ONU “Brasil não sabe o tamanho do problema”

Representante do escritório das Nações Unidas sobre Drogas, Bo Mathiasen, diz que falta de estudo nacional sobre crack deixa País às escuras. Presidente Lula assina decreto que prevê capacitação de lideranças locais, como igrejas, escolas e sindicatos, para a conscientização sobre o uso do crack

O representante do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, Bo Mathiasen

DANIELTORRES*
Combate, prevenção e tratamento são as três palavras chaves do decreto que institui o Plano Nacional de Combate ao Crack, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de encerramento da 13ª Marcha dos Prefeitos, em Brasília.

O decreto, segundo explicação do presidente, prevê capacitação de lideranças locais, como igrejas, escolas e sindicatos, para o trabalho de conscientização sobre o uso do crack e seus efeitos.

“O crack ainda é uma coisa nebulosa. Nós já sabemos os efeitos que ele causa, já sabemos a dureza para quem utiliza o crack. Mas cientificamente tem poucos estudos sobre a questão do crack”, disse o presidente.”Não vamos deixar uma geração de jovens brasileiros perder um futuro cada vez mais promissor”.

No decreto também estão previstos centros de atendimento financiados pelo Ministério da Saúde que funcionariam 24 horas para atender dependentes que procuram a reabilitação.

No combate ao tráfico, o presidente Lula ressaltou que é preciso mapear as rotas da comercialização ilegal, principalmente nas fronteiras, para reprimi-la. “O plano de enfrentamento do uso do crack prevê coordenação de ações entre saúde, educação, assistência social e segurança pública”, disse Lula.

DIFERENTE DE TUDO
“Os profissionais da área de saúde e os funcionários de clínicas estão atônitos. O crack é diferentes de todas as outras drogas que conhecemos”. Afrase é do coordenador do Instituto Minas pela Paz e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em segurança pública da PUC Minas, Dr. Flávio Sapori.

Sapori foi um dos palestrantes do “1º Simpósio Sulamericano de política sobre Drogas: crack e cenários urbanos”, que aconteceu em Belo Horizonte no inicio do mês e discutiu os problemas do impacto do consumo de crack na segurança e na saúde pública, a descriminalização de drogas, e as experiências sobre o assunto na América do Sul.

ÁS ESCURAS
O representante do Escritório das Nações Unidas (ONU) sobre Drogas e Crime, Bo Mathiasen, afirma que o Brasil está no caminho certo para o enfrentamento do tráfico e consumo das drogas, mas que a falta de uma pesquisa nacional em relação ao crack deixa o País às escuras para enfrentar o problema.

“Não sabemos o tamanho do problema do crack. Precisamos ter uma cultura de pesquisa. Elas precisam ser feitas e ter uma periodicidade. O Brasil não sabe o tamanho do problema. Muitos estudiosos falam que é alarmante. Outros dizem que o problema com o crack, em relação às outras drogas, nem é tão grande assim. Fica impossível trabalhar uma política pública sem saber o que atacar”, diz Mathiasen.

O representante da ONU, que é dinamarquês, mas trabalha em um escritório da entidade em Brasília, afirma que o Brasil tem boas práticas que devem ser espalhadas pelo País. “O Brasil está num bom caminho no combate às drogas. Temos que lembrar que o País é muito grande e isso deixa tudo mais complexo. Aregião Norte é totalmente diferente da região Sul. Mas alguns trabalhos têm que ser destacados, como o Pronasci e as UPPs, no Rio e Janeiro.”

O Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), foi criado em 2007, e investirá R$ 6,7 bilhões em segurança pública até 2011. O programa articula políticas de segurança com ações sociais, priorizando a prevenção. No Rio de Janeiro, as UPPs são Unidades de Polícia Pacificadora que foram instaladas em comunidades com alto índice de violência que combinam policiamento comunitário com investimentos sociais.

Segundo uma pesquisa da ONU, divulgada no ano passado, o mercado da América do Sul corresponde a 15% do mercado mundial da cocaína (que é a base do crack). De acordo com os dados, de 2000 a 2007, quadruplicou o número de apreensões de cocaína nos países da América do Sul. “Isso significa que tem mais droga em circulação”, diz o dinamarquês.

Mathiasen defende que o Brasil lidere os países vizinhos da América do Sul em uma ação conjunta de combate às drogas. “É importante que o Brasil copere com os países vizinhos. Precisa trabalhar com a Bolívia que é o principal exportador de cocaína e a pasta-base para o País. O Brasil precisa também estar muito atento ao Paraguai, que é muito pobre e está muito vulnerável. Amaioria da maconha que entra no País vem do Paraguai. O Brasil tem na sua mão a chave para achar essas soluções. Será a proatividade brasileira que poderá solucionar esse problema na região”. *(IGSÃO PAULO)

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