Vinho x cerveja: qual é o melhor para a saúde

Poucas bebidas (exceto, talvez, o chá e o café) dividem o mundo de maneira tão radical quanto a cerveja e o vinho. Gostos à parte, as duas apresentam diferença sutis na maneira como afetam o organismo e a saúde

David Robson*

A BBC Future peneirou as evidências recolhidas por vários estudos científicos para tentar derrubar alguns dos mitos que cercam as duas bebidas. Sirva-se.

Qual embriaga mais rapidamente?

Uma pint de cerveja (665 ml) e uma taça média de vinho (175 ml) possuem praticamente o mesmo teor alcoólico. No entanto, a embriaguez ocorre quando esse álcool passa para a corrente sanguínea. E a velocidade com que isso acontece varia com cada bebida.

Mack Mitchell, da Faculdade de Medicina da Universidade do Texas, recentemente fez um experimento no qual pediu para um grupo de 15 homens ingerirem diferentes bebidas em dias distintos. Ele se certificou que o conteúdo alcoólico era compatível com o peso corporal de cada voluntário e monitorou para que a bebida fosse consumida no mesmo intervalo de 20 minutos.

Em um resultado pouco surpreendente, os destilados foram os que entraram na corrente sanguínea mais rapidamente. Em seguida, vem o vinho (que chega a um pico de saturação no sangue 54 minutos depois de ingerido), e a cerveja (que leva 62 minutos no mesmo processo).

Em outras palavras, uma taça de vinho “sobe” mais rapidamente que uma pint de cerveja.

Conclusão: A cerveja é uma aposta mais certeira para se evitar vexames.

À primeira vista, a ideia da “barriga de cerveja” parece ser verdade. O próprio álcool já é rico em calorias, sem contar todos os açúcares que tornam essas bebidas tão saborosas.

Com 180 calorias, uma pint de cerveja tem 50% mais conteúdo energético do que uma taça pequena de vinho – o suficiente para ajudar a acumular uns quilinhos.

Mas para quem bebe moderadamente, as diferenças tendem a ser bem pequenas. Uma recente revisão de dezenas de estudos, realizada por especialistas do Instituto de Pesquisa de Ontário, no Canadá, concluiu que nem os apreciadores do vinho nem os da cerveja tendem a engordar a curto prazo.

Os autores notaram, no entanto, que a pesquisa mais longa durou apenas dez semanas. Ou seja, elas podem ter deixado de registrar uma pequena alteração de peso – até mesmo 1 quilo ganho nesse período pode significar um acúmulo radical de 25 quilos em um período de cinco anos.

Conclusão: As diferenças são pequenas, mas o vinho sai em ligeira vantagem ao engordar um pouco menos.

Apesar de seus esforços, cientistas ainda precisam entender melhor o mais incrível inimigo de quem bebe: a ressaca. Ainda não compreendemos totalmente as suas causas.

A desidratação parece ser um fator importante (o álcool faz com que eliminemos mais líquidos do que ingerimos). Mas o problema também pode ser provocado por subprodutos da fermentação.

Chamadas de congêneres, essas moléculas orgânicas dão a cada uma das bebidas seu sabor e aroma únicos, mas também podem ser tóxicos para o organismo, resultando na sensação de cabeça latejando e nos enjoos que normalmente sucedem uma noite de excessos.
A crença geral é de que as bebidas mais escuras são as que contêm mais congêneres. Mas na realidade, as evidências disso ainda são duvidosas. Apesar de alguns destilados escuros, como o bourbon, produzirem uma ressaca mais intensa do que a vodca, por exemplo, os diferentes tipos de cerveja e de vinho não parecem atuar de maneira significativamente distinta, de acordo com pesquisa da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston.

Sempre ouvimos falar que uma taça de vinho por dia ajuda a “rejuvenescer” o corpo, reduzindo o risco de doenças cardíacas, pressão alta e diabetes. Esses benefícios viriam dos chamados polifenóis (encontrados principalmente no vinho tinto), que aliviam inflamações e combatem os radicais livres.

Já a cerveja nunca está muito presente nesses boletins de saúde. Mas um estudo da Universidade de Barcelona, na Espanha, indica que a bebida também contém uma dose razoável de polifenóis e parece oferecer certos benefícios, comparáveis aos do vinho branco (mas menos que o tinto).

Obviamente, nenhum deles dá sinal verde a excessos.

Conclusão: O vinho tinto ganha de longe, mas a cerveja pode ser melhor do que outras bebidas alcoólicas.

Veredicto final: Quando se trata de benefícios para a saúde, o vinho se mostra um melhor “remédio”. No entanto, fãs da cerveja podem ao menos dizer que sua bebida favorita tem uma história mais ilustre. Alguns antropólogos sugeriram recentemente que nosso apreço pela cerveja pode ter dado origem à atividade agrícola e, por isso, à própria civilização. Nada mal para se pensar da próxima vez que se sentar em um bar com amigos.

*Da BBC Earth

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