EFEITOS DO CRACK – Basta fazer uso uma única vez para se tornar dependente

APESAR DE MUITO CRITICADAS POR PARTE CONSERVADORA DA SOCIEDADE BRASILEIRA, AS NOVELAS DA REDE GLOBO TEM LEVADO IMPORTANTES TEMAS PARA O DEBATE DA SOCIEDADE. EM VERDADES SECRETAS, QUE TEVE SEU FINAL NO DIA 25, A PERSONAGEM DE GRAZI MASSAFERA DEFINHA PELO USO DO CRACK. PSIQUIATRA EXPLICA QUE USUÁRIO PODE FICAR DEPENDENTE DO CRACK LOGO NO PRIMEIRO USO E RELATA COMO ACONTECE A OVERDOSE

A personagem Larissa, representada por Grazi Massafera na novela “Verdades Secretas”, que teve seu capítulo final exibido na nesta sexta-feira (25), ganhou admiração do público. No papel de uma viciada em crack, a trama mostra a degradação física e emocional de Larissa, que vai definhando ao longo da trama. O crack é uma das drogas mais viciantes existentes, e, para a maioria das pessoas, basta fazer uso uma única vez para se tornar dependente. A recuperação, depois, é dolorida.

Na maioria das vezes o crack já causa dependência no primeiro uso.

As drogas, segundo o psiquiatra Isidoro Cobra, da Clínica Maia, causam grandes prejuízos físicos, emocionais e sociais. “O usuário passa a ter comportamentos desregrados e não consegue mais seguir normas sociais, descumprindo responsabilidades, se desentendendo com a família e também tem uma maior dificuldade em tolerar frustrações. Há um descontrole emocional”, conta ele.

Cobra diz que pode acontecer episódios de ansiedade, depressão, brigas e agressões. “Adultério acontece frequentemente, porque o senso crítico fica comprometido. Muitos se prostituem para conseguir a droga, e se submetem à condições degradantes, sem falar no lado financeiro, quando o salário fica comprometido e até levam objetos da casa para pagar a droga”.

Como as drogas causam problemas físicos, o especialista explica que o usuário dorme mal, se alimenta mal e fica indisposto no trabalho. “Passa a ter queda de produtividade e fica desmotivado, além de aumentar o risco de criar acidentes no trabalho. Há também uma insatisfação pessoal e profissional, bem como atrasos, faltas e saídas do trabalho”, alerta. O médico diz que, se a dependência não for tratada, o usuário passa a ser discriminado socialmente e só tem um relacionamento normal com pessoas que estão na mesma condição.

As drogas podem causar doenças cardiovasculares, porque são semelhantes a substâncias usadas para acelerar o coração e pulmão, diz o psiquiatra. Além disso, há um risco aumentado de contrair HIV, hepatites, DST e sepse.

Além disso, o médico explica que o uso de drogas psicoestimulantes depois dos 40 anos aproxima a demência. Enquanto ela só de- veria acontecer em uma ida- de avançada, ela acontece ainda na meia idade.

Como acontece a overdose

Na novela da Rede Globo, o personagem de João Vitor da Silva, Bruno, sofre uma overdose por uso de cocaína. O psiquiatra conta que não há uma dose exata que pode causar a overdose. “Não existe um limite certo, pode ser diferente para cada usuário”, diz.

Ele conta que as substâncias das drogas, por serem parecidas quimicamente com aquelas produzidas naturalmente no interior do cérebro, uma dose além da que o corpo já produz (a endorfina, por exemplo), pode causar uma pane no organismo. “A cocaína é parecida com a endorfina, com a dopamina e outros neurotransmissores. Esses neurotransmissores atuam acelerando o coração”, conta.

O resultado causa sintomas como taquicardia, sudorese, fraqueza muscular, principalmente nas pernas, náuseas, vômitos e falta de ar. “Convém correr para o pronto-socorro”, alerta Cobra. A overdose pode causar uma falência de órgãos, levando à morte.


Entenda mais sobre os efeitos de cada droga:

»Crack: droga devastadora que a personagem de Grazi Massafera usa na novela, o crack é uma mistura de cocaína com outras substâncias que a torna mais barata. “Ele provoca o aumento da dopamina e outras substâncias no interior do cérebro. Essas substâncias atuam no centro de recompensa cerebral, dando um bem-estar imediato, quase que uma euforia. Além disso, tem um leve efeito ansiolítico e antidepressivo. Depois que passa, a pessoa tem vontade de usar de novo”, diz o psiquiatra.

O médico explica que a dependência depende da sensibilidade e da personalidade da pessoa. “Na maioria das vezes, já no primeiro uso se torna dependente. Lamentavelmente, algumas pessoas tendem a experimentar achando que conseguem parar. As substâncias misturadas no crack, principalmente o bicarbonato, torna a droga mais solúvel e faz com que ela, fumada, vá direto para o pulmão.”

Dali, cai nos alvéolos pulmonares, vai para corrente sanguínea e imediatamente corre para o cérebro, causando a sensação euforizante e, depois, destruidora. “A duração do efeito depende muito, mas dura de 15 a 20 minutos”, diz.

»Oxi: “parente” do crack, é mais forte e carrega até querosene na composição. “Ele é mais barato e parece que está chegando no Brasil. A rota de tráfico parece ainda não estar estabelecida”, diz Cobra. “É terrível. A fumaça de queima é escura, enquanto a do crack é clara e cinzenta. Além dos efeitos psíquicos, os orgânicos são de intoxicação do fígado. É mais grave”, alerta.

»Cocaína: o psiquiatra conta que a cocaína age pelo mesmo mecanismo do crack. “Demora um pouco mais para agir porque ela não tem bicarbonato de sódio”, diz. Também devastadora e causadora de dependência, a cocaína é estimulante e pode causar parada cardíaca no usuário.

»Maconha: tida popularmente como “mais leve”, a maior preocupação dos psiquiatras é o surgimento da esquizofrenia desencadeada pelo uso da maconha. “Algumas pessoas nascem com predisposição a desenvolver esquizofrenia. É genético e está no DNA. As substâncias contidas na maconha podem desencadear a esquizofrenia”, alerta o médico.

Atualmente ainda não há um exame que detecte quem tem o gene da esquizofrenia. “Se essas pessoas que têm predisposição não forem expostas a essas substâncias (da maconha), podem ficar sem manifestar a doença”, diz o médico. “A legalização é um risco porque vai aumentar os doentes. E não dá para apenas observar casos de esquizofrenia na família, pois os casos podem ter acontecido até seis gerações antes, e o gene está escondido ali.”

»Ecstasy: Cobra conta que o ecstasy distorce a percepção. “Tudo fica mais intenso, os sons, as cores. É bastante semelhante aos antidepressivos”, diz o médico. E, claro, também pode viciar.

»LSD: O ácido lisérgico distorce a percepção. “O potencial para dependência química é mais baixo do que o crack, mas pode acontecer”, diz o médico. “O maior problema é que, depois de utilizado, a pessoa pode, semanas depois, ter uma nova ‘viagem’ de sintomas mesmo”, conta Cobra. Isso acontece, segundo ele, porque um pouco da substância ainda permanece em alguns dos neurorreceptores do cérebro. “Ela pode ficar ali quietinha, e o organismo também se defende, como se fosse uma infecção. Mas qualquer hora pode voltar à circulação e provocar os sintomas.”


 

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