Bolsa Universitária: oportunidade para grandes realizações
Por Gabriela Louredo
Juliana da Silva Leal Lima, de 32 anos, sente um gostinho de vitória ao olhar para trás. Ela enfrentou uma série de dificuldades até conseguir se formar no tão sonhado curso de Psicologia, há quase dez anos. Foi babá aos 12 anos e começou a trabalhar aos 16 como balconista de supermercado para ajudar a família em casa e também para lutar pela própria independência. “O fogão e o micro-ondas da minha mãe fui eu que dei”, não esconde o orgulho.
Assim que terminou o ensino médio, mesmo com o braço direito quebrado, ela fez a prova do vestibular e foi aprovada. Sem o dinheiro da matrícula, uma amiga fez o empréstimo. Naquela época, no estágio, ela recebia R$ 250 de bolsa e R$ 2,50 para o almoço. Cursar uma faculdade parecia algo impossível porque a família também não tinha condições de ajudá-la. A primeira mensalidade custava mais de R$ 700, mas Juliana não desistiu.
“O único recurso para estudar era conseguir a Bolsa Universitária“, diz. E ela foi contemplada pelo programa. Cursar a faculdade e continuar trabalhando foi um desafio. Antes mesmo de se formar ela já era responsável pelo recrutamento e seleção de uma grande empresa. Conciliava o trabalho em dois turnos com a faculdade e chegava em casa de madrugada.
“O salário não dava pra pagar a faculdade toda (a bolsa era parcial) e aí a minha mãe fazia pamonha pra gente vender e complementar e a cada seis meses ainda tinha que pagar a matrícula. No segundo ano foi ficando mais caro porque a cada seis meses tinha o reajuste. Quando chegava no fim do semestre, eu pagava matrícula e parcelava o semestre que eu já tinha estudado”, conta. “Era carona com colegas, não tinha lanche na hora do intervalo, foi com muita luta e dificuldade mas sou muito grata a Deus e pelo auxílio que eu tive da Bolsa. Senão, realmente não seria possível”, constata.
Hoje ela atende pacientes em uma clínica e também atua na área organizacional prestando consultoria para empresas. Na última que trabalhou estruturou o departamento de Recursos Humanos no cargo de gerente. E ainda dedica um tempo para atender voluntariamente as pessoas que não podem pagar pelas sessões. “Atendo dois dias na clínica os outros dias faço recrutamento e seleção. Eu tenho uma formação em coaching e nunca deixo de atender ninguém que me procura independente do valor que a pessoa possa ou não pagar. Sempre tive isso comigo, que preciso fazer algo ao próximo”, revela.
O sonho da magistratura
Rosângela Maria da Silva. Guarde esse nome. Daqui uns anos ela poderá ser uma representante da Justiça, como almeja. Para alcançar o sonho, vive cercada de livros jurídicos e enche a boca para dizer que foi aprovada no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o que lhe credencia a exercer a advocacia. Ela se formou no fim do ano passado e, assim como Juliana, lembra também dos percalços no meio do caminho. O ingresso na faculdade particular, em 2010, foi graças à ajuda de amigos que deram uma mãozinha. Logo depois, um duro golpe. O pai morreu de infarto fulminante. “Eu não tinha condições. Era ele que ajudava muito no sustento de casa então as coisas pioraram bastante”, relata.
No 3º período da faculdade, uma ótima notícia: saiu o benefício da Bolsa. Rosângela, de 36 anos, estudava e trabalhava como recepcionista para pagar parte das mensalidades. Ela cuida sozinha da filha, o pai da menina morreu – e ainda enfrentou um período de depressão. “Tive que fazer terapia e foi uma fase muito difícil em que eu trabalhava praticamente para pagar o curso. Mas foi graças à Bolsa Universitária que eu consegui ter um curso superior. Era recepcionista. A Bolsa Universitária representa um sonho realizado de ter uma profissão. Se hoje sou uma advogada, em início de carreira claro, é graças à Bolsa da OVG. Não teria condições ainda mais de arcar com o curso de Direito, que é tão caro. Pretendo fazer uma pós-graduação, mas meu foco é ser juíza”, confessa.
Dedicação
Aluno do 6º período de Administração de Empresas, Gustavo Rodrigues Paniago, de 20 anos, pode ser considerado precoce. Começou a trabalhar cedo, aos 15, para ajudar em casa e ter a própria renda. Ele está trabalhando como vendedor em uma loja de informática e ainda está fazendo planos para o futuro. “Estou analisando ainda. Quem sabe ter o meu próprio negócio, fazer concurso público ou ser um administrador de uma grande empresa no Estado…”, reflete.
Gustavo também recebe a Bolsa Universitária para custear os estudos, que cobrem 70% da mensalidade ante os 60% iniciais. É que por ser dedicado e ter boas notas, o estudante conseguiu o incremento que pode chegar a até 80%. “Moro com minha mãe e minha irmã e eu ajudo nas despesas de casa. E só é possível fazer a faculdade por causa da Bolsa Universitária. Ela vai me ajudar a concluir meu objetivo de vida, o sonho de estar graduado e seguir a profissão que eu quero”, comenta.
Programa já beneficiou 158 mil
De acordo com a diretora do Programa Bolsa Universitária, Kelen Belucci, são esperadas mais de 20 mil inscrições de candidatos para o processo seletivo. O prazo vai até 2 de outubro. Serão, ao todo, cinco mil novas bolsas, sendo quatro mil parciais e mil integrais. Os pré- requisitos são: morar em Goiás, ter uma renda bruta familiar de até três salários mínimos para a bolsa integral e seis salários mínimos para a parcial, além de apenas um imóvel no nome da família. O candidato não pode ter graduação superior. A instituição de ensino também deve ser situada em Goiás. O resultado será divulgado em dezembro e o benefício será efetivado a partir de fevereiro de 2016.
Kelen explica que a seleção é dividida em três etapas. “A primeira é a inscrição pelo site da OVG. Esse aluno tem que ficar muito atento com as informações que ele vai inserir no formulário de inscrição que pode ser corrigido durante o período e no dia 8 de outubro teremos a convocação para a entrevista, quando vamos chamar 10 mil candidatos com menor renda para conferir as informações que eles passaram no formulário. Eles vão passar por uma entrevista que no interior será nas respectivas faculdades e na Região Metropolitana de Goiânia, na sede da OVG. Eles devem trazer os documentos para verificarmos a veracidade das informações. Aqueles que forem classificados nesta etapa vão receber a visita da assistente social para que sejam filtrados os cinco mil contemplados”, detalha. ”Recomendamos que o candidato verifique no edital e também os critérios de desempate”, orienta. As inscrições devem ser feitas pelo site da OVG.
Desde a criação, em 1999, o programa da Organização das Voluntárias de Goiás conseguiu beneficiar 158 mil estudantes de baixa renda no Estado de Goiás. “Isso reflete também numa melhor empregabilidade desses jovens quando eles não só terminam a sua graduação, mas também quando eles ingressam na faculdade.
Automaticamente a sua autoestima melhora, o seu networking (rede de relacionamentos) também melhora, as oportunidades de emprego bem como de convivência social criam uma expectativa mais positiva na sua vida. A gente observa que muitos conseguem ingressar na faculdade, mas devido aos preços das mensalidades, eles não conseguem concluir. Então, com a Bolsa Universitária estudantes de uma classe mais baixa estão conseguindo ter acesso ao ensino superior e isso é fundamental para o País, principalmente neste cenário que estamos vivendo hoje de crise econômica”, avalia.
Progresso salarial
Os contemplados com a Bolsa Universitária também devem prestar contrapartida para o Estado, cumprindo uma determinada carga horária. Entre as atividades está a doação de sangue, por exemplo. Atualmente, 21 mil estudantes estão recebendo o benefício e 70 instituições de ensino superior estão credenciadas junto ao programa.
Nesses 16 anos, segundo Kelen, é notório o progresso dos estudantes que conquistam o mercado de trabalho. “A gente observa que, de maneira geral, eles conseguem sair de uma renda de nenhum salário mínimo para pelo menos seis salários mínimos, o que é sucesso para uma pessoa que não tinha nenhuma perspectiva e além disso temos os casos que se destacam com pessoas com uma renda de até 20 salários mínimos, mas no aspecto geral todos têm um acréscimo salarial importante”, destaca.