APA do Pouso Alto: acordo entre ruralistas e ambientalistas define uso

Gabriela Lima*

No mês destinado à celebração do Cerrado, a região da Chapara dos Veadeiros ganha uma definição importante. Ambientalistas e agropecuaristas entraram em acordo e aprovaram nesta semana o plano de manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pouso Alto, a maior área remanescente do bioma em Goiás. A homologação do documento técnico que define as atividades permitidas na área protegida era alvo de disputa entre os dois setores há quase um ano.

“É uma conquista. Quando a gente começou, em novembro do ano passado, o plano estava muito aberto, com tudo liberado. O conselho era dominado pelo pessoal do agronegócio. Agora, conseguimos que eles entendam a importâncias da biodiversidade”, comemorou o presidente da Fundação Mais Cerrado, Bruno Mello.

Para o presidente do Sindicato Rural de Alto Paraíso e vice-presidente da Federação de Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), Leonardo Ribeiro, também comemorou o desfecho, mas ressaltou que o plano de manejo não atendeu plenamente nenhum dos dois setores. “Todos tivemos que fazer concessões. Mas precisávamos desse documento, que põe fim há 14 anos de indefinição.”

Com 872 mil hectares, a APA abrange seis municípios do Nordeste goiano: Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante, Teresina de Goiás, Colinas do Sul, São João d’Aliança e Nova Roma. Também abriga o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e a Serra do Pouso Alto, o ponto mais elevado do Planalto Central, com 1.676 metros de altitude.

Polêmica

Uma APA é uma unidade de uso sustentável, onde são permitidas atividades produtivas de menor impacto ambiental. A proposta de plano de manejo inicial gerou conflito com   ambientalistas por permitir no local a pulverização aérea de defensivos agrícolas, mineração e instalação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) em grande par- te da APA.

Um movimento contra a aprovação da proposta de liberação de atividades consideradas nocivas ao meio ambiente deu origem à Fundação Mais Cerrado, que movimentou, inclusive com protestos, as audiências públicas realizadas nas seis cidades envolvidas. Também fez diversas ações e debates em Brasília e Goiânia.

Na terça-feira (15/09), o Conselho Consultivo da APA do Pouso Alto, responsável pela avaliação da proposta, aprovou um documento final. A reunião contou com a presença da Superintendente Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Jacqueline Vieira, e deverá ser apresenta- da na tarde de hoje ao secretário estadual das Cidades e Meio Ambiente, Vilmar Rocha.

Uma das principais mudanças apresentadas no plano de manejo transforma a área de amortecimento do Parque Nacional em zona de conservação da vida silvestre. O objetivo é proteger as nascentes e mananciais que compõem a bacia do Rio Tocantinzinho. Nela não deverá ser permiti- da a instalação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). As PCHs e a pulverização aérea serão permitidas apenas na zona de uso intensivo. Essa área está situada na porção sul de Alto Paraíso e em São João da Aliança, onde a produção agrícola já está estabelecida.

Alguns assuntos polêmicos como agrotóxicos, transgênicos, mineração e conversão de pastagens para lavoura não tiveram consenso. Esses temas serão regulamentados pelo Conselho a partir da criação de grupos de trabalho (GTs), a serem constituídos com a participação da comunidade científica e acadêmica.

*Gabriela Lima é repórter d’O POPULAR.

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