ENTREVISTA – Prefeito de Alto Paraíso de Goiás, Álan Barbosa.
Escolhida para ser a primeira cidade sustentável do Brasil, através de ações baseadas nas metas do milênio, Alto Paraíso de Goiás, localizada na Chapada dos Veadeiros, na região nordeste do estado é também uma das cidades que integram o Circuito Gastronômico Goiás. Sobre estes temas e vários outros que convergem para um maior desenvolvimento do turismo na região, o prefeito Álan Barbosa fala, com exclusividade, ao Jornal O VETOR.
Roberto Naborfazan
OVETOR – Prefeito, o senhor participou do evento no Palácio das Esmeraldas, no dia 23 de maio, onde o governador Marconi Perillo instituiu o Circuito Gastronômico Goiás. Qual sua expectativa para a realização do II Festival Gastronômico de Alto Paraíso?
Álan Barbosa – Acompanhei o governador Marconi Perillo e o presidente da Goiás Turismo, Leandro Garcia, no lançamento do Circuito Gastronômico Goiás, no qual nosso município de Alto Paraíso está inserido, ao lado da cidade de Goiás, Nova Veneza, Pirenópolis, Goiânia, São Simão, Caldas Novas e Rio Quente.
A visibilidade dada ao evento mostra a importância deste circuito na motivação tanto da comunidade quanto do empresariado, que visualizam a geração de empregos e rendas, dando também aos nossos visitantes mais uma opção de lazer. A presença e a fala do governador durante o evento fortalece o excelente trabalho que vem sendo desenvolvido por Leandro Garcia, na busca de alternativas de enfrentamento a forte crise financeira que atingiu o País.
Tenho o entendimento de que o Circuito Gastronômico Goiás, que é um impulso no desenvolvimento do turismo, na visão de alguns gestores de municípios envolvidos, é de apenas mais uma ação, tanto que estranhei que dos prefeitos convidados, somente a prefeita da cidade de Goiás, Selma Bastos, que lá estava para falar em nome dos prefeitos, e eu, estivemos no lançamento dos festivais. Para nós, da Chapada dos Veadeiros, o festival é uma ação fundamental. Estamos em uma fase que precisamos firmar o evento em nosso calendário turístico fazendo algo diferenciado. Já tem pessoal nosso, em Alto Paraíso, se despertando para fazer isso, pelo sucesso que foi o primeiro Festival Gastronômico realizado no ano passado.
OVETOR- No primeiro festival, realizado o ano passado, um sucesso indiscutível, alguns empresários se sentiram fora do processo, argumentaram que não foram convidados para debater estruturas de alimentação, hospedagem, divulgação antecipada aos seus clientes, enfim, de participação. Como está sendo conduzida essa preparação para este ano? Há a intenção da prefeitura de convidar os empresários para um debate, um plano de ação conjunta e coordenada?
ÁB – Cada festival tem um formato pré-elaborado pela Goiás Turismo. O nosso é um evento específico, realizado em um fim de semana que coincide com o aniversário do município. O empresariado é convidado, comunicado, e durante o evento são oferecidas algumas aulas shows visando despertar em quem já trabalha ou pretende trabalhar na área gastronômica, ser um Chef, novas ideias para fazer e servir uma comida com arte, que também é um chamamento para o turismo, a qualidade do serviço que se oferece. Vejo que é um bom momento para convidar todo esse pessoal para conversamos e buscarmos ações conjuntas. Entendo que a iniciativa privada tem que, cada vez mais, assumir o protagonismo do desenvolvimento do município. A administração municipal tem que fazer o seu papel de buscar eventos dessa magnitude, dando estímulo, montando estruturas, mas a era de governo provedor, que tem que buscar, bancar, fazer tudo já passou, não existe mais essa possibilidade. O governo municipal é parceiro na busca, na orientação, na prestação do serviço público com qualidade, mas é preciso que os grupos empresariais de todos os segmentos também se mobilizem e se organizem para participar ativamente. Vejo como uma grande deficiência em Alto Paraíso não termos uma junta comercial, uma associação dos comerciantes, algo que junte os empresários para que participem, se envolvam financeiramente entre eles para que ajudem a desenvolver nosso município, promovendo alguns eventos que gerem benefícios para todos, deixando para trás o pensamento de que é cada um por si, unidos, empresários e poder público, tenho certeza que muita coisa boa pode acontecer.
Estamos abertos ás sugestões e participações, vamos provocar essa discussão com o empresariado e com a comunidade como um todo, e isso é para agora, ainda no primeiro semestre, para fazermos um festival gastronômico referência em Goiás e atração para todo o País. Temos que começarmos este debate agora, ouvir sugestões para podermos apresentar a Goiás Turismo com antecedência, porque não dá para chegar em cima da hora e dizer – é esse o formato que queremos. Temos que nos adequar também a disponibilidade financeira deles.
OVETOR- Uma das sugestões a ser levada para a Goiás Turismo trata do evento na Vila de São Jorge. No primeiro Festival, ano passado, houve uma boa participação do empresariado local. Haveria como buscar uma maior integração durante o evento, que na Vila acontece em um dia específico, visando maior movimentação do público visitante nas atividades relacionadas ao Festival Gastronômico?
ÁB – Como disse, existe um limitador financeiro, tanto na Goiás Turismo, quanto na prefeitura municipal. Ano passado fizemos um enorme esforço para podermos custear palco e uma série de outras coisinhas, porque A Goiás Turismo chegou ao final do ano com recursos baixos. Usamos recursos de uma emenda do deputado Francisco Júnior, que era para uma outra ação, fizemos um remanejamento, o que possibilitou realizar nosso festival com aquelas personalidade que vieram. Por exemplo, a culinarista e apresentadora Bela Gil não viria, tivemos que reverter isso com essas ações que acabou gerando mídia pra gente. Outra coisa é que esse envolvimento era para ter sido construído por todos mesmo. Nós tínhamos disponibilidade para termos apenas um grande show, normal que isso seja feito na sede do município. Não tinha como fazer um outro show em São Jorge. Levamos para lá palestras e aulas shows com degustação, e a participação na Vila foi proporcionalmente maior que na sede. Mas tem o fato de alguns dos Chefs que participaram, vieram para se apresentar em um dia e depois foi embora. Como o evento vem para acontecer no município, toda integração é salutar e nada impede que empresários, tanto em São Jorge, quanto na sede, se integrem e promovam ações culturais que auxiliem na movimentação dos moradores e turistas em termos de lazer e alimentação. Então nos, governo municipal e empresariado, temos que buscar ações que complementem a estrutura oferecida pela Goiás Turismo.
OVETOR – Está previsto para o dia 13 próximo uma visita do governador Marconi Perillo e grande comitiva ao município de Alto Paraíso. Em pauta, previsões de ações baseadas nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que devem ser implementados por todos os países do mundo durante os próximos 14 anos, até 2030. A intenção é corroborar o que foi falado entre o governador e o líder espiritual humanitário Sri Prem Baba no final do ano passado. São previsões, não há recursos nem prazos para possíveis execuções. Inclusive, uma das ações citadas, a duplicação da GO 118 até o trevo para Formosa, com ciclovia, foi considerada utópica por muitos, visto que as obras da GO 239 (Estrada Parque Divaldo William Rinco), se arrasta há anos e não é concluída. Entre os integrantes da comitiva governamental, deve estar presente o secretário Vilmar Rocha, da SECIMA. Dois temas que tem provocado muitos debates entre integrantes da sociedade organizada e o poder público municipal, a questão da ETE e do Lixão, serão provocados para reação das autoridades durante essa visita?
ÁB – Primeiro quero dizer que fico feliz em poder estar vivenciando, como prefeito, essa experiência de ter em nosso município alguém como o Prem Baba, que consegue mobilizar o governador do estado e provocar esse tipo de ação para nossa gente. São ações que alimentam nossos sonhos de que tenhamos um Alto Paraíso sustentável. Lógico que há muito o que ser discutido. Para ser sustentável, em primeiro ponto, o município tem que se sustentar financeiramente, e o governo não vai dar essa condição. O foco dos debates serão as 17 metas do milênio, debatidas na ONU, que envolvem diversas áreas, saúde, educação, meio ambiente, diversas, entre elas a questão do saneamento básico que você questionou. Tenho buscado orientações e soluções para essa questão com diversas autoridades, inclusive com o governador Marconi Perillo, que me recebeu em sua casa, em Pirenópolis, onde fez um despacho determinando que a Saneago coordenasse solução para o problema. Veja ai a sabedoria nas palavras. Não foi dito para solucionar o problema, mas coordenar uma solução, e coordenar solução tem sido por nos trabalhado junto as principais diretorias da Saneago, com o Afrêni Gonçalves, com a engenheira Lívia, que já promoveu diversas reuniões com sua equipe em nossa presença, discutindo principalmente a questão da ETE em São Jorge, que vejo como nosso grande problema.
Uma obra que foi concluída com o ateste do engenheiro da FUNASA, que não teve como funcionar e o engenheiro tira o corpo fora. Pelo próprio convênio assinado, ele não tem responsabilidade técnica, pois só acompanhava, então essa responsabilidade passa para nosso engenheiro da época e da empresa que executava a obra, e eu ainda tenho uma responsabilidade solidária porque, mesmo não sendo engenheiro, tinha um responsável técnico e eu autorizei como se tivesse sido executado com eficiência. E o que a gente vê hoje é que tudo foi executado com muita deficiência. Não há como funcionar e tem se discutido, inclusive, o deslocamento de localização da ETE. Tem se discutido e feito um levantamento de custos, para depois se pensar em quem vai custear, se governo federal, estadual ou em conjunto. Quanto a ETE de Alto Paraíso, é um processo que está sendo tratado com a FUNASA, e com certeza precisa ser mais conversado, discutido. Eu entendo que o processo é de captação de recursos para realização da ETE que foi aprovada pela FUNASA, n’um projeto que eu tenho tido toda disposição de complementa-lo com o tratamento terciário que já foi proposto em conversas, audiências até com o CONDEMA, através do nosso então secretário Júlio Itacaramby, para que fizéssemos um termo de ajustamento de conduta, para que não fosse a palavra do prefeito Álan Barbosa, mas que fosse um compromisso do município de Alto Paraíso, para que ao se implantar a ETE, fizesse também o tratamento terciário, que seria tratar o efluente nas raízes de Bambu. Teremos um parque de Bambu e também o seu aproveitamento comercial. Coisas que são desejáveis para o meio ambiente. É logico que existe uma resistência, e essa é uma outra questão à ser trabalhada, que é de esclarecimento. Estamos entrando em um período político, e essa será com certeza uma questão que estará sendo debatida e questionada, vamos ver como correrão essas coisas.
Em relação ao resíduo sólido do nosso lixo, o jornal O VETOR noticiou recentemente uma grande melhora que fizemos. Não é ainda o Aterro Sanitário controlado que almejamos, mas não podemos ficar aguardando elaboração, aprovação de projetos, disponibilidades financeiras, enquanto tudo vai se deteriorando a céu aberto. Sob a batuta de nosso secretário Lecides, fizemos um trabalho de abertura de valas, forrando com lixo seco e intercalando camadas com outros resíduos, minimizando os danos causados pelo chorume. Infelizmente, devido a falta de educação de alguns, que levam seu lixo e, ao invés de jogar nas valas abertas, jogam na entrada, a área do lixão está tendo que ser limpa semanalmente, visando diminuir a proliferação de moscas. Paralelo a isso, a ação do nosso parceiro Luisaço, que, com sua associação de catadores, tem reduzido em muito o lixo orgânico no Lixão e aumentado a reciclagem, o que tem gerado algum recurso para alimentar esse sistema. Estamos buscando ampliar a coleta seletiva, que já acontece na Vila de São Jorge, através da empresa 3R, do Guilherme Frejat, para que também seja realizado na sede do município. Temos convicção de que estamos dando rumo muito certo no caminho da sustentabilidade, o que corrobora as ações que o governo do estado pretende nos apresentar em breve, colocando Alto Paraíso como modelo de cidade sustentável.
Quanto a realização efetiva de benefícios para nossa comunidade, através das propostas previstas nas ações discutidas entre o governador, membros de sua equipe e o Prem Baba, em nossa presença, o compromisso inicial foi de implantação de um Centro de Artes e Cultura, na forma do Afro Reggae, do Rio de Janeiro. Quando o governador aqui esteve, mostrei para ele a área que temos disponível para construção desse Centro, aquela do antigo campo do consórcio, em excelente localização e que já existe um projeto elaborado que pode ser aproveitado. Outra coisa é que fui procurado pelo pessoal da AGEHAB, buscando melhorar algumas de nossas praças ou a construção de novas com o conceito de sustentabilidade sendo aplicado, como a instalação de células fotoelétricas para iluminação das praças, a utilização de bloquetes, que permitam a infiltração da água no solo, entre várias outras ações. Nossa solicitação imediata foi para que sejam usadas como piloto as praças do Bambu e uma em São Jorge, possivelmente a praça do Pelé.
Temos algumas questões a serem resolvidas, como a desocupação de áreas públicas, entre elas retirada daqueles comerciantes que estão ao lado do muro do cemitério, na praça do Pelé, em São Jorge. Estão ali de forma irregular há mais de 20 anos, agindo, inclusive, contra legislação da vigilância sanitária, que impede a comercialização de alimentos a menos de 15 metros de um muro de cemitério. Temos procurado agir com sabedoria, mas tem havido algumas reações contrárias, tenho certeza que agindo com justiça estaremos agradando a maioria da comunidade. Não estamos agindo com truculência, de uma hora para outra. Duas lojas já estão fechadas há praticamente seis meses, sem interferência na qualidade de vida das pessoas, e um terceiro, que alega que ali é o local de onde tira seu sustento, mas nós estamos mostrando a ele que é necessário sua mudança para outro local, porque seu argumento não é motivo para afrontar uma lei de uso de espaço público. A lei não pode olhar uma pessoa diferente de outra, tem que ser para todos.
OVETOR – Esse pessoal vai ter opção de local para mudança bancada pelo município, alguma ajuda financeira?
ÁB – Não há previsão de nada disso. Muitas pessoas acham que, por terem ocupado durante muito tempo áreas públicas, têm algum direito, não existe isso. Pelo menos neste aspecto de área urbana não existe esse direito. Na área rural, como a gente tem visto na questão da regularização fundiária em nosso município, existem essas terras devolutas em que os posseiros, em algumas situações determinadas por lei, passam a ter o privilégio de compra-las.
OVETOR – Quanto a regularização fundiária rural, falamos com o secretário Vilmar Rocha sobre o compromisso de se tratar da questão da ampliação do Parque da Chapada dos Veadeiros só depois de a ter definid , qual seu posicionamento?
ÁB – Eu conversei com o pessoal do governo do estado sobre essa questão da ampliação do Parque, inclusive em áreas devolutas; O Secretário Vilmar Rocha me afirmou que nada será feito sem a conclusão da regularização fundiária. Havia uma conversa de que o governo federal estava conduzindo esse processo a toque de caixa. Se estava, não está mais, até porque era governo Dilma e agora é governo Temer, então até o próprio direcionamento de entidades com o ICMBio está mudado, muita coisa de orientação pode ser mudada, e eu vejo como natural aguardar a regularização fundiária para depois tomar qualquer posicionamento em relação a ampliação do Parque. Vejo como desejável que nosso município seja visto como um município Parque, isso é mais um titulo a ser iconizado dentro da visibilidade de referência em sustentabilidade. Mas temos que entender que isso deve acontecer dentro de um conceito de justiça, de respeito a população local, e não aos interesses de governantes distantes, que não tem a sensibilidade de olhar a necessidade das pessoas que estão nas áreas. Existem grupos em nossa cidade que trabalham e insistem na ampliação do Parque de qualquer maneira, esses grupos também estão desrespeitando a população local, muitos se acham os sabe tudo, que até tem conhecimento, mas não sabem respeitar a população nativa, local. De certa forma, estou tento um aprendizado em relação ao inicio de governo, quando baixamos nosso decreto de obras, assegurando que ocupação de área pública é desocupação imediata, não precisa ser notificado, não precisa de decisão judicial. Replicamos o que é legislação da capital do Brasil, Brasília, onde área pública na zona urbana pode se chegar e derrubar na hora, caso não haja na casa com uma família morando. Hoje esse meu ímpeto foi arrefecido, até por algumas reações da comunidade, por não querer passar máquinas em cima de gente, o que seria um absurdo, também pelas ameaças que aconteceram, a gente tem então tem esperado a ação da justiça em relação aos lotes invadidos lá em São Jorge, onde não tomamos mais nenhuma medida de repressão e a coisa tem crescido cada vez mais. Não sei onde a coisa vai dar, mas se houver seriedade no cumprimento da justiça, sem nenhum acordo, existem pessoas ali que tem que pagar multa diária de quinhentos reais há mais de três anos, o que seria uma multa próxima de seiscentos mil reais. Então são coisas que a gente está respeitando a justiça e aprendendo a aguardar. Nada está sendo, nem será feito de forma açodada. Manteremos o diálogo, sempre buscando agir dentro da lei e do respeito aos interesses da maioria de nossa comunidade.