor.

O surgimento e a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki ceifando vidas inocentes de civis, destruindo campos, prédios e a própria natureza.

A tristeza substituindo o ufanismo de vencedores e de vencidos. O vento levando os terríveis efeitos dos gases e dos raios atômicos para além das fronteiras daquelas cidades, arrastando desgraças inomináveis, contaminando idosos, jovens e crianças, irremediavelmente.

Entretanto, não viemos ao mundo para criar, colher, ou participar de desgraças, mas, para contribuir pelo progresso do globo terrestre e o sucesso de todos os seus habitantes, proporcionando conquistas em todos os setores das atividades físicas, intelectuais e morais, além de promover a alegria e a felicidade dos seres em geral.

Foi assim que Josué estudou, trabalhou buscando sempre imprimir o melhor de si mesmo porque acreditou que a humanidade necessita encontrar pessoas alegres e felizes para que o progresso continue acelerado e proveitoso para o máximo de pessoas. Assim pensava e assim fez a cada dia de sua encarnação, pois acreditava que a vida somente seria boa de ser vivida se cada ser se encontrasse capaz de sorrir.

Então criou para si e para o mundo uma pequena história.

Lucinda era uma criança que aos três anos de idade viu-se sozinha no mundo: seus pais, que faleceram num acidente do qual só ela sobrevivera, foram criados num orfanato pois não tinham parentes quando recolhidos, numa praça da pequena cidade, pelo juizado de menores.

O jovem casal espírita Armênio e Clara, que passou no local do acidente minutos após o acontecido, através de um telefone às margens da rodovia, acionou a Polícia Rodoviária e se responsabilizou pela criança, inclusive adotando-a, posteriormente, por ato junto do Juizado de menores da cidade.

Armênio e Clara, apesar de inúmeras tentativas e tratamentos médicos, nunca conseguiram ser pais biológicos. Assim, Lucinda foi a bênção de Deus para a consolidação daquele casal amoroso.

A menina cresceu sadia e se tornou uma linda moça de cabelos loiros anelados, pele lisa, sempre sorridente e feliz e como Clara dizia, era doce como o mel, suave como a brisa de verão, carinhosa ao extremo e bondosa como um anjo de luz.

O tempo fluiu suave e docemente entre aquelas três criaturas, até que a morte levou primeiro Armênio e dois meses depois, Clara partiu sorrindo na certeza de que Armênio tinha vindo busca-la.

Lucinda, novamente se tornara órfã, mas, agora nos seus trinta e três anos de idade, formada em geriatria, passou a se dedicar inteiramente aos idosos no abrigo mantido pela Casa Espírita da cidade. Lucinda nunca se casou.

Conviveu e cuidou com desvelo de figuras marcantes. Sêo Nivaldo de mais de sessenta anos, tinha só uma perna e se equilibrava com uma muleta para poder andar e ainda assim cuidou da horta da instituição, além de ajudar no atendimento de outros idosos que tinham dificuldades locomotoras. Cuidava, também do salão do Centro Espírita que funcionava na parte externa do Abrigo.

A velha Chica, se movia como criança engatinhando por um problema na coluna que não lhe permitia ficar de pé.

Clodoaldo, magérrimo e decadente, mas, que caminhava, aproveitava para vender bilhetes de loterias pelas ruas da cidade, vindo para o almoço, banho, jantar e depois dormir numa das camas do Abrigo.

Francisca, tísica, passava a maior parte do tempo deitada gemendo de dores, onde fazia suas refeições e foi tratada, até sua desencarnação.

Os médicos Renato e Avenir, revezavam nos cuidados dos pacientes do Abrigo juntamente com Lucinda e alguns abnegados trabalhavam de graça no atendimento daqueles seres que não tinham mais ninguém no mundo. Os velhos nunca recebiam visitas de familiares se é que algum deles tinha.

Além dos cuidados naturais, Lucinda ainda, percorria a cidade conseguindo através dos comerciantes, gêneros alimentícios, inclusive carne nos açougues. Uma vez, foi agraciada com carnes nobres promovendo um churrasco para os abrigados, do qual também participaram o açougueiro doador, o juiz de direito, o prefeito e alguns vereadores que se entusiasmaram com o trabalho ali desenvolvido prometendo e cumprindo que uma vez por mês repetiriam aquele encontro e ao que se sabe durante muitos anos assim aconteceu.

Muitas vezes os sitiantes e fazendeiros, entusiasmados com o trabalho de Lucinda, doaram frutas, verduras e animais abatidos para os velhos do Abrigo.

O amor de Lucinda conquistou toda a população até que quando de sua desencarnação aos cinquenta e quatro anos, toda a cidade chorou e o culto no Centro Espírita onde ela tantas vezes falou aos fiéis, não comportou a quantidade de pessoas que foram para a despedida daquela órfã que dedicara toda a sua vida a cuidar com tanto desvelo e carinho dos menos favorecidos.

Tempos depois uma lei municipal, numa justa homenagem mudou o nome da rua do Centro Espírita para Lucinda das Neves Jordão.

POEMA

Roberto Cury

Vida e felicidades.

Bloco de mármore, branco, limpo, sujamos?

emporcalhamos? talhamos? damos forma?

arrebentamos? construímos?

C´est la vie, dire mon ami Clovis.

Então a vida construamos…

Somos e seremos, eternamente, felizes!

Nunca lamentemos, algum desencontro, estabilizemos, nossa paz!

Jamais paremos, na beira da estrada, que a vida é breve,

e temos um Universo pela frente, no Além!

Sintamos o Bem que nos envolve, tenhamos o sorriso, do Bem-querer!

Fale conosco: robcury@hotmail.com

 

 

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