Semana de Trânsito: mortes em Goiás acima do preconizado pela ONU
“Hoje os acidentes de trânsito se transformaram em uma epidemia que destrói vidas”. A frase é do professor Divino Gomes, que ainda sofre sequelas de um acidente do qual foi vítima há uma década. Mesmo sofrendo no corpo os resultados da violência no trânsito, Divino pode se considerar um homem de sorte, pois não faz parte do grupo de mais de duas mil pessoas que morrem, anualmente, no trânsito em Goiás. Esses acidentes são o segundo maior motivo de mortes por causas externas entre os goianos.
Os números alarmantes apontam para a necessidade de sensibilizar a população para o tema. Por isso, foi criada a Semana Nacional de Trânsito, lembrada todos os anos entre os dias 18 e 25 de setembro. A abertura das atividades aconteceu na sexta-feira, com o Workshop Mobilidade Urbana e Trânsito e o 3º Seminário de Trânsito e Saúde Pública, no Senac Cora Coralina, Setor Leste Vila Nova, em Goiânia.
Goiás mostra índices de mortalidade acima do nível preconizado pela ONU
“Os acidentes de trânsito representam perda da força produtiva do País, aposentadorias precoces e sobrecargas nos serviços de Saúde, (exames, atendimento assistencial, reabilitação, e outros), sem falar na súbita ausência de um provedor de família que pode deixar companheiros, companheiras e filhos desamparados”, avalia a coordenadora de Vigilância de Violências e Acidentes da SES, Maria de Fátima.
Levantamento realizado pelo Observatório de Mobilidade e Saúde aponta que Goiás mostra índices sete vezes acima do nível de tolerância preconizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) quanto à taxa de mortalidade por 10 mil veículos e também apresenta patamares maiores do que a média brasileira. Em Goiás, são 29,9 mortes por 100 mil habitantes ou 7,4 mortes por 10 mil veículos, enquanto que no Brasil os dados são de 20,1 mortes para cada 100 mil ou 6,2 óbitos para cada 10 mil veículos. Essas taxas de mortalidade do Estado de Goiás, bem como as do Brasil, estão muito acima do preconizado como tolerável pela ONU que são de 11,1 para 100 mil habitantes.
Sequelas crônicas
“Além das mortes, existem também vários outros aspectos negativos, como por exemplo vítimas não fatais que tiveram alguma morbidade e/ou sequela crônica para sua saúde, precisando reabilitação para toda a vida”, destaca Maria de Fátima. É o caso Divino Gomes, citado no início da reportagem.
Retrato do trauma causado por um acidente de trânsito, o professor sofreu um grave acidente há dez anos e ficou com limitações físicas e sequelas crônicas. Ele estava em uma motocicleta quando foi atingindo por um carro em alta velocidade e com o motorista embriagado, no município goiano de Aragarças. Fraturou a coluna e vários ossos da perna, chegando a correr o risco de ter o membro amputado.“Foi um período de muita dor e sofrimento. Fiquei vários dias internado, realizei alguns procedimentos cirúrgicos, mas sem nenhum sucesso. Eu não tinha condição de caminhar alguns metros, pois já sentia dores insuportáveis”, conta Divino, que hoje tem 65 anos.
O problema só foi resolvido com uma cirurgia no Hospital de Urgências Henrique Santillo (Huana), em Anápolis, depois de quatro anos do acidente. Nesse período deixou de trabalhar e de fazer outras atividades diárias. Atualmente ele consegue trabalhar e estudar (está fazendo mestrado em educação), mas as limitações físicas são crônicas. “Fiquei com uma perna menor que a outra, por isso tenho muita dificuldade de caminhar. Correr, nem pensar”, brinca.
Segundo dados do DataSUS, foram gastos em Goiás, somente em 2014, R$ 9,8 milhões com internações hospitalares decorrentes de acidentes de trânsito. Um acidente com vítima fatal custa R$ 148 mil para o Estado, com feridos R$ 28 mil e sem vítimas R$ 3 mil.
Observatório de Mobilidade e Saúde Humanas
Devido ao impacto social dos acidentes, gerando vítimas fatais e incapacitadas, principalmente jovens, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou de 2010 a 2020 a Década da Segurança Viária. Refletindo essa ação, foi criado pelo Governo do Estado, em 2012, o Observatório de Mobilidade e Saúde Humanas do Estado de Goiás. O objetivo do projeto é criar uma rede estadual para reduzir a mortalidade nos acidentes de trânsito. Vinte e um municípios goianos, que concentram 74% dos acidentes no Estado, receberam o projeto. Está sendo feito um mapeamento de risco destes municípios a partir de cruzamento de banco de dados. A ação foi idealizada em parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos.